Fotógrafo de alma

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Miriam Gimenes

 Olhar uma fotografia de Sebastião Salgado e não ficar mexido é algo humanamente impossível. Imagine então assistir a um longa que conta sua história de vida? Famoso por suas imagens ‘sociais’, Tião, como é chamado pelos íntimos, ficou internacionalmente conhecido pelo seu trabalho, que é mostrado imagem a imagem no documentário O Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Salgado. Tanto que nem a tal academia de Los Angeles ficou imune: o longa esteve entre os três finalistas do Oscar de melhor documentário. Aos interessados em apreciar, nos detalhes, o trabalho do artista mineiro,sua história chega hoje aos cinemas de São Paulo.

O documentário não levou a estatueta, mas ganhou na categoria melhor documentário do prêmio César, que acontece em Paris todos os anos. Não é para menos: o longa prende a atenção do início ao fim e leva a refletir, principalmente, de que modo a humanidade age desde o início dos tempos. O próprio biografado manifesta sua tristeza após a expedição Êxodos – realizada durante seis anos em 40 países –, em que explora as questões políticas, sociais e econômicas que levam as pessoas a serem obrigadas a deixar a terra natal. “Eu saí deste trabalho sem nenhuma doença física. Quem ficou doente foi minha alma.”

Estas imagens, em particular, chocam por relatar a miséria humana, a falta de empatia dos governantes com sua população, fotos de crianças mortas de fome e sede, entre outras cenas. Tanto que alguns anos depois deste trabalho, ele decidiu enveredar por algo diferente: fotografar locais onde a natureza se manteve intocada. Assim nasceu o livro Gênesis (com 245 fotografias de montanhas, desertos, animais em risco de extinção, florestas e tribos). “Genesis, para mim, fecha um ciclo de histórias. Só aprendi o que aprendi para fazer Genesis no fim”, disse em uma das exposições do trabalho. Tudo o que viveu serve como matéria- prima para suas imagens. “Você não fotografa com sua câmera, você fotografa com sua cultura”, explica.

ORIGENS
Sebastião Salgado tem 40 anos de carreira. Nasceu em Aimorés, Minas Gerais, formou-se em Economia e, à época da ditadura militar no Brasil, em 1969, foi buscar asilo político em Paris, junto com sua mulher, Lélia Wanick Salgado. Foi das mãos dela que ganhou a sua primeira máquina fotográfica e a ‘paixão’ foi arrebatadora.

Com Lélia teve dois filhos, Juliano e Rodrigo (que tem síndrome de Down), e, por conta das longas expedições, viu-se obrigado a ficar muito tempo longe da família. Isso rendeu mágoa do primogênito, que só durante as gravações do documentário – ele o acompanhou em Gênesis –, foi cessada. Juliano entendeu, de fato, o que era o trabalho do pai e o que o movia a ficar tanto tempo longe de quem amava. “É um filme lindo, que me permitiu entender coisas sobre meu pai”, confessou o rapaz.

O longa também mostra as origens do fotógrafo, a fazenda que foi cultivada durante anos pelo seu pai e o trabalho que a transformou no Instituto Terra, um símbolo da preservação ambiental. Não à toa sua arte (pessoal e profissional) fez Salgado romper as fronteiras brasileiras e ganhar o mundo.




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