‘Gabriela’, de Jorge Amado, ia ao ar pela primeira vez há 40 anos na Rede Globo

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Miriam Gimenes

Gabriela sobe no telhado para pegar uma pipa. A cidade de Ilhéus (leia-se homens e mulheres) fica boquiaberta ao ver os atributos físicos da jovem baiana. A cena faz parte da novela Gabriela – que tinha seu capítulo de estreia televisionado há exatos 40 anos – e entrou para história da teledramaturgia brasileira. O folhetim foi escrito por Walter George Durst, uma adaptação do romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado.

Foram exatos 132 capítulos de pura sensualidade, ambientados na Bahia da década de 1920. Desde que o público pôs os olhos na Gabriela de Sônia, não a tirou de vista jamais. Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela USP e integrante da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova York (Emmy), diz que a obra abriu um novo caminho para a produção no Brasil, trazendo vitalidade ao mercado. “Foi o romance que oficializou a eficaz parceria entre literatura e telenovela. Com o êxito de Gabriela, a Globo passou a investir com certa sistematização na literatura como fonte para a produção de folhetins.” Vieram, em seguida, Helena, Senhora, A Moreninha e Escrava Isaura.

Gabriela é obra que falava sobre política – coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo) contra o liberal Mundinho Falcão (José Wilker) – e tratava da sensualidade de uma maneira natural. “Em plena ditadura militar, temos uma novela que vai bem além dos limites impostos pela censura federal. Fato único no mundo do entretenimento”, ressalta Mauro. Divulgou, além de Sônia, que alcançou com o papel o estrelato, a culinária baiana, os quadros de Aldemir Martins (montados por Cyro del Nero para a abertura da novela) e nomes importantes da MPB como Gal Costa e Fafá de Belém.

O doutor em Teledramaturgia pela USP Claudino Mayer destaca o papel de Durst para o sucesso do folhetim. “O próprio Jorge Amado disse que a adaptação dele ficou melhor que o texto original.” Mayer, no entanto, não gostou do trabalho de Juliana Paes para o remake feito em 2012. “A primeira Gabriela tinha uma verdade que fazia você achar que se fosse para Ilhéus ia encontrá-la por lá. Juliana fez bem, mas dava para perceber que sua sedução era um plano de ficção, não era natural.” Uma vez Gabriela, sempre Gabriela. Sônia que o diga. 




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