Barba, cabelo e bigode

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Demetrio Damiani, Oscar Brandtneris e Vinícius Castelli

O que será que o intelectual alemão Karl Marx (1818-1833) pensaria se voltasse à vida exatamente agora e visse o mundo habitado por legião de homens cultivadores de barba? Dono de longas madeixas no rosto e homem incansável na luta contra o capitalismo, talvez não usasse roupas xadrezes, no estilo lenhador urbano ­– cabelo em coque e rosto barbado –, tampouco tatuagens e brincos, para não entrar na tendência da ‘moda’ da juventude e das bandas indie. 

Mas o criador de livros como Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã, para citar alguns, foi eleito pelo jornal britânico The Times como dono da barba mais célebre da história universal. O escritor britânico Charles Dickens  (1812-1870) também está na lista dos barbados mais famosos. Outro que faz parte da ilustre relação de nomes é Jesus Cristo, figura que, vale  lembrar, sempre nos foi mostrada como de homem com longa barba. 

Por essa e outras razões, talvez Marx mantivesse nos dias de hoje os pelos acinzentados que tomavam conta de seu rosto. Assim como os vikings, também barbudos, ele habitou a Terra muito antes de os Beatles deixarem as barbas compridas para gravar um de seus trabalhos mais significativos, o disco Abbey Road, em 1969. Foi nesse  mesmo ano que o cantor roqueiro barbudo Joe Cocker ilustrou a fazenda de Max Yasgur, em Nova York, para o Festival de Música e Artes de Woodstock, com plateia tomada por hippies, com seus pelos e a favor da paz, amor e liberdade de expressão. Não dá para deixar de falar dos parceiros da veterana banda de rock norte-americana ZZ Top Billy Gibbons e Dusty Hill, donos de um ‘exemplar’ de causar inveja aos que gostam do adorno facial.

Fato é que, hoje, tanto tempo depois desses ilustres, os homens parecem ter se cansado da pele lisinha no rosto mostrada tantas vezes nos filmes de Hollywood com atores como Marlon Brando e John Wayne e, até mais recentemente, com Leonardo DiCaprio, ou de super-heróis como Batman, Homem de Ferro e Superman. O gosto pela barba voltou. E nós fomos procurar as razões pelas quais esta característica vai e volta na história da humanidade e que agora fez com que uma profissão de barbeiro, que estava quase desaparecendo, voltasse ao mercado com força e cheia de requintes e diferenciais.

Seja no rosto do deus dos mares Netuno ou na pele do imperador Dom Pedro II, a barba sempre foi uma das maiores marcas masculinas. E hoje a vemos com mais frequência, principalmente no rosto dos jovens.  Simbolo de inteligência, auto-honraria ou, até mesmo, artefato de charme, a barba tem sim sua importância histórica. O filósofo e professor universitário Ives Alejandro Muñoz explica que, no Egito Antigo, usava-se o estilo trançado. “E para se ter ideia da importância dela no processo histórico, até mesmo as mulheres são retratadas com uma espécie de barba envolvida em ouro.”

Já no período do Renascimento, na Europa, a moda passou para uma barba mais pontuada, no formato de cavanhaque. Mas nem sempre foi assim. Na Grécia Antiga, por exemplo, o imperador Alexandre, do Império Macedônico, como explica Muñoz, definiu que todos seus soldados deveriam se barbear, pois, em eventuais disputas e conflitos, acreditava que os lutadores poderiam ser puxados pela barba pelos seus oponentes.

Como hoje não existe a ‘ditadura’ de um imperador, usa quem gosta ­­– e não são poucos. Com essa avalanche de rostos barbados, uma profissão que estava quase esquecida, a do barbeiro, ressurge das cinzas, aquece os antigos salões e, mais ainda, coloca no mercado jovens profissionais que observam uma boa possibilidade de mercado. Em alguns lugares ouvidos pela equipe de reportagem, a média de clientes por dia é de 15 pessoas.

Fazer a barba fora de casa é experiência atípica. Para sair com ela bem alinhada da barbearia são vários processos. Entre um e outro, os profissionais usam diversos produtos como toalha quente, óleo perfumado, espuma, creme para massagear e, é claro, a lâmina sempre afiada para o corte certeiro fazem parte.

Em Santo André, a Bunker Barber Shop Tatoo oferece o serviço completo. Não tem marcação de hora. É só chegar, anotar o nome no caderno que fica na mesa central, escolher com quem se barbear e esperar enquanto desfruta da trilha sonora roqueira dos anos 1960, sentado nos sofás feitos a partir de pallet (estrado de madeira). Se for a primeira vez que estiver frequentando o local ganha uma cerveja. Garantia do sócio-proprietário do local, Fabrício Vieira Franzini. 

Para fazer a barba, é necessário desembolsar R$ 25 (a partir de 1º de julho o valor fica R$ 30). Se quiser aproveitar para cortar o cabelo, custa R$ 50 pelos dois serviços. Vale a pena. E, se houver vontade, ainda é possível fazer uma tatuagem. Sim, o local conta com estúdio. E para quem não tiver tempo durante o horário comercial, não tem problema. De segunda, o espaço funciona das 13h às 22h. De terça a sexta, das 10h às 22h. Aos sábados das 10h às 17h. Mesmo abrindo às 10h aos sábados, Franzini dá a dica: é bom chegar cedo, pois a partir das 9h já tem gente esperando do lado de fora.
 
 
Não longe da Bunker, também em Santo André, Bruno Pandovani Pas­choal é o responsável por capitanear a Barbearia 7 Barba. Com ar retrô, cartazes de filmes espalhados pelas paredes e até uma coleção de bonecos, que vão desde personagens de filmes a super-heróis, o local promove viagem ao passado. As cadeiras para os clientes são antigas, peças de colecionador. Tudo ajeitado com muito bom gosto.
 
Geladeiras guardam rótulos de diversas cervejas, prontas para serem consumidas. Até exemplar da Bélgica tem. Entre as opções nacionais, está a Madalena, feita em Santo André. O espaço abre de terça a sexta, das 12h às 22h. Aos sábados o local funciona das 10h às 20h.  É possível agendar. O valor para barba e cabelo é de R$ 40 cada e pode reservar uma hora, em média, para o processo. 
 
Fazer a barba fora de casa é experiência impagável, quase um ‘mo­mento de rei’. Ao menos uma vez, até mesmo para os mais resistentes, vale a pena testar.
 
Mulher entende do riscado
 
Estamos no século 21, já é 2015, e ainda as mulheres recebem olhares tortos quando escolhem certos ofícios. Quando você entra em uma barbearia, por exemplo, você espera ser atendido por um homem, certo? É costume, como se as pessoas fossem ensinadas: barbeiro é profissão masculina. Mas  em Santo André esse paradigma antigo e ultrapassado foi quebrado. E com sucesso.
A Bunker Barber Shop Tattoo – primeira barbearia e estúdio de tatuagem tem&aa


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