A casa é sua

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Andréa Ciaffone

Casa de Wendel Ferrari na Flórida conta com piscina e quatro dormitórios. Foto: Divulgação.

Quatro dormitórios, três banheiros, piscina, cozinha completa, garagem para vários carros, jardim, lavanderia, TV que transmite novelas brasileiras, espaço, privacidade e bom custo-benefício. De cara, o mix soa bem mais interessante do que a fórmula tradicional dos hotéis norte-americanos em destinos turísticos: duas camas, um banheiro, frigobar e cafeteira. Foi essa comparação que fez com que o empresário são-bernardense Wendel Ferrari optasse por alugar uma casa nas proximidades da Disney em vez de fechar um pacote de hospedagem em hotel. Mal sabia ele que essa decisão afetaria de forma definitiva sua vida, seu patrimônio, sua empresa e até seu casamento.


“Se a gente brigar, cada um fica em um quarto”, foi a resposta que Ferrari deu, rindo, a Maíra, sua noiva, quando ela perguntou por que optar por um lugar tão grande. Depois de gargalhar, a moça deu seu aval para o projeto. Mesmo com a aprovação, Ferrari sentia um certo friozinho no estômago. “Era minha primeira viagem aos Estados Unidos e nossa lua de mel. Isso sem falar que o sonho da Maíra era ir para a Disney. Eu concordei em ir para agradá-la. Talvez nem tivesse optado por esse destino se não fosse a insistência dela”, confidencia. “Mas, eu estava determinado a otimizar o meu investimento. Resolvemos fazer uma festa de casamento legal e, na hora da lua de mel, eu queria ter o melhor que meu dinheiro pudesse comprar, o que implicava em fuçar para encontrar o melhor negócio”, conta.


Tudo isso ocorreu em 2010, quando o casal já estava junto havia nove anos e tinha um filho de 3. Naquela época, Ferrari vivia dos frutos de uma empresa que havia criado aos 22 anos, a Cadastrando.com, que tinha como foco vender anúncios no Google. “Além de vender o espaço, a gente cuidava da redação do anúncio”, explica. A clientela da empresa era composta por comerciantes e industriais da região e a sede era a própria residência do empresário. “Trabalhar em casa tem vantagens, mas é preciso estabelecer limites. Você começa no horário comercial, tira o intervalo do almoço, e no final da tarde, que seria a hora de desligar o computador, eu sempre dava uma olhadinha e deparava com alguma solicitação de cliente. Para não deixar para o dia seguinte, eu começava a resolver. E quando dava por mim, já era tarde da noite. Nos fins de semana, era a mesma coisa”, conta Ferrari, cujo novo estilo de vida atraiu a curiosidade de muitos. “O maior problema que vivi nesse período era que as pessoas não entendiam o que eu fazia e achavam muito estranho eu prosperar sem sair de casa. Quando apareci de carro novo, foi um falatório só”, recorda o empresário, que tinha faturamento médio de R$ 15 mil mensais. “O meu próprio sogro, que é fiscal de uma empresa de ônibus, achava esquisitíssimo. Foi difícil fazê-lo entender a minha atividade.”


Ferrari conta que “inventou” a Cadastrando.com para se livrar de um emprego em uma imobiliária. “Entrei aos 18 anos e fazia um pouco de tudo: era meio secretário, meio administrador, meio recepcionista. Detestava tudo aquilo. Mas, como sempre gostei de computadores e tenho alma de autodidata, fui pesquisando até entender como os anúncios em ferramentas de busca funcionavam. Quando entendi, percebi que havia um nicho de negócios ali. Saí da imobiliária e comecei a trabalhar de casa. Muita gente achou que era loucura, mas deu certo e até hoje a Cadastrando.com é rentável e paga as contas da casa, o que permite que a gente use o que ganha com o Temporada em Orlando para reinvestir na própria empresa.”

Ferrari sabe que o fascínio exercido pelos personagens da Disney contribuem para alvancar as locações. Foto: André Henriques

DESEJO PARA UMA ESTRELA
A decisão de alugar a casa trouxe de brinde algumas inseguranças. A primeira foi mandar a cópia do cartão de crédito para fechar o aluguel. “Brasileiro desconfia sempre, né?”. Por isso, Ferrari sentiu o maior alívio quando colocou a senha no portão do condomínio e ele se abriu. Quando chegou à porta da casa e a senha funcionou, mais uma vez ele respirou aliviado. Já dentro do imóvel, ficou surpreso de encontrar tudo direitinho, conforme havia sido descrito na hora da locação. E ainda por cima, espaço de sobra. Naquele momento, sentiu-se mais sortudo do que a Cinderela em seu castelo de contos de fada.


“A semana passou voando. Era tanta coisa para ver! Não parávamos um minuto. Era parque da manhã até a noite. No dia de ir embora, notei que tinha superdimensionado a compra que fiz no supermercado no primeiro dia e liguei para a pessoa que administrava a casa para saber o que fazer com os mantimentos. Ela, que era brasileira, me explicou que eu podia deixar que o pessoal da faxina resolveria. Mas isso fez crescer uma familiaridade. Aí, na hora de ir embora, ela me disse: ‘Por que você não compra uma casa aqui?’ Na hora, ri da ideia e respondi: ‘Imagina! Sou de São Bernardo, não sou do tipo que compra casa na Flórida’. Mas acho que aquilo ficou na minha cabeça. Naquela altura, aos 31 anos, o meu patrimônio era de dois automóveis e um sítio no Interior. Morava de aluguel aqui em São Bernardo. Uma casa no Exterior parecia uma tremenda fantasia”, conta Ferrari, que se considera pé no chão na hora de ousar.


Já de volta à vida normal, Ferrari seguiu sua curiosidade natural e se jogou nas pesquisas. Viu que, por causa da crise norte-americana causada justamente pelo estouro da bolha imobiliária, o valor dos imóveis havia caído sensivelmente. Por outro lado, o câmbio não estava ruim. Como negócio era bom, mas parecia muito absurdo ter uma casa de veraneio na Flórida para ser usada umas poucas semanas por ano. Isso só seria viável se ele pudesse alugar o espaço nos períodos ociosos. Mais pesquisa e ele descobriu que em algumas cidades ao redor de Orlando é perfeitamente legal fazer locação de imóveis por curtos períodos, o que resolveria a questão da ociosidade.
Quando Ferrari comunicou à mulher que estava pensando em comprar uma casa em O



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