Bento, frio e quente ao mesmo tempo

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Francisco Lacerda

Um dos lugares mais belos do Brasil, Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, é fria, com sensações térmicas bem abaixo do que mostram os termômetros, mas ao mesmo tempo é aconchegante, hospitaleira, romântica, inspiradora, enfim, alegre o ano todo, local de calor humano que vale a pena a visita. Com pouco de sorte, o sol aparece, a natureza se combina e torna o passeio ainda mais especial, mas não menos gelado, com as temperaturas amenas conferindo ainda mais charme e beleza à cidade.

Localizada no Vale dos Vinhedos, é tradicionalmente conhecida como cidade turística, moveleira e, claro, umas das principais regiões vinícolas do Brasil, a capital brasileira do vinho. São centenas delas, espalhadas pelos quatro cantos de Bento, com uvas de várias espécies trazidas de diversos países. E a fruta movimenta a região nas quatro estações, pois no verão é quando acontece a vindima (colheita da fruta) e seu cheiro invade a região; no outono, a mudança das cores torna a cidade ainda mais charmosa; na primavera, a brotação dos parreirais anuncia a farta colheita; e, no inverno, elaboração e hora de harmonizar os diversos sabores da bebida de Baco com a maravilhosa culinária de Bento, fortemente influenciada pela gastronomia italiana.

Vá com tempo, porque Bento oferece roteiros imperdíveis e os prazeres das baixas temperaturas. Na Rota Rural Encantos de Eulália, o turista vai se maravilhar com o charme e as belezas naturais, saborear excelentes vinhos, se deliciar com a comida típica italiana e se aventurar no rapel, tirolesa e arvorismo no Parque Gasper, instalado em torno de imensa parede rochosa, o Paredão de Eulália, de onde, do alto, descortina-se cachoeira de 135 metros. A visão do vale aos seus pés é fantástica.

Em outra rota, a Caminhos de Pedra, há o resgate do passado ao longo de 12 quilômetros, onde os descendentes de italianos recebem os visitantes em cantinas coloniais em centenárias casas de pedra, nas quais é possível desde saborear deliciosas massas caseiras e doces até acompanhar bem de perto a criação de ovelhas e degustar os produtos feitos a partir do leite desse animal, como queijos. Boa pedida é a Casa do Tomate, da família Lerin, que produz e comercializa derivados do fruto. Nela, os mais velhos podem relembrar da antiga gasosa, bebida servida pelos pretendentes às moçoilas para conquistá-las. Se fosse aceita por elas, era sinal de namoro, mas, se não, significava ‘o fora’ ao rapaz. E, ainda, se a moça bebesse e não casasse, ficava ‘mal falada’.

Rotas culturais, sabores, sons e histórias peculiares

Outro roteiro para ficar na memória é a Rota Cantinas Históricas, a 11 quilômetros do Centro de Bento Gonçalves. Como não poderia deixar de ser, nela o visitante sente no ar os aromas, ouve os sons da localidade, conhece a cultura das videiras, experimenta vinhos, espumantes e sucos e, claro, a gastronomia italiana, esta originária de Vêneto e Trento. Tudo preparado com delicadeza. Além de vislumbrar paisagem com vista indescritível de vales e montanhas recobertos por mata nativa e vinhedos margeando o Rio das Antas. 

Em outra rota também encantadora, a Vale do Rio das Antas, a exuberância e extrema beleza parecem pintura, com a harmonia entre o vale e a serra, formando um dos mais belos cenários de Bento. O rio de mesmo nome faz curva na montanha, formando gigantesca ‘ferradura’. Admirável aproximação do homem com a natureza. Ao longo do percurso, o visitante também encontra cantinas com produtos peculiares e atendimento familiar, que expõe diferentes aspectos da imigração italiana. 

Tão bela quanto às outras, a Rota Vale dos Vinhedos tem clima europeu e revela surpresas nas quatro estações. Acompanhar a colheita da uva, a elaboração dos vinhos em mais de 30 vinícolas e apreciar as delícias da fruta diretamente das parreiras são atividades imperdíveis. 

Como foram sempre muito religiosos e com grande devoção aos santos, os imigrantes construíam primeiro uma capela ou igreja a cada nova comunidade. E no vale existem 20 delas, preservadas até hoje, dentre elas a Capela Nossa Senhora das Neves, que, reza a lenda, devido à seca e à consequente falta de água, foi erguida com argamassa preparada com vinho. É onde está instalada a Casa do Filó, na qual é possível apreciar acervo de peças utilizadas na colheita da uva e saber, por meio de painéis nas paredes, as deliciosas histórias desde o início da produção, a caminhada da fé e instalação dos imigrantes italianos contadas por Seu Moysés Michelon, com arrastado sotaque italiano. 

Com certeza, passeios bastante agradáveis e inesquecíveis, de onde se podem levar, além dos vinhos, excelentes lembranças e o gostinho de querer retornar, pois, como diz o prefeito de Bento, Guilherme Pesin (PP), “que saiam daqui com vontade de voltar, porque para dentro da Pipa Pórtico é alegria e trabalho (para satisfazê-los).” Realmente é de se encantar com as maravilhas da Serra Gaúcha.

O jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo da Prefeitura de Bento Gonçalves. 




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