Adeus, senhor provocador

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Rodrigo Mozelli e Vinicius Castelli

Provocador em tempo integral, crítico e homem inteligente. Dono de olhar direto e de palavra afiada, o ator e diretor de teatro Antônio Abujamra morreu na manhã de ontem, enquanto dormia, aos 82 anos, em sua casa, em São Paulo. Até o fechamento da edição a causa da morte e local do enterro não haviam sido divulgados. O velório acontece no Teatro Sergio Cardoso, na Capital.
Nascido em setembro de 1932 em Ourinhos, interior do Estado, Abujamra se formou em Filosofia e Jornalismo pela PUC do Rio Grande do Sul, Estado em que deu início à carreira como diretor e crítico de teatro. Estudou Literatura espanhola em Madri, na Espanha, trabalhou em Paris, na França, e depois se mudou para a Alemanha, onde atuou na companhia de teatro Berliner Ensemble, de Bertold Brecht.
O dramaturgo sofreu na pele a censura da ditadura militar brasileira no teatro. A partir de 1981, passou a se dedicar ao TBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Entre as peças que dirigiu está Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico.
Na TV ficou conhecido como ator por viver o bruxo Ravengar na trama Que Rei Sou Eu?, da Globo, em 1989. Atuou também na novela Começar de Novo, em 2005, na mesma emissora, como o professor Dimitri.Trabalhou ainda na extinta Manchete e na Record. Desde 2000 e até os dias atuais comandou programa de entrevistas Provocações, na TV Cultura, e ficou frente a frente com nomes como o ex-jogador de futebol Sócrates, o jornalista Mino Carta e o ator Paulo Autran.
O fotógrafo do Diário, Nario Barbosa, que clicou Abujamra em 2003, em entrevista exclusiva ao jornal, se lembra dele com carinho. “Ele foi bem receptivo naquele momento. Ao mesmo tempo, um cara sério e muito provocador. Enquanto eu o fotografava ele me chamava de ‘paparazzi’, com tom grave de voz. Era uma pessoa diferente e muito inteligente.”
Por telefone, a coordenadora de dramaturgia da TV Cultura, Nali Alvarez, deixa sua lembrança de Abujamra. “Nosso já tão pobre teatro brasileiro empobreceu ainda mais. Ele era um dos grandes diretores do País. É uma perda irreparável.” Nali descreve-o como “homem controverso, cheio de grandes frases, andava na contramão de todos e era visionário. Deixa um trabalho brilhante e lacuna impreenchível.”
Também por telefone, o ator Pascoal da Conceição, que na TV Cultura se destacou como o Dr. Abobrinha no Castelo Rá-Tim-Bum, define Antônio: “Era muito risonho e irreverente.” Ele também lembra de frase do diretor: “‘Nunca aprendi com meu sucesso, só com meus fracassos, pois com um fiquei cego, com o outro aprendi.’ Levei esta frase para minha vida.” 
Nas redes sociais personalidades se manifestaram a respeito da morte de Abujamra. “Quero expressar meu pesar pela morte do ator, diretor e produtor cultural Antônio Abujamra. Minha solidariedade à família, aos amigos e à comunidade teatral, diante da enorme relevância de Antônio Abujamra para as artes em nosso País”, escreveu a presidente Dilma Rousseff.




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