Padecer no Paraíso?

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Miriam Gimenes

 Patrícia Carvalho Reno, 37, está contando os minutos para ver o rostinho de sua pequena Rebeca. Na reta final da gravidez – já está com 39 semanas – , ela deve passar o próximo Dia das Mães com sua rebenta nos braços. A proximidade com este momento sublime, no entanto, gera ansiedade. “A gente não tem como saber o que cada uma vai passar (com a chegada do bebê), ninguém fala tudo o que vive. Talvez por ser muito íntimo.” Nem que leia todos os livros sobre maternidade do mundo, todos os blogs, converse com mães experientes, é impossível dimensionar o que é chegar em casa, pela primeira vez, com o filho a tiracolo. Parafraseando Caetano Veloso,  só o dia a dia vai mostrar a dor e a delícia de ser mãe, no real sentido da palavra. 

Uma ilustradora escocesa, Lucy Scott, transformou este período de transição tão intenso em um diário. Com série de 120 desenhos, ela mostrou como foi seu primeiro ano como mãe. Entre as imagens (algumas exemplificadas na primeira página da reportagem), ela retrata, de maneira divertida, a mudança que um pequeno ser faz na vida dos pais. Em uma delas, coloca: ‘Sabe aquela sexta-feira que você e seu marido reservaram só para vocês dois? Termina assim... (com os dois dormindo no sofá, acabados). É possível brincar com a situação depois de algum tempo mas, se não tomar cuidado durante o período, a realidade estafante pode trazer problemas sérios não só para a mãe, como para família toda. Especialistas apontam que 10% a 15% das mulheres podem sofrer de depressão pós-parto, ocasionada pela junção de pré-disposição, hormônios e situações estressantes. 

 

E ninguém quer passar por isso. Para fugir desse e de outros problemas, Patrícia contratou o serviços de uma baby planner. Esta profissional, que surgiu há pouco no mercado, é uma consultora materna. “A baby planner auxilia a mãe, e toda a família, a se preparar para a chegada do bebê. Desde o básico, como enxoval e segurança da casa, até o mais importante, como amamentação, parto, primeiros cuidados com o recém-nascido e sono do bebê”, explica Thais Gonzaga de Oliveira, que foi contratada por Patrícia. 
 
A moça, que ficou grávida de surpresa quando estava prestes a entrar novamente no mercado de trabalho – é gerente de contas –, teve de mudar os planos e se dedicar, exclusivamente, à gravidez. “Pensei: fiquei grávida, e agora? Vivi isso tranquilamente e fui construindo a relação com a minha bebê. Quando você é mãe tem segunda chance de zerar as suas contas com Deus, é uma dádiva. Por isso resolvi me informar com uma profissional, que me ajudou em diversos aspectos.” Sua maior preocupação, confessa, era com a higiene que teria de ter com o bebê, inclusive por ser menina, que tem mais risco de infecções urinárias. “Mas depois dos encontros com a Thais, descobri que uma das maiores dificuldades maternas é amamentar. E ela ensinou a preparar os seios, o que é a livre demanda (bebê pode mamar a hora que quiser), entre outras coisas. Ninguém havia me falado sobre isso antes”, confessa.
Ao todo, foram dois encontros, com a participação do marido, em que a profissional explicou o básico de todas as necessidades da criança. “Mas assim que chegar em casa com a Rebeca, ela irá me fazer uma visita para dar orientação sobre as mamadas”, diz Patrícia. A baby planner tem diversos pacotes de serviços, que custam a partir de R$ 250, e são estipulados após conversa para saber as dúvidas e necessidades de cada gestante.
A ideia de Thais de se especializar na profissão pela Impi (Maternity Institute) foi por conta das dificuldades que teve com sua filha, também Rebecca. “Pensei que poderia trabalhar com alguma coisa que ajudasse outras ‘recém-mães’ a passarem pelo pós-parto com mais tranquilidade”, lembra. Confessa que, ao chegar em casa, não tinha a menor ideia do que seria cuidar de um bebê e esses medos e inseguranças foram um choque para ela. “Nunca pensei que seria tão difícil. É claro que depois fui me adaptando, criando uma rotina, mas se soubesse realmente como seria, teria me preparado melhor. A amamentação, que parece ser tão natural, mas não é, também foi uma dificuldade. Não sabia que é normal o bebê ficar no peito praticamente o dia todo. Passar noites sem dormir – completamente sem dormir – também foi estafante.”
 
PELA SEGUNDA VEZ
Não pense, no entanto, que porque você já teve um filho está vacinada de preocupações. Mas a experiência conta muito nos momentos mais delicados. Shirley Hilgert, autora do blog Macetes de Mãe, que o diga. Ela é mãe de Leonardo, 3, e do recém-nascido Caetano. “Por mais que a gente leia, faça cursos e se informe, ou que tenha contato com outras crianças desde muito cedo – sobrinhos, filhos de amigos etc –, somente quando temos os nossos filhos é que vamos saber como as coisas realmente são. Isso porque, quando a realidade bate à porta, ela nem sempre é como na teoria.”
A maior dificuldade que ela teve com o primogênito foi a APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca), que Leo teve desde muito bebezinho. O problema levou três meses para ser diagnosticado e, por isso, ele tinha muito refluxo e cólica, desenvolveu esofagite e colite, dormia mal e chorava muito. “Isso quase me deixou louca, de trabalho que tive para cuidar dele e, principalmente, de tanto sofrimento, por ver meu filho sofrer tanto.” E, para piorar a situação, Shirley não quis a ajuda de ninguém no primeiro ano. “Cuidei dele sozinha e nem tinha empregada para me auxiliar. Só uma diarista três vezes por semana. Por conta disso, também, acho que foi tão complicado. Quis fazer tudo sozinha, não queria ajuda, achava que não precisava. Mas com os problemas de saúde que ele teve, contar com auxílio, mesmo que mínimo, teria sido bom. Hoje, faria isso diferente.”
A ajuda pode partir de parentes (mãe, sogra, cunhada), mas também de uma profissional. Shirley diz que não contrataria uma baby planner e, sim, uma consultora de amamentação, até porque Leo teve dificuldades para mamar. “Acho que se ela tivesse me dado um apoio mais de longo prazo, com contatos mais frequentes, teria funcionado melhor. Com o Caê eu conto com a ajuda de algumas pessoas nesse ‘quesito’ amamentação. Assim, quando bate a dúvida, mando  mensagem via WhatsApp, escrevo um e-mail ou até ligo para so


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