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Juiz diz que criou identidade de nobre inglês após drama existencial

Juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, do Tribunal de Justiça de São Paulo, se apresentava como descendente da nobreza britânica

21/05/2025 | 08:39
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FOTO: Reprodução


O juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que se apresentava como descendente da nobreza britânica e viveu 45 anos sob a falsa identidade de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, alega ter diagnóstico de TPE (Transtorno de Personalidade Esquizoide).

A defesa juntou o laudo psiquiátrico no processo em que ele responde por uso de documento falso e falsidade ideológica.

O Transtorno de Personalidade Esquizoide compõe o agrupamento dos chamados transtornos excêntricos. É caracterizado por distanciamento e desinteresse generalizado por relacionamentos interpessoais.

Os advogados Alberto Toron e Renato Marques Martins pedem que a Justiça autorize o chamado "incidente de insanidade" - procedimento para verificação, através de pericia médica, da saúde mental do réu. Com isso, ele pode ser declarado inimputável.

Segundo o documento, o magistrado adotou a identidade falsa como uma maneira de "começar uma vida nova" após um "drama existencial". Teria sido uma resposta a um "quadro psicológico complexo, motivado por frustração pessoal". A informação foi divulgada pelo portal g1 e confirmada pelo Estadão/Broadcast.

Ao psiquiatra, o magistrado relatou que, na época, "queria morrer e renascer outra pessoa" e que "tinha vergonha de sua história e de seu nome".

A defesa também pede que o Ministério Público considera um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) - instrumento jurídico em que o réu confessa o crime e se compromete a cumprir uma série de cláusulas, como o pagamento de multa e a prestação de serviços comunitários, para não responder ao processo criminal.

Os advogados negam que o magistrado tenha usado a identidade falsa para cometer crimes ou prejudicar terceiros.

O juiz manteve ativa a identidade brasileira, de Eduardo, que renovava periodicamente. Esse foi o fator determinante para o Ministério Público de São Paulo decidir denunciá-lo.

O processo tramita na 29.ª Vara Criminal da Capital.

Segundo o Ministério Público, Edward Wickfield é na verdade José Eduardo Franco dos Reis, um cidadão de Águas da Prata, no interior de São Paulo, filho de José dos Reis e Vitalina Franco dos Reis.

A persona teria sido assumida pelo magistrado pouco antes da graduação. Ele se formou na prestigiosa Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco. Depois disso, prestou concurso e atuou décadas como juiz sob a identidade falsa.

A fraude foi descoberta em outubro de 2024, quando ele esteve no Poupatempo da Sé para pedir a segunda vida da carteira de identidade. Foram encontrados dois registros diferentes associados às mesmas digitais. A divergência só foi percebida porque os registros do Instituto de Identificação Ricardo Gumblenton Daunt (IIRGD) haviam sido digitalizados.

De acordo com a denúncia do Ministério Público de São Paulo, no dia 19 de setembro de 1980, José Eduardo teria comparecido a um posto de identificação da Polícia Civil e tirado o documento em nome de Edward Wickfield. Para tanto, segundo a Promotoria, apresentou um certificado falso de reservista do Exército, um documento que dizia ser ele servidor do Ministério Público do Trabalho, uma carteira de trabalho e um título de eleitor, todos com o mesmo nome falso. Como na época, as bases de documentos não se comunicavam entre si e os papéis não eram armazenados em sistemas eletrônicos, era fácil, de acordo com o MP, uma falsificação.




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