Ricardo Tozzi, de executivo a galã

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Cristie Buchdid

Ele começou a carreira de ator profissional aos 30 anos e não se arrepende de ter seguido seu coração

“Quando você deseja, com seu desejo inteiro, as coisas acontecem. Eu não tinha 0% de dúvida.” Foi com essa certeza, de que conseguiria realizar o sonho de ser ator, que o global Ricardo Tozzi, o Komal da novela Caminho das Índias, abandonou a carreira bem-sucedida de executivo.

A estabilidade financeira, o bom salário e as propostas de ótimos empregos não foram suficientes para que continuasse vestindo terno e gravata. Agora, apresenta visual despojado e postura descontraída. Fica a impressão de que ele trocou definitivamente o perfil executivo pelo de ator. Como um de seus lemas, diz que a pessoa tem de descobrir sua vocação e segui-la, como se fosse um caminho para a felicidade. Tozzi se motivou a trocar seu rumo profissional quando se apaixonou pelo teatro, algo que o fez “um trilhão de vezes mais realizado” a ponto de dizer que sua atual profissão é a melhor do mundo.

Em outros momentos Tozzi mostra um contraponto e às vezes é possível perceber um ar sério na forma de falar. Talvez uma lembrança de seus tempos em escritórios paulistanos.

Exigente e detalhista, dispensou ajuda de uma profissional para arrumar o cabelo para a sessão de fotos e preferiu passar o spray sozinho. A cada série de cliques, fazia questão de conferir as imagens, opinar e escolher poses e cenários. “Ficou ótima. Faça esta mais fechada.” Tudo tinha de ser a seu gosto, mas pedia
sem perder a classe. E como se estivesse atuando como um chefe, elogiou as fotos no fim do ensaio por ter sua solicitação atendida.

Tempos de executivo

Sem dúvida, uma das histórias mais curiosas de Tozzi é a coragem que teve em abandonar a carreira, aparentemente estável, de executivo para ser ator. Formado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, em dez anos passou de estagiário a diretor de unidades regionais da Câmara Americana de Comércio, coordenando a expansão da entidade pelo País. Tudo isso com 29 anos. “Não aguento mais esse papo de executivo”, brinca ele, que era um sucesso ao coordenar 800 funcionários. “Me sentia realizado e sempre fui feliz, mas não queria chegar aos 50 anos como executivo porque acharia chato, um saco.” Na época, se sentia mal ao ter de demitir pessoas. Como ator, acredita que renasce a cada trabalho.

Foi seguindo seu coração que rejeitou uma proposta de emprego, um mês antes de jogar tudo para o alto. “O que estou fazendo da minha vida?, pensei.” Aí Tozzi disse para a pessoa que o queria contratar que tinha um projeto maior e que um dia todos iriam saber.

A paixão pela interpretação veio aos 26 anos, quando começou a fazer teatro na escola Macunaíma, em São Paulo. Trabalhava de dez a doze horas por dia como executivo e nos fins de semana fazia teatro. Antes, nunca tinha imaginado ser ator. Era algo muito longe de sua realidade.

Quando interpretou o protagonista na peça Romeu e Julieta, definiu seu futuro. “Foi o divisor de águas. A primeira vez que subi ao palco foi decisiva. Quando a luz se acendeu, tudo aconteceu naturalmente. Aí pensei que estava onde deveria estar.”

Para ter coragem de mudar, não contou os planos para ninguém. Tozzi admite que foi loucura, mas não pensou nisso. As críticas não vieram porque ao pedir demissão já estava no ar com a novela Bang Bang (2005). Após cursar a oficina de atores da emissora, foi aprovado no primeiro teste.

A trajetória como ator começou aos 30 anos. Muitos podem considerar tardio, mas ele enxerga lado positivo por acreditar que a maturidade o ajuda a lidar com fãs. “Sempre é tempo de acreditar em uma coisa nova, ouvir seu coração e correr atrás disso. Não existe idade.

De galanteador ao assédio das fãs

 Depois de atuar em três novelas e cinco séries, todas na Globo, Tozzi estreou em horário nobre com o personagem Komal. Ele credita boa parte do sucesso de seu núcleo na trama à empatia entre os atores. “A energia casou. A gente trabalha se divertindo.” Ele lembra que no início o elenco ficou receoso porque estava criando algo novo, sem referências, como indianos que falam português. Era preciso ter cuidado com a interpretação para que ficasse verdadeira.

Irmão da protagonista Maya (Juliana Paes) e filho de Manu (Osmar Prado) e Kochi (Nívea Maria), o indiano Komal é casado com Rani (Brendha Haddad), mas sempre se esquece do relacionamento, pois é um paquerador assumido.

Na vida real, Tozzi já teve sua fase de galanteador. Hoje está “mais ou menos namorando” uma mulher que não é famosa e da qual não revela o nome. Concorda que Komal é meio taradão, mas não o condena, prefere perdoá-lo usando o termo imaturo. “É um cara com os hormônios na cabeça, um bon vivant. Trata-se de uma tragicomédia
porque Komal não se encaixa no perfil da família”, diz ele, que tem algo em comum com o personagem: a atração por desafios.

Ao mergulhar no assunto ‘paqueradores incontroláveis’, Tozzi não os critica. O que importa é se a pessoa tem ou não coração leviano. “Porque a vida dá o troco. Se a pessoa está comprometida, deve levar o parceiro a sério.” Os garanhões, no entanto, também têm seu espaço na opinião dele. “Os mais safados geram sensação de aventura nas mulheres. Os que não são, trazem segurança.”

Além dos sáris, Komal tem outro vício: jogar dados pela internet. Em sua vida pessoal, no entanto, Tozzi não é apegado a nada. Às vezes, exagera no chocolate. Outras vezes, se namora, se entrega demais.
 
Para sustentar o jogo, Komal chega a roubar a própria mãe. Ele julga péssima a atitude, mas nem sempre mal-intencionada. “O viciado pode ser uma vítima. Todo mundo é fruto de um contexto.”

Tozzi elenca os vícios químicos como os piores, crítica os atores que têm vício pela fama, principalmente os que fizeram sucesso e ficam algum tempo fora da mídia. “A necessidade de aparecer é insegurança. O ser humano é inseguro e o ator, pior, porque se ninguém o comprar, é ele quem está sendo rejeitado.” Na contramão do desespero pelo reconhecimento, e falando de forma aparentemente segura, Tozzi acredita que o ator tem de aparecer quando seu trabalho está rendendo. Quando não está no ar, acredita que o estudo é a melhor forma de ocupar o tempo.

A vaidade, Tozzi controlou. No início de carreira, achava interessante sair curtindo a fama. Hoje prefere se resguardar, porque acredita que misturar vida pessoal com trabalho só prejudica. “O personagem tem de ser maior do que o profissional.” Para ele, o fato de a vida pessoal do at



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