Mulher que vive o samba

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Vinícius Castelli

Mulher que nasceu, que vive no samba e que respira música, Mart’nália faz festa em cima do palco e celebra o gênero musical que é parte de sua história. Tudo está registrado em Mart’nália Em Samba! Ao Vivo, que chega ao mercado em CD e DVD (Biscoito Fino, R$ 24,90 e R$ 31,90, em média).
 
Resultado de registro feito em maio, no Rio de Janeiro, a apresentação é cheia de simplicidade, riqueza musical e animação. Além do roteiro do show, a direção também foi feita em família e é assinada por Martinho da Vila, pai da cantora e Mart’nália. “Fiquei à vontade com ele dirigindo. Já trabalhei com ele, cantando, fiz percussão para ele também. Foi muito legal poder contar com ele nesse trabalho”, explica a artista, em entrevista ao Diário.
 
Mais de 20 composições ilustram a obra ao vivo, algumas delas são medleys. Duas canções, bônus, gravadas no estúdio, são inéditas: Sinto lhe Dizer, assinada por Paulinho Moska, e Tem Juízo, Mas Não Usa, parceria de Lula Queiroga e Pedro Luís.
 
O repertório do show passeia por faixas que construíram a carreira de Mart’nália. Ela passa por seus seis discos de estúdio e solta a voz em faixas como Pé do Meu Samba, assinada por Caetano Veloso. Ela é a Minha Cara, Cabide e Boto Meu Povo Na Rua também integram o lançamento. O single do álbum é Peço a Deus, canção lançada em 1985 por Mestre Marçal.
 
“Fui cantando, cantando e cantando, e vendo como ficam as músicas. São uns sambas que canto ao longo da trajetória. Eram músicas meio que da carreira. Já fazem parte de mim. Já tinha feito Vinicius (de Moraes), de quem sou fã”, diz Mart’nália. Dele, ela faz digna releitura de Pra Quê Chorar, assinada junto com Baden Powel. Outro grande momento, com direito a belo arranjo de coro, é na faixa de Monarco e Ratinho, Coração em Desalinho.
 
Mas não para por aí. Mart’nália vai além e mergulha no cancioneiro que escuta desde sempre. Ela apronta um medley com Volta Por Cima, de Paulo Vanzolini, e Saudosa Maloca, do também saudoso Adoniran Barbosa, e mistura com muito bom gosto versos como Reconhece a queda e não desanima/Levanta, sacode a poeira/E dá a volta por cima e Saudosa maloca, maloca querida/Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas. “É todo mundo que ouvi e ouço ainda. É meu basicão, da minha vida toda”, diz a artista. Outro que ajuda a enriquecer o repertório é Noel Rosa, de quem a cantora empresta a faixa Feitiço da Vila.
 
O rapper Emicida é convidado especial e promove, ao lado de Mart’nália, mistura musical. Ele solta rima em duas canções, uma delas, Chiclete com Banana, de Jackson do Pandeiro. A outra é de sua autoria: Quero Ver Quarta-Feira.
 
Em momento de improviso, com voz, pandeiro e ajuda do público, Mart’nália lembra Jair Rodrigues e solta alguns versos da clássica Deixa Isso Pra Lá.
 
Momento de emoção fica por conta da homenagem a Emílio Santiago, morto em março de 2013. Ela apresenta o samba-canção Saigon e com todo seu coração canta para Emílio enquanto escuta o público cantar junto. Ela ainda apresenta Um Dia Desses, faixa de Carlinhos Brown e João Donato, gravada por Emílio. “Fazer a homenagem ao Emílio dá uma coisa. É algo que a gente só sabe na hora. Foi muita estrada com ele. Virei amiga, fiz vocais para ele. Foi um amigo que me ensinou muito. Ele cuidava de mim na noitada”, se lembra ela com carinho. “Ele é o veludo do samba. Que voz é aquela, vamos combinar?”, diz.
 
Em Um Dia Desses Mart’nália recebe sua sobrinha Dandara Ventapane para cantar junto. “A Dandara era só para dançar. Daí eu falei ‘tá ali mesmo, dá uma cantadinha’”, diz ela. Martinho também dá o ar da graça, sobe ao palco e solta a voz em Casa de Bamba, Segure Tudo, Nhem Nhem Nhem e Madalena do Jacu ao lado da filha.

Outra filha de Martinho, Analimar Ventapane também participa da festa. “Nepotismo musical pode”, brinca Mart’nália. “Os Caymmi disseram que pode, os Caetano também. Só na política que não. É um grande ‘dentro de casa’. É um presente que volta para mim. Ter os parentes todos juntos, sabe? Família respira junto. Fica todo mundo por perto, viaja, se diverte junto, e estamos trabalhando. Fui criada assim com meu pai”, encerra. 




Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados