Eterno guri

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Marcela Munhoz

Ele já trabalhou com Silvio Santos, Xuxa, Renato Aragão e Faustão. Foi notícia no Fantástico e Jornal Nacional. Vendeu 1 milhão de cópias do seu LP. Levou a rede CNT/Gazeta à liderança do horário nobre com suas pegadinhas. Participou de reality show. Foi galã no cinema. Fez todo mundo gritar na Porta dos Desesperados. Lotou vários picadeiros em seu show de circo. Agora, enche teatros com stand-up comedy, com piadas sobre sua vida e anos de sucesso. Foi escalado para outro longa e está no ar no Multishow. Gerencia um quiosque no Rio de Janeiro. E assim, com jeito de garotão, Sérgio Mallandro ainda tem muita lenha para queimar. “Todos os meus filmes deram muito certo, vendi disco sem sequer saber cantar. Acredito que tenho um bom currículo sim. Só faltou ter visto o Elvis Presley cantar e fazer umas ‘paradas’ com o Obama (o Barack)”, conta o artista, em entrevista exclusiva à Dia-a-Dia.

 
Superagitado e cheio de ‘glu glus’ e ‘ié iés’ para todo lado, Mallandro é do jeitinho que todo mundo imagina mesmo. Não pensa duas vezes em emendar uma piada de duplo sentido e uma declaração polêmica durante o bate-papo. Derrete-se quando o assunto são seus três filhos – Sérgio Tadeu, Stephanie e Edgar, – mas desconversa com a cara de pau que lhe é familiar ao ser questionado sobre apagar velas de aniversário, que, a propósito, vão ganhar número zero no próximo 12 de outubro, Dia das Crianças. “Artista não fica velho. Sempre falo que parei nos 33 anos, idade de Cristo. Mas não ligaria de ser chamado de avô, seria muito maneiro. Eu adoro crianças.” Confira o que o eterno ‘capeta em forma de guri’ contou à equipe de reportagem.
 
 
DDR – Você faz resumo de tudo o que aconteceu na sua vida pessoal e profissional (desde o fim da década de 1970, quando estreou no programa ‘O Povo na TV’) em seu ‘stand-up’. Foi difícil falar sobre você mesmo?
SÉRGIO MALLANDRO – (Contar histórias) É algo que faço desde a minha infância e é muito natural para mim. A única coisa que fazia bem na escola era redação, ganhei até prêmio. No show, acrescento uma piadinha alí, outra aqui. Gosto de ver a reação das pessoas. Tem histórias minhas com os artistas, nos bastidores. Como me relaciono, coisas do meu cotidiano. Me divirto quando as pessoas olham para mim e falam ‘ié ié’, ‘glu glu’, ‘rá’. Lembro como era conviver com o meu padrasto general, falo dos meus filhos, da minha mãe, da minha ex-mulher. Cito que fui expulso quatro vezes do colégio, a morte do meu pai quando tinha 12 anos. Criei o roteiro, mas improviso quando interajo com a plateia. Recrio A Porta dos Desesperados (sucesso no programa infantil Oradukapeta no fim dos anos 1980) e tem muito marmanjão de 40 anos que não pensa duas vezes em se jogar e ‘nadar’ no meio do palco. É um barato. Adoro fazer as pessoas felizes e tenho muito amor pelos meus fãs. Tanto que se acordo em um dia ruim, não saio nem de casa. Não vou decepcionar aquela pessoa que me acompanha há anos. Penso em escrever uma autobiografia um dia e até me propuseram fazer um longa-metragem sobre minha vida. Mas o problema é que não aceitaria ninguém menos do que o Tom Cruise ou o Brad Pitt para me representar. A verdade é que toda arte tem seu valor (Serginho só não fez novela ainda). Não posso adiantar muito, mas meu próximo filme (com previsão de estreia para o fim do ano) vai ser o ‘estouro da boiada.’
 
DDR – Em 22 de junho, ‘Lua de Cristal’ fará 25 anos de lançamento. O que o projeto significou na sua carreira?
MALLANDRO – ‘Pô’, muita coisa. Foi um filme que marca até hoje. No meio do meu stand-up até cito que já fui o príncipe da Xuxa, com o Bob em sua motocicleta e no cavalo branco. Recrio a cena em que ele diz: ‘Maria, Maria...’. Conto histórias de bastidores das gravações, dos esporros da Marlene Matos. Está sendo produzido o musical Lua de Cristal, alías. Só quero ver quem vai ser escalado para faze o Bob. Outro dia encontrei uma menina que fez questão de me dizer que assistiu a Lua de Cristal 14 vezes seguidas. Quando a gente gosta do filme, assiste mesmo, não é? Ghost – Do Outro Lado Vida, por exemplo, eu vi dez vezes. E choro todas as vezes.
 
DDR – Você entrou na onda das redes sociais? Gosta de tecnologia?
MALLANDRO – Tenho Instagram, Facebook, mas nem sei mexer muito. Gosto mesmo de WhatsApp. Tenho vários grupos e dou muita risada, sempre tem novidades. É um mundo engraçado, mas as pessoas não deveriam viver só ele. Perdeu-se o olho no olho, o toque, o abraço, o parar para observar. Hoje, as pessoas fazem até sexo pela internet. Eu sou um pouco contra isso, telefone virou um vício. Mas ao mesmo tempo é bom poder se comunicar com tanta gente. Quando não estou com saco, digito ‘ié ié’ e está tudo bem.
 
DDR – Qual o segredo para você continuar na mídia e ser tão querido pelas pessoas?
MALLANDRO – Se tivesse, eu ia te contar? (risos). Homem de verdade não tem segredo. O fato é que o grande segredo da vida é estar sempre de bom humor. É saber que nem tudo é eterno. Nem a dor nem o amor. A vida passa muito rápido e todo mundo é igual. Não existe diferença entre as pessoas. O mesmo que venta lá, venta cá. Algumas pessoas têm privilégios, mas eu não sou melhor do que o porteiro, por exemplo, nem mais feliz. Onde vou passando vou deixando a semente do bem e vou curtindo a vida. Eu sou feliz assim, levando uma vida simples, me divertindo e fazendo as pessoas rirem. Procuro evitar de ouvir tragédias, afinal, não posso fazer nada. Prefiro botar uma pegadinha, ou no Sexy Hot. Acostumei meu cérebro a ouvir coisas boas. Também costumo fazer o exercício da risada, no meio da rua, as pessoas acham que sou louco.
 
DDR – Há alguns momentos em que precisa separar o Sérgio Mallandro e o Sérgio Neiva Cavalcante?
MALLANDRO – Eles são uma só pessoa, mas claro que há momentos em que eu preciso ser uma pessoa normal, mais séria, como em um velório, por exemplo. Nessas ocasiões, fico na minha, choro baixo: ‘glu glu’, ‘ié ié‘ (ele representa a cena com voz sussurrante). Mas nunca deixo de ser o Sérgio Mallandro de sempre. Aliás, os meus bordões vieram da música Vem Fazer Glu Glu (do compacto de 1982, e depois, do LP, de 1983). Vendi 1 milhão de cópias. O povo era surdo mesmo. Aliás, no meu stand-up, coloco tradutores (língua de sinais) para eles. É uma retribuiç


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