Soja: mocinha ou vilã

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Alessandra Nunes

 
O Brasil figura entre os maiores produtores de soja do mundo. No entanto, o consumo por aqui não é tão grande devido à falta de cultura na utilização da soja em si – embora seu uso na indústria alimentícia seja grande – e também porque ainda existem muitas controvérsias envolvendo esse grão tão proteico.
O que já temos esclarecido? A soja pode ser uma grande aliada da vida saudável. Apresenta fitoestrógenos que reduzem sintomas da menopausa e riscos de doenças cardiovasculares. A ingestão regular também ajuda a controlar a glicemia e reduz o colesterol total no sangue, a fração ruim do LDL e os triglicérides. Para amenizar a menopausa, é importante que o consumo de soja seja diário (cerca de 60 g), o que equivale a meia xícara de grãos. Estudos têm demonstrado que essa quantidade é suficiente para melhorar os sintomas típicos desta fase, como ondas de calor e perda de libido. Além disso, essa quantidade também tem se mostrado efetiva na diminuição da incidência de doenças cardiovasculares. 
A soja revela-se ainda uma forte aliada na inibição de células cancerígenas graças à genisteína (uma das isoflavonas presentes no grão). As populações orientais apresentam baixa incidência de tumores de mama e próstata graças ao alto consumo dessa proteína. No entanto, esse benefício só é possível se o indivíduo consumir soja desde a tenra idade. As benesses também variam conforme a forma de preparo, que deve ser cozida ou fermentada. Quando crua, a soja apresenta fitato, que inibe a absorção de Cálcio, Magnésio, Ferro, Cromo e Zinco. 
Mas o que ainda é controverso? Pesquisas realizadas nos Estados Unidos evidenciaram que em pessoas diagnosticadas com câncer de mama e que começaram a usar a soja somente na idade adulta, o uso desse grão foi associado à menor ação do medicamento prescrito. Vale ressaltar que outros estudos, realizados em diversos países, não chegaram à mesma conclusão. Também é polêmica a informação de que a ingestão excessiva de soja por homens possa interferir na contagem dos espermatozoides, na diminuição da testosterona e na queda da libido. Todos os estudos que investigam esses fatores são realizados em animais e utilizam doses muito altas, por tempo prolongado, o que na prática um ser humano não faria.
Com relação às alterações na tireoide, pesquisas mostram que as isoflavonas podem provocar alterações de alguns hormônios tireoidianos e inibir o efeito das medicações prescritas para o controle da doença. Ressalta-se também que os estudos relacionando a interferência da soja nos hormônios tireoidianos são, em sua maioria, conduzidos em animais. Como não existe nada conclusivo, recomenda-se cautela no uso por pessoas que já apresentem disfunções na glândula.
E por último, a sempre polêmica questão do extrato de soja (vulgarmente conhecido como leite de soja) em substituição ao leite de vaca. O extrato não tem os mesmos nutrientes que o leite de vaca, em especial o Cálcio. Para crianças, o uso deve se dar somente com orientação de pediatra e nutricionista. Isso porque as bebidas à base de soja diminuem a capacidade do organismo de absorver alguns nutrientes e aminoácidos. Porém, com a industrialização, os efeitos negativos foram minimizados. A polêmica gira em torno do mal que supostamente a soja possa ter sobre o desenvolvimento hormonal de crianças, o que levaria à puberdade precoce. O fundamental, quando se trata de um assunto que ainda traz muitas dúvidas, é sempre seguir a premissa do consumo com moderação. Aliás, tudo em excesso faz mal.
 
Alessandra Nunes é especializada em Nutrição Clínica e mestre em Cardiologia, da clínica Salutem – Nutrição e Bem-Estar
 



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