Para sempre Tomie

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Marcela Munhoz

Não tem início nem fim, não possui limites, é inumerável. Estes são alguns significados do símbolo do infinito (8), inspiração para a última grande obra pública de Tomie Ohtake: o Monumento ao Trabalhador, que enfeita o Paço Municipal de Santo André desde setembro de 2013. Definem bem também a vida e o extenso legado da artista, que morreu ontem aos 101 anos em decorrência de choque séptico causado por broncopneumonia. Ela será velada hoje, das 8h às 14h, no instituto que leva seu nome, na Capital paulista.

Detentora de 28 prêmios nacionais e internacionais, a japonesa – que chegou no Brasil em 1936 – também fazia pinturas e gravuras. Tomie começou a produzir obras profissionalmente perto de completar 40 anos, por isso, emanava invejáveis ânsia, vontade e prazer em criar. “Trabalhar é o que me faz viva”, disse a artista ao Diário, em 2013, quando completou seu centenário com exposições e novas peças.

Ano passado, teve sua história contada e dirigida por Tizuka Yamasaki no documentárioTomie. “Já havia muitos filmes e livros sobre seu trabalho. O que me atraiu no projeto foi poder revelar suas ações de cotidiano e eterno bom humor”, conta a cineasta com exclusividade à equipe de reportagem. “Para o mundo, seu maior legado foram as obras. Para mim, a amizade”, declara.

Quem vive de arte, inspira-se em Tomie Ohtake. Damara Bianconi, artista plástica atuante na região, acredita que ela foi uma das mais importantes coloristas e gravuristas de abstracionismo informal do País. “Mesmo com a carreira tardia, conseguiu fazer muito pelo Brasil. Além de deixar grandes obras espalhadas, nos representou lá fora. Seu instituto (inaugurado em 2001) trouxe exposições e obras reconhecidas. Deixará uma lacuna, mas tivemos sorte de tê-la por perto.”

SENSIBILIDADE
A instalação que tinge de vermelho o Paço de Santo André é uma das 27 grandes obras públicas da artista conhecida por seu estilo geométrico e minimalista; outras podem ser vistas na Estação Consolação do Metrô, na Avenida 23 de Maio, na cidade de Santos, por exemplo. O enorme símbolo do infinito (com 12 metros e 15 toneladas) foi um presente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá à cidade. “Acho que nunca fiz algo tão grande assim, é maravilhoso”, espantou-se a artista quando chegou perto da instalação pela primeira vez. Ela pensou em suavizar, com as curvas, a paisagem dura da Santo André industrial. “Estou honrada”, finalizou.

Honrado mesmo ficou quem fez o convite. “Na época, foram cogitados vários artistas e chegamos na grande Tomie Ohtake. Para mim, acompanhar o processo foi grata surpresa e uma das melhores alegrias da minha vida”, recorda-se Cícero Firmino da Silva, o Martinha, presidente licenciado do sindicato e Secretário do Trabalho de Santo André. “Nunca vou esquecer que, na inauguração, crianças começaram a brincar na obra e Tomie chamou a atenção de quem tentou intervir. Disse que foi feita para que o povo pudesse interagir.”

A Prefeitura de Santo André declarou luto oficial de três dias em homenagem à artista, que recebeu um minuto de ‘palmas’ durante apresentação da Orquestra Sinfônica ontem. “Outras homenagens virão, mas tudo o que fizermos será pouco. Ela merece”, concluiu Tiago Nogueira, secretário de Cultura da cidade.




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