A volta das cordas de aço

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Vinícius Castelli

 O encontro do argentino Victor Biglione com a música brasileira é a marca de seu novo disco Violão de Aço do Brasil (independente, R$ 25 em média). O álbum instrumental nasce ilustrado por 13 composições, quase todas releituras. O guitarrista homenageia vários artistas consagrados e traz à tona canções como As Rosas Não Falam, do mestre Cartola, e Fé Cega Faca Amolada, de Milton Nascimento.

Músico que já gravou com nomes como A Cor do Som, Wagner Tiso, Marcos Valle e Andy Summers, além, é claro, dos trabalhos solos, o argentino radicado no Brasil, agora, homenageia o violão com as cordas de aço que, para ele, anda bem esquecido. “Hoje é usado praticamente só ‘empunhado’ e, quando tocado, é mais para o acompanhamento de baladinhas pop. Pouquíssimos têm técnica e conhecimento para tocá-lo. O que é uma pena, pois o aço fez parte da nossa história com nomes como Dilermando Reis”, afirma o músico, em entrevista ao Diário.

Biglione buscou colocar no repertório temas que tivessem alguma relação com o som das cordas de aço e, também, com estilos e épocas distintas. Tudo para que o público tenha noção da importância do violão de aço em nossa cultura e na cultura sul-americana em geral, passando pelo samba, baião, tango, frevo e até jazz.

O disco conta com Tostão, tema de Milton Nascimento para o longa de mesmo nome, de 1970. Nessa canção, o músico coloca arranjos de influências andina e flamenca. Biglione apresenta ainda sua versão para Amazonas, assinada originalmente por João Donato e Lysias Ênio. Nela, o artista mostra versatilidade e dá ares ciganos à releitura. Nem suas raízes portenhas ficam de fora da empreitada no tango Por Una Cabeza, de ninguém menos do que Carlos Gardel.

Na obra o artista é acompanhado por diversos convidados especiais. Arthur Maia, Jorge Helder e Sergio Barrozo cuidam do contrabaixo. As teclas do piano ficam a cargo de nomes como David Feldman, Marcos Ariel e Zé Lourenço. Isso sem contar com o gabarito dos bateristas Jurim Moreira e Victor Bertrami, entre outros músicos.

Biglione conta que resolveu trabalhar com releituras por acreditar que hoje em dia as pessoas, em geral, não têm mais tempo para assimilar ou digerir novas canções. “Considero que fazer um arranjo é compor, pois você modifica totalmente uma música, ao mesmo tempo que os ouvintes identificam a melodia já conhecida, causando um processo muito gratificante”, explica.

Levar essas canções ao universo instrumental, sem uso de voz, não foi tarefa difícil para o artista. Segundo ele, todas as faixas escolhidas são clássicos deste universo. Mas ele diz que trabalhar com o formato não é algo fácil quando o assunto é o cenário musical. “O sistema tem utilizado a música de forma mais visual do que audível, valendo-se de clipes, filminhos, misturando com ‘bum-bums’, dancinhas etc, dificultando cada vez mais a apreciação, principalmente dos jovens”, afirma Biglione.




Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados