Pequena, grande mulher

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Marcela Munhoz e Raija Camargo

É impossível ficar ao lado de Talita Werneck Arguelhes e não esboçar, ao menos, um sorriso de canto de boca. Ligada no 220V, a carioca de 31 anos é uma ‘figura’, daquelas que parecem ter saído de gibis, charges, séries e filmes cômicos de antigamente. A genialidade está implícita no pouco mais de um metro e meio de altura de Tatá Werneck. Aliás, sua altura é verdadeiro paradoxo em relação ao seu talento. É impressionante como ela se agiganta quando está nos palcos e nos estúdios de TV. Talvez a junção do dom com a escolha de levar o dia a dia de forma tão espontânea tenha sido a principal razão da atriz fazer parte, hoje, do rol de principais comediantes da nova geração brasileira. “Sempre dou jeito de fazer graça, até com assuntos mais sérios. É a maneira que encontrei de sobreviver a um mundo tão difícil. Adoro fazer as pessoas rirem, é natural para mim”, enfatiza a eterna periguete piradinha do horário nobre da Globo.

 
A vocação para a arte sempre foi uma certeza na vida de Tatá. Ela, simplesmente, não se recorda de um momento em que não quisesse ser atriz. Tanto que, aos 9 anos, já aprontava nos palcos. Conta que o pai sempre riu de suas piadas, mas que passou fase complicada quando abandonou a escola. Chegou, inclusive, a cursar teatro escondida. Foi quando a mãe deu xeque-mate. “Se quisesse ser profissional tinha de fazer faculdade. Fiz duas – Publicidade e Propaganda e Artes Cênicas – e não me arrependi”, conta. Mas foi só em 2010 que estreou na MTV Brasil, canal que acolheu safra generosa de humoristas no Comédia MTV. Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Bento Ribeiro, Paulinho Serra, Fábio Rabin foram alguns dos colegas da comediante na emissora. Por lá, Tatá também esteve à frente do Trolalá, programa com trotes cheios de humor e ironia eternizados pelo YouTube e que já alcançaram a marca de mais de 1,5 milhão de acessos.
 
Improviso, aliás, é um dos fortes da atriz, que já ganhou inúmeros campeonatos. Um show à parte foi a participação de Tatá no BBB 14 na pele de Valdirene, da novela Amor à Vida. Foram 12 horas na casa encarnando a personagem. “Foi muito doido, porque se entrasse lá como eu mesma e tivesse vivido a experiência do Big Brother sendo filmada em todos os lugares, até no banheiro, estaria numa situação de berlinda que não sei lidar. Como os participantes me tratavam como Valdirene, no fim, estava tão Valdirene que não sabia mais ser Tatá”, contou na época. Mas é como Tatá Werneck – em carne, osso e ‘inteligência pura’ – que a atriz comanda o programa Tudo pela Audiência, ao lado de Fábio Porchat no Multishow. E o colega de palco é só elogios. “A Tatá é um gênio. Tem um tipo de humor que consegue bater e agradar ao mesmo tempo, tanto que a pessoa sacaneada ri junto. Ela tem velocidade de pensamento impressionante, que te obriga a correr atrás para fazer o ‘gol’.” Porchat afirma que a comediante é exatamente igual quando as câmeras estão desligadas. E completa: “Também é neurótica, doida, ansiosa e preocupada, mas está sempre disponível para uma piada.”
 
Além do programa no canal fechado, a atriz integra o elenco de frente da Globo. Está escalada para protagonizar, ao lado de Bruna Marquezine, a próxima novela das 19h, I Love Paraisópolis, de Alcides Nogueira. Ela dará vida à Nanda, moradora da favela de São Paulo. E a ‘baixinha’ não para por aí. Ela também pode ser vista nos cinemas de todo o Brasil em Loucas pra Casar, com Susana Pires e Ingrid Guimarães, cujo público já passa de 2 milhões de espectadores. “Ela conseguiu ser expulsa das minhas cenas sérias, porque não deixava eu me concentrar. Fazia piada de tudo, além de ser improvisadora nata. No texto da Susana Pires as falas estavam todas grifadas, no texto dela (Tatá), estava tudo em branco”, aponta Ingrid Guimarães.
 
A VERDADEIRA MAMI PODEROSA
E parece que a atriz já nasceu sendo a engraçadinha da turma. A própria progenitora da atriz ratifica a afirmação. “Quando ela tinha 5 anos venceu um concurso de estourar balão no programa da Xuxa. Apesar de ser a menor, encheu aquele pulmãozinho minúsculo e ganhou. Então a Xuxa perguntou: ‘Vai mandar um beijinho para quem?’. Ela logo respondeu: ‘Quero mandar um beijo para o João, o porteiro’, relembra Claúdia Werneck, aos risos, com exclusividade para a revista Dia-a-Dia. Criada na Barra da Tijuca, sempre foi peralta. As expulsões de colégios eram corriqueiras (foram quatro vezes). “Eu falava demais. Os professores não gostavam quando ia de fantasia. Assistia à aula de pijama, peruca, bigode falso e até vestida de noiva. Era a piadista”, assume a atriz. Como representante de turma promoveu um abaixo-assinado para tirar o diretor do cargo, um frei tradicionalíssimo. “Ela foi destemida. Parecia que tinha uma alma maior do que aquele corpinho tão delicado – aos 9 anos usava roupas para crianças de 4 anos. Mas a força daquele ser era enorme. Líder nata, fazia queixas e se metia para defender qualquer um que considerasse injustiçado”, comprova Cláudia.
 
Este lado ‘justiceira’ da atriz continua latente até hoje. “Ela tem uma delicadeza e generosidade que são características muito fortes. A Talita é amiga dos porteiros, dos taxistas, conhece todos os pedintes que ficam no caminho próximo à nossa casa. Não por que está famosa, antes já tinha verdadeiro circuito no Rio de Janeiro formado por essas pessoas”, derrete-se a mãe coruja, uma das responsáveis por Tatá ser conhecida também por seus valores como pessoa. Cláudia tem história de vida e ativismo político que justificam os atributos da filha. Ela atua na disseminação do conceito de sociedade inclusiva no Brasil e nos demais países da América Latina. É autora de 14 livros sobre o tema e viaja pelo mundo dando palestras. Em 2002, idealizou e fundou a Escola de Gente – Comunicação em Inclusão. “Tatá e o irmão mais novo, Diego, tiveram grande participação na criação da Escola. Ele estudou Direito Inclusivo, ela sugeriu criar grupo de teatro (Os Inclusos e os Sisos – Teatro de Mobilização pela Diversidade) que vivesse a inclusão. Lembro daquela menina de salto alto andando nos corredores da faculdade dizendo: 'ei, quer fazer teatro de inclusão comigo?. Somos uma família de pessoas aguerridas, obstinadas e corajosas”, orgulha-se a verdadeira ‘mãezoca’ da Talita.
 
O sentim


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