É impossível prever o que está reservado para cada indivíduo ao longo da vida e de que maneira certos acontecimentos modificarão a essência original de cada um. Nascida em Barbalha, no Ceará, em março de 1947, Maria Lizete Correia teve um surto psicótico aos 16 anos e, como consequência, fez tratamento de um ano com eletrochoques, entre outras práticas comuns à época. Nunca mais foi a mesma. Foi por meio da arte que ela encontrou forma de expressar as dores e alegrias de seu eu interior. Começou a desenhar com canetas hidrográficas e pintar utilizando saliva nos dedos para misturar as cores.

E quem quiser conferir de perto o quanto os fatos da adolescência a transformaram, pequena parte de sua produção artística chega ao MAP (Museu de Arte Popular), de Diadema, na exposição Feminino: Quando as Cores Transbordam da Alma..., que será lançada na terça-feira e fica em cartaz até 5 de março. “São desenhos que brotam do mais íntimo, da vida simples de tantas outras Marias, porém é nessa simplicidade que floresce a arte”, conta Bruno Mota, neto de Maria e organizador da exposição.

Sua obra causa impacto pela presença do feminino, além de muita cor. Seus traços evocam o que o ser humano tem de melhor: a capacidade de escapar da realidade nua e crua. De acordo com Mota, a intenção ao procurar espaços para expor o trabalho da avó é mexer com sua autoestima e tirá-la de seu casulo.

“Iniciei saga de expor e divulgar o trabalho dela, como caminho para valorizar os quadros e histórias preciosas que neles contêm. Isso permite que ela se sinta viva e não mais marginalizada como antes”, explica. E o esforço do neto surte o efeito desejado. Segundo ele, a avó fica contente, pois antes achava que ninguém dava importância para sua obra. “As pessoas gostam desses quadros meus. Eles são engraçadinhos”, ela fala, orgulhosa.

MAP
O Museu de Arte Popular de Diadema foi inaugurado em outubro de 2007. Possui acervo com mais de 800 peças de vários artistas brasileiros, especialmente os do Nordeste – Ceará, Pernambuco e Bahia – além de outras do Vale do Jequitinhonha e do Grande ABC.

Sua sede oficial é na Rua Professora Vitalina Caiafa Esquível, 96, endereço que ainda consta no site da Prefeitura. No entanto, o espaço está desativado e o museu está funcionando na Rua Graciosa, 300, acima do Teatro Clara Nunes. Questionada sobre o novo endereço do MAP, a Prefeitura de Diadema não respondeu até o fechamento desta edição.

Feminino: Quando as Cores Transbordam da Alma... – Exposição. No MAP – Rua Graciosa, 300. De segunda à sexta, das 9h às 18h, e aos sábados, até às 14h. A Entrada é gratuita.