Atenção à sua majestade, o dinheiro

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Andrea Ciaffone

 

Uma das maiores preocupações  quando o calendário vira é a questão financeira. Não é à toa que a canção-tema do Ano-Novo deixa claro o desejo de ‘muito dinheiro no bolso’. Mas, na visão de Reinaldo Domingos – um dos maiores especialistas brasileiros em educação financeira e finanças pessoais –, 2015 chega trazendo incertezas. “O mais importante é a decisão de buscar boa relação com o seu próprio dinheiro. “Geralmente um planejamento pessoal benfeito ajuda a minimizar os efeitos da macroeconomia”, observa Domingos em entrevista para a Dia-a-Dia.
“Pode parecer algo distante da rotina, mas essas alterações de rumo na macroeconomia devem, sim, ter consequências diretas na vida das famílias”, analisa. O que mais preocupa Reinaldo é o risco do estouro de uma bolha de crédito – o Brasil tem hoje 57 milhões de inadimplentes – e também da queda dos níveis de empregabilidade. “Tudo isto aciona o alarme para que as pessoas criem estratégias garantindo, assim, não só o seu sustento em caso de redução na renda, como também a realização do que alimenta a alma: os sonhos.”
O especialista afirma que é preciso se precaver em relação a algumas tendências que já são possíveis de distinguir, como o aumento da inflação, o dólar mais caro, a bolsa em queda e os juros em alta. A dificuldade geral pode fazer com que os consumidores não consigam honrar seus compromissos com os parcelamentos e acabem com o ‘nome sujo’. Quem não tem crédito não consome e sem circulação de mercadorias os empregos na produção correm risco. “A combinação pode gerar problemas no setor produtivo e retração nos índices de empregabilidade.”
De acordo com o educador, nos últimos anos os brasileiros melhoraram o padrão de vida porque se endividaram e não porque a sua  renda aumentou. “Ficaram reféns dos parcelamentos. Só que isso é perigoso, porque qualquer problema na entrada de dinheiro, como desemprego, a pessoa rapidamente perde os bens comprados”, observa. “Sobre a questão do emprego, cada família tem de olhar para a sua situação e ver por quanto tempo conseguiria sustentar seus pagamentos em dia no caso de uma diminuição ou perda da sua renda habitual.”
O fundador da DSOP, empresa que hoje possui 46 franquias e uma sucursal nos Estados Unidos, afirma que se em 2014 a economia andou de lado, em 2015 vem a ressaca, com empresas e famílias descapitalizadas. “O Brasil é um País em que não se guarda dinheiro.”
Um exemplo é o uso desenfreado do 13° salário. “As pessoas usam o dinheiro para pagar dívidas, o que é bom. Mas, é importante destacar que as dívidas são só o efeito. A causa das dificuldades é não fazer um bom diagnóstico das suas despesas e um bom planejamento do que fazer com seus ganhos”, aponta. O economista chama atenção para outra situação ilusória: os feirões de negociação de dívidas, comuns nesta época. “As empresas credoras querem receber e sabem que o consumidor está com mais dinheiro no bolso. Pode ser boa chance de resolver pendências, mas é preciso cuidado. Antes de ir é preciso saber exatamente quanto se tem disponível para o parcelamento de uma dívida. Se isso não for calculado, a pessoa vai pagar a primeira parcela este mês, aí entra janeiro com IPVA, IPTU, matrícula escolar e não dá conta de pagar. Resultado: vai ficar com o ‘nome sujo’ do mesmo jeito. Por isso, é preciso não se entusiasmar demais e ficar de olho no seu orçamento”, aconselha.
Para finalizar, Reinaldo sugere que as pessoas aproveitem a virada do ano para fazer diagnóstico preciso das suas finanças. “Faça isso em família para que todos participem e, caso seja preciso, entendam a necessidade de readaptar o seu padrão de vida. Procure estabelecer quais são os sonhos que são prioridades e trace estratégias para alcançá-los, o que inclui poupança para fins específicos, como troca de carro ou viagem para a Disney. As famílias têm de fazer planos para 2015, 2016 e 2017. Ah, e também para 2025 e 2035”.
Os brasileiros precisam definir seu momento. No geral, podem estar em quatro categorias: endividados (mas que estão pagando as prestações em dia); inadimplentes (não pagam as prestações há mais de 60 dias), equilibrados e investidores, que podem ser de curto, médio ou longo prazos e que, geralmente, possuem investimentos voltados para variadas conquistas. “Pode investir, por exemplo, em curto prazo para levar a família para viajar e longo prazo em previdência privada para quando se aposentar.” 
“É importante lembrar que onde existe crise também há oportunidade”, diz o especialista. “Use as incertezas em relação à economia em 2015 para criar as certezas nas suas finanças pessoais. Tome as rédeas do seu destino financeiro. E seja feliz no Ano-Novo e em todos os outros que virão”, deseja o economista.
 



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