Viagens de solidariedade

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Raija Camargo

Quando se pensa em fazer intercâmbio, o que prevalece são a vontade de aprender novos idiomas, incrementar o currículo e, claro, desfrutar de belas paisagem e fazer novos amigos. Além disso tudo, muitas pessoas escolhem realizar trabalho voluntário para complementar todas as atividades turísticas que vão realizar quando programam a viagem.

Este é o caso de Jairo Pasqualetto, 30 anos, policial civil de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, que em 2012 escolheu trabalhar como voluntário em um hospital infantil na África do Sul. Por 40 dias foi o responsável pela recreação das crianças internadas por decorrência de doenças como Aids e tuberculose, e em situação de abandono familiar, mantendo contato direto com a cultura e a realidade locais. “Ouvi falar na TV a respeito de trabalho voluntário com crianças e me interessou muito. Fui pesquisar como funcionava e o que precisava para ir”, conta.

O perfil de quem procura esse tipo de intercâmbio é de jovens acima de 18 anos em busca de envolvimentos cultural e emocional. Os programas, geralmente, são de curta duração, entre duas e 12 semanas. Entre os destinos mais procurados estão América do Sul, Ásia e, principalmente, a África do Sul, que tem clima bem semelhante ao do Brasil e região que necessita de ajuda com programas sociais e ambientais.

“Após o programa, o participante tem a capacidade de ver outro lado da vida e a dar valor no que se tem. Aprende a conhecer e respeitar gente diferente. Além de ter trabalho voluntário no currículo, que é considerado ótimo diferencial”, explica Fernando Picolo, diretor da CI de São Caetano.

E foi exatamente estes valores que Jairo trouxe na bagagem quando voltou ao Brasil. A experiência o ajudou a enxergar a vida de outra forma. “Voltei bem mais humilde. Nós temos a mania de achar que nossos problemas são grandes, mas entendi o que é um problema real, parei de reclamar por pequenas coisas”.

Além de cuidar de crianças carentes, doentes e em situação de abandono, há viagens com o objetivo de tratar de animais em zoológicos, atuar em projetos ambientais nos parques nacionais e trabalhar em hospitais, em creches ou orfanatos. Mais do que a experiência, este tipo de intercâmbio possibilita a vivência mais aprofundada já que, muitas vezes, os viajantes moram no alojamento da própria organização, portanto, passam a ter contato direto com a cultura e a população locais.

Bem-vindo à Ásia
Os destinos asiáticos são ricos culturalmente e atraem número cada vez maior de turistas. Aliar a solidariedade às viagens em lugares como a Tailândia, país repleto de praias paradisíacas, incluindo as de Koh Phi Phi e Phuket, é a fórmula de experiência inesquecível. A Índia, por exemplo, carrega aura de misticismo e cultura milenar, elementos que deslumbram o viajante ocidental. Goa, Estado indiano onde há programas de voluntariado para intercambistas, possui igrejas e conventos classificados como patrimônio da humanidade pela Unesco.

Assim como acontece na maioria dos destinos para voluntariado, o turista não paga para trabalhar. “O viajante, na verdade, paga pelos serviços e estrutura oferecidos pela organização, já que o pacote inclui acomodação, suporte local 24 horas, treinamento, entre outras coisas”, explica o gerente da CI, Eduardo Frigo.

De acordo com a empresa, as organizações e projetos esperam que o voluntário seja pró-ativo e possa contribuir e somar. “Esta experiência é diferente, por isso o voluntário tem de ter mente aberta e vontade de aprender. O período ideal é quando o voluntário puder. Alguns projetos não têm disponibilidade o ano todo, então é necessário checar antes com um consultor”, complementa o diretor da CI de São Caetano, Fernando Picolo.

Projetos
MONK TEACHING PROJECT IN THAILAND (CHIANG MAI):
O trabalho é em Centros de Educação para Monges. O voluntário vai atuar ensinando matemática, inglês, artes e habilidades sociais. Os monges têm idade entre 8 e 25 anos e diferentes níveis de escolaridade.

ELEPHANT VILLAGE IN INDIA (JAIPUR):
Neste programa, os voluntários vão cuidar e preparar comida para os elefantes. Além disso, vão ensinar crianças que nunca estiveram numa escola e capacitar as mulheres da região.

FISHERMEN IN PORTUGESE (COLONY OF GOA):
Os voluntários vão trabalhar com crianças que costumam recolher lixo das praias para vender. Neste projeto, os turistas são responsáveis por motivar as crianças a voltarem aos estudos.

Experiência solidária na ONU
A psicóloga paulistana Renata Reali, 26 anos, se aventurou por uma causa mais do que nobre. Em 2013, foi fazer trabalho voluntário no escritório da OMS (Organização Mundial da Saúde) da ONU (Organização das Nações Unidas), em Manila, nas Filipinas. Na ocasião, o local havia sido devastado pelo furacão Haiyan, que chegou a atingir a velocidade de 315 km/h, causando a morte de milhares de pessoas.

Trabalhando na área de ações humanitárias e emergências da OMS, realizou tarefas que nunca havia imaginado, como preparar caixas de mantimentos para ajudar as vítimas, dar atendimento psicológico, ser responsável pela área de saúde mental e psicossocial do escritório nacional da OMS das Filipinas e entrar em contato com todas as ONGs que estavam chegando ao país para oferecer trabalho nesta área, além de ajudar no treinamento de pessoas para dar suporte psicossocial às vitimas.

"O trabalho é muito gratificante, mas pode ser estressante dependendo do contexto. Acredito que programas para área de desenvolvimento social, como ajudar na área de educação, dar aulas por exemplo, são mais tranquilos do que trabalhos em uma emergência”, compara.

Os recursos utilizados para financiar a viagem saíram do próprio bolso da estudante, que encoraja quem tem o desejo de ajudar ao próximo em locais necessitados. “Existem diversas ONGs internacionais renomadas que oferecem oportunidade de voluntariado (MSF, ACF, Save the Children, por exemplo). É importante que a pessoa leia bastante e procure saber sobre a ONG e o tipo de trabalho que é feito, independentemente se for uma ONG local ou internacional”, aconselha Renata.




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