Vera Cruz volta à ativa em meio a polêmica

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Miriam Gimenes <br> Do Diário do Grande ABC

A Prefeitura de São Bernardo entregou a gestão da Companhia Cinematográfica Vera Cruz para empresa envolvida em irregularidade no interior paulista. O prefeito Luiz Marinho (PT) assinou ontem contrato de cessão dos históricos estúdios de cinema para a Telem SA (Técnicas Eletromecânicas), condenada pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) por acordo firmado com a prefeitura de Paulínia em 2008.

A Telem, que venceu a licitação em São Bernardo para explorar a Vera Cruz por 30 anos, ao se comprometer a investir R$ 156 milhões, integra consórcio que ganhou licitação para construir e operar estúdio de cinema em Paulínia. No Interior, o TCE apontou direcionamento na concorrência e valores sem lastro com a realidade, além da inclusão de museu não previsto no edital.

Por causa disso, o Tribunal de Contas julgou irregular o contrato, no valor de R$ 147,6 milhões. Prefeitura de Paulínia e consórcio recorrem da decisão. Em nota, a Telem SA afirma enxergar a punição como “procedimento normal” e lembra que segue “realizando a gestão operacional dos estúdios”.

Em São Bernardo, a assinatura do contrato põe fim a imbróglio que se arrastava desde setembro, quando a licitação foi aberta. O evento estava originalmente marcado para 29 de abril, mas foi cancelado pelo governo, sob o argumento de “problemas de agenda”.

Durante a solenidade, ontem, foram apresentados superficialmente os planos para o complexo: construção de sete estúdios, centro cultural, salas de pré e pós-produção, estacionamento, teatro, cinema digital, espaço de convivência e o Memorial da Cia. Vera Cruz, destinado a preservar a história da companhia que, em cinco anos, de 1949 a 1954, revolucionou a maneira de fazer cinema no País.

Os responsáveis pela Telem prometem contar os detalhes em evento marcado para 5 de agosto, no Pavilhão da Vera Cruz, às 19h, data que marca o início das obras de revitalização. Nos últimos 61 anos, a Prefeitura fez inúmeras promessas de reativação do complexo, mas nenhuma delas vingou.

Marinho diz acreditar que, a partir de agora, a região está preparada para sustentar a reativação do polo cinematográfico, já que o Grande ABC forma recursos humanos capacitados para a missão.

O petista cita os cursos específicos de cinema oferecidos por CAV (Centro Audiovisual), Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e UFABC (Universidade Federal do ABC). “Não foi uma construção simples. Estamos trabalhando isso desde o mandato anterior. Agora, a responsabilidade é do (setor) privado de colocar (o projeto) de pé.”

Sobre o fato de apenas a Telem participar do certame, o secretário de Cultura, Osvaldo de Oliveira Neto, afirma que outras empresas o procuraram para conhecer o complexo, mas apenas a vencedora se candidatou.

EMOÇÃO

O artista João Nicanor, de São Bernardo, parecia nem acreditar no que seus olhos acabavam de assistir. Ele, um dos integrantes do grupo AVC (Amantes da Vera Cruz), que trabalha para resgatar a história dos estúdios onde funcionou a maior indústria cinematográfica brasileira na década de 1950, nem sonhava mais que o complexo poderia voltar à ativa. “Foram pelo menos cinco tentativas. Participei do projeto Nova Vera Cruz, de 1989, que foi paralisado. Agora digo, com certeza, que a ideia vai sair do papel.” 




Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados