Trapalhão assopra 80 velinhas

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Miriam Gimenes

Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo. O bacharel em Direito Antônio Renato Aragão, que hoje completa 80 anos, nem de longe imaginava que se tornaria conhecido em todo País com um nome, digamos, tão peculiar. Mas foi com o rapaz que fazia piruetas inimagináveis, metido a esperto e sempre a salvo de qualquer situação desfavorável, que conquistou o público e se tornou um dos maiores ícones do humor brasileiro.

Renato cresceu na mesma proporção da história da televisão, que completa 65 anos. Consagrou-se como um dos principais nomes da TV Ceará e voou, literalmente, para o Rio de Janeiro, onde logo foi contratado pela TV Tupi. Tempos depois, em 1966, foi para a TV Excelsior, onde entrou para a primeira formação de Os Adoráveis Trapalhões, ao lado de Wanderley Cardoso, Ivon Cury e Ted Boy Marino.

Mas foi com a segunda formação, com Dedé, Mussum e Zacarias, que o Os Trapalhões, primeiro televisionado pela Tupi e depois pela Globo, que o quarteto ganhou público estrondoso. O colunista de TV Flávio Ricco diz que ele sempre se mostrou o líder. “Isso causou alguns problemas entre eles, que acusavam Renato de cuidar só do lado dele. Não admitiam (a desavença) publicamente, mas existia. O que não implicava em prejuízo ao programa, que sempre foi um sucesso.”

Eles chegaram a se separar durante seis meses, em 1983, segundo o escritor Luis Joly, autor do livro Os Adoráveis Trapalhões. Na ocasião, Renato fez um filme e os três fizeram outro, que foram fracassos de bilheteria. Depois de um encontro de conciliação promovido por Beto Carrero, se abraçaram, choraram e fizeram as pazes. “O que perceberam é que para fazer sucesso precisavam dos quatro juntos.” Eles só se separaram definitivamente com a morte de Mussum, em 1994. Depois disso, Renato chegou a fazer um programa em Portugal e, em 1998, estreou A Turma do Didi, extinto em 2010. Em seguida foi ao ar As Aventuras de Didi, até 2013.

Desde então, ficou só com especiais na emissora. “Ele (Renato) se tornou figura importante na televisão. Mas na TV de hoje tudo depende do formato. Em novelas é mais fácil alguém de idade avançada ser aproveitado, mas no entretenimento isso é um pouco mais cruel. Os mais antigos vão sendo vistos como pessoas ultrapassadas e ele foi colocado nessa situação agora. O que é lamentável, porque tem muito a oferecer. É um humorista nato”, diz Flávio.

DEU RUIM
Coincidência ou não, depois disso, Renato passou por sérios problemas de saúde. Em março de 2014, no aniversário de 15 anos da filha Lívian, que é atriz e já participou de diversos filmes dele, teve um infarto agudo no miocárdio e ficou internado por quatro dias. Tempo depois voltou para o hospital com infecção urinária.

Flávio diz que, a exemplo de Xuxa, Renato deveria negociar com outro canal. “O que não está servindo para a Globo pode servir para outra emissora. Ele está um pouco acomodado lá. Qualquer mudança que se propusesse a fazer ia causar barulho grande.” Embora Renato não tenha declarado publicamente, o especialista acredita que não deve estar satisfeito com a situação, porque ‘é artista da televisão e deve estar se sentindo incomodado, como um leão na jaula.

Atualmente em cartaz no Rio de Janeiro com a peça Os Saltimbancos Trapalhões – ao lado da filha e de Dedé – o aniversariante recebeu homenagem pela data e declarou: ‘Vocês (público) me deram mais força para, de repente, trabalhar mais 80 anos”. Aí está a resposta do eterno trapalhão.

 

''Poderia ter o alcance de Chaves'' - Os Trapalhões entrou para o Guinness Book como o programa humorístico de maior duração na televisão: foram 30 anos. Mas por que a geração de agora não tem tanto apego ao quarteto brasileiro quanto tem pelo Chaves?
Segundo Luis Joly, a grande diferença foi o tratamento dispensado pelas emissoras.

Enquanto o SBT investiu nas reprises, a Globo fez o contrário. Assim que o Mussum morreu, fez especiais no horário do almoço, que deu certo, mas logo cessou. “O Chaves tem uma geração conectada nas redes sociais, com um poder de disseminação muito grande. E, por não ter sido perpetuado, Os Trapalhões ficou como um programa limitado à recordação.”

O fato é que, assim como no seriado mexicano, houve desavenças entre o grupo durante os longos anos de gravação e Renato assumiu o mesmo ‘papel’ atribuído a Roberto Bolaños, o de ‘líder individualista’. “Ele sempre foi uma pessoa polêmica nessa questão da liderança, só que a verdade é que os outros três nunca se preocuparam com essa questão financeira. Eles deixavam que ele tomasse as rédeas do programa”, conta o escritor.

Luis lembra um episódio em que estavam gravando na TV Tupi e Renato foi em um outro estúdio, o das novelas. Percebeu que as câmeras e lentes eram de materiais muito superiores aos que usavam com eles, o que o deixou muito irritado. “Imediatamente conversou com o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) para ir para a Globo. Ele se preocupava muito com a qualidade.”




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