Deleite visual em dose dupla

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Evaldo Novelini

Agora chegou a vez de Nelson Kon e Cristiano Mascaro estamparem duas novas obras da Coleção de Fotografia Brasileira, criada pela gráfica andreense Ipsis, que iniciou o projeto com volume sobre o trabalho de Araquém Alcântara. A especialidade dos dois novos projetos (R$ 49 cada) é a arquitetura. O volume dois da coleção traz trabalhos de Nelson Kon, o mais ácido e crítico dos dois profissionais. Os instantâneos do livro expõem a alma de cronista do fotógrafo. O protagonista que perpassa as páginas são as transformações que o ser humano impõe ao ambiente. O autor denuncia embates ferozes, como a especulação imobiliária, ideologias conflitantes, incongruências do jogo capitalista e agressões ao meio ambiente. A luta dos invasores da Serra da Cantareira, em São Paulo, contra a mata nativa, em imagem de 2003, é poesia pura.

Na página 115, mais um exemplo do encontro impetuoso entre desenvolvimento e meio ambiente: as duas pistas cinzas da Rodovia Imigrantes rasgando o verde-vivo das matas e das águas da Represa Billings, em imagem captada em 2001, em São Bernardo. “Nelson Kon, como as imagens deste livro atestam, é um inspirado cronista que se vale da paisagem urbana, das formas de apropriação do solo e, claro, da arquitetura para narrar tensões existentes nestas equações”, diz o curador da coleção, Eder Chiodetto.

O homem, cujos efeitos sobre a Terra protagoniza o livro de Kon, ganha rosto no volume três, dedicado a Cristiano Mascaro. Ele se personifica, por exemplo, na Moça em Corredor de Hotel (1975), na Artista de Circo (1975), na Travesti na Calçada da Avenida São João (1986), no Retrato de Homem com Ônibus (1975) e no Pedreiro com o Pé em um Banquinho (1986) – com exceção da última, registrada na capital maranhense São Luís, todas foram captadas em São Paulo.

A beleza das imagens é realçada pela utilização exata da luz. As fotos são tão realistas que quase se pode sentir o cheiro do suor do Halterofilista (1975) que se exibe em São Paulo ou a sensualidade da Moça Sentada em Cama de Hotel (1975) com as pernas roliças entreabertas sob vestido curto, também em solo paulistano. “Eu pedia para fotografar a pessoa na sua casa, no seu trabalho. Fui ficando cada vez mais à vontade com essa situação. As pessoas ficavam envaidecidas – era uma troca”, explica Mascaro. A Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira terá dez volumes.




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