Queridinha dos turistas

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Francisco Lacerda

O holandês Hubrecht Duijker, influente jornalista sobre o assunto, disse certa vez que “a vida é curta demais para se beber maus vinhos”. Então, que tal curtir o friozinho – ou friozão – acompanhado dessa excelente bebida em ambiente acolhedor, receptivo e cheio de calor humano? Eis Bento Gonçalves, berço das festas alusivas à uva e à bebida.

As vinícolas, desde as menores até as mais tradicionais, abrem as portas ao turista, que pode conhecer o modo de produção, degustar excelentes vinhos, espumantes e sucos feitos com uvas colhidas no vale, refeições embaixo dos parreirais, enfim, não faltam motivos para se deliciar na cidade. Há vinhos de todo tipo de uva, com diversas espécies trazidas de diferentes países, como a malbec, da Argentina, a tannat, do Uruguai, cabernet sauvignon, da França, moscatel, da Grécia, Isabel, dos Estados Unidos, prosecco, da Itália, e muitas outras, cerca de 500, mas todas cultivadas no município da Serra Gaúcha.

Para começar o dia, visite a Salton, Aurora, Dal Pizzol ou Valduga. Ou as quatro. Na Salton, a maior do Brasil, o turista pode fazer a degustação e harmonização de vinhos, queijos e chocolates em experiência intrigante na Sala Secreta, que guarda as safras dos principais rótulos em mesa de mosaico, a oito metros abaixo da superfície e passear por labirintos místicos guiados por anjos nas paredes, com luzes coloridas e ao som de música clássica. Na programação também dá para conhecer os vinhedos e se inteirar da produção local (R$ 15 o passeio, com R$ 10 revertidos em compras na loja). O enólogo José Augusto Fasolo ensina a casar as características de um queijo branco mole (brie, camember, coulommier) com vinho branco Virtude chardonnay (2013), que elimina o sabor de gordura. Ou queijos duros (parmesão, pecorino, grana padano) com vinho tinto cabernet frank com malbec da linha Intenso (2014).

Se a vontade é por sabores adocicados, experimente chocolate amargo com vinho licoroso Intenso 15% de álcool. A vinícola oferece alguns dos vinhos consumidos no Vaticano. Na visitação, é possível visualizar os cálices usados pelos papas Bento XVI e Francisco, cedidos gentilmente à vinícola, segundo o enólogo. Difícil descrever a sensação!

Na Dal Pizzol, impossível não visitar a enoteca, os parreirais, ecomuseu da cultura do vinho e a sala de degustação, onde também estão expostos dezenas de rótulos do Brasil e do mundo. Experiência sem igual é a degustação às cegas, quando o degustador tem os olhos vendados, os sentidos são explorados e a emoção aflora. Se insistir, pode fazer com que Seu Antônio Dal Pizzol abra uma das garrafas guardadas em sua enoteca. Este jornalista experimentou um malbec 1991. Para acompanhar, batata recheada com queijo cheddar e o ‘xixo’, espeto com carne nobre, bacon, queijo, pimentão e cebola, assado na churrasqueira pelo chef Avelino. A degustação é gratuita e o pacote tem custo de R$ 110 por pessoa.

Outra grande vinícola, a Aurora foi fundada por 16 famílias de imigrantes italianos, mas atualmente é cooperativa com 1.100 famílias, que colhem 18 milhões de quilos de uva por ano e produzem cerca de 50 milhões de litros de vinho nos 365 dias. Tem 220 rótulos diferentes, entre eles o Sangue de Boi, Marcus James e Saint Germain, e exporta principalmente para Bélgica, Estados Unidos e Japão. Seus parreirais estão no distrito de Pinto Bandeira, gelado, a 750 metros de altitude. Mas a paisagem é excepcional.

Na Casa Valduga é possível fazer a degustação de algumas das mais de 700 mil garrafas de vinhos estocadas de seis meses a 17 anos. Com 141 anos de existência, a casa possui a maior adega de espumantes da América Latina e produz 2 milhões de garrafas de bebidas por ano, 50% de espumantes. Oferece jantares harmonizados. Também pode-se conhecer o processo de criação de vinhos e espumantes e fazer curso de quatro dias (grupos de 12 a 14 pessoas) sobre a harmonização com queijos, carnes e doces (tour pela vinícola sai a R$ 40 por pessoa – curso, das 9h30 às 13h30, custa R$ 80 por pessoa). Ao lado o turista pode saborear deliciosa refeição em seu restaurante e se instalar em pousada com vista para os parreirais, a 670 metros de altitude.

Mas se a vontade é conhecer vinícolas menores, mas não menos aconchegantes e com variedade de atividades, boa pedida é a Cainelli. Lá, o café da manhã é com pratos preparados por senhoras da comunidade e tem a esfrêgola, massa de biscoito saborosíssima, além de bolos, tortas e polenta na chapa. Aprecia-se também a queima da grimpa (galho do pinheiro) para o ‘sapeco’ do pinhão, o lanche Merendim, degustação de vinhos, entre eles dois premiados (Origem marselan e espumante moscatel) e passear de tuc-tuc (veículo agrícola) por uma hora e meia, tudo isso por R$ 75.

Quando apertar a fome após visitas a outros pontos turísticos da cidade, nada melhor do que almoçar na Vinícola Cristofoli sobre edredom embaixo das parreiras. É isso mesmo! É experiência que deve ser feita pelo menos uma vez na vida. Deliciosa salada de folhas com molho de banana, vinagrete, ervas finas e azeite, seguida de massa com molho de salame fresco, galinha em totil e polenta mole, tudo isso acompanhado por música italiana, sons de pássaros e harmonizado com dois vinhos, que podem ser branco moscatel aromático ou espumante rosê Brut sangiovese (R$ 80 por pessoas para grupo de três a seis ou R$ 190 para o casal). A sobremesa de sagu com pedaços de morango fecha de forma brilhante a refeição.

Mas se quiser bebida mais quente, Bento também tem. Com capacidade de armazenar entre 15 mil e 35 mil barris, com 200 litros cada e produção de 5 milhões de litros por ano, a Union Destillery lança uísque puro malte e abrirá as portas para o turismo temático em 2016. “Operamos dentro de padrões competitivos, assegurando o produto, reduzindo os riscos e preservando a beleza peculiar do local”, destaca o diretor executivo Luciano Borsato.

Seja qual for seu gosto, e para todos os bolsos, ‘inebriantes’ deleites gastronômicos e atividades turísticas o aguardam após o Pórtico Pipa. 




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