Pitty

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Vinícius Castelli

Papo-cabeça

Naturalmente Visceral


Tudo na vida de Pitty é intenso e verdadeiro; talvez seja por isso que a roqueira deixa rastro e conquista legião de fãs por onde passa

 Foto: Divulgação

A garotinha que brincava na praia, na Bahia, podia até não imaginar o caminho que trilharia. Mas uma coisa era certa: a música já fazia parte dela. Aliás, quando questionada sobre sua lembrança mais antiga de contato com a arte, Pitty afirma que é a de antes de ‘ser gente’. “É algo muito antigo, parece que nasceu comigo. Meus pais sempre foram ligados à música e acho que isso fez com que fosse parte natural da minha vida. A paixão é irracional, instintiva e primal”, define Priscilla Novaes Leone, 37, em entrevista à Dia-a-Dia.
Quando criança, Pitty escutava LPs de historinhas. Contos como A Patotinha, porém, sediam lugar vez ou   outra na vitrola para John Lennon, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elis Regina e Celly Campelo. Os pais da cantora, de forma até inconsciente, ajudaram a rechear sua bagagem musical. Quando começou a ter autonomia, Pitty deixou A Patotinha de lado e inundou a vida de muito rock. “O primeiro disco que eu comprei com meu próprio dinheiro foi uma coletânea daquelas de balaio da Janis Joplin. Era adolescente, já trabalhava, e este era o que minha grana dava para comprar naquele momento. Me senti poderosíssima e muito independente”, relembra.
Mas como era para uma garota gostar de rock em meio aos ritmos fervilhantes da Bahia? “Era estranho e raro no começo”, lembra. Pitty se sentia “meio solitária naquela cena majoritariamente masculina”, mas, com o tempo, foi encontrando seu espaço e mais meninas chegaram e se enturmaram. Fez parte, inclusive, de uma banda só de garotas, a Shes. A artista sempre trabalhou duro, batalhou – e ainda batalha – , acreditou nos sonhos e hoje colhe os frutos do esforço. Seu primeiro disco como artista solo, Admirável Chip Novo, chegou às prateleiras em 2003. Logo de cara conseguiu emplacar canções  como a faixa-título e Teto de Vidro.
O que muita gente não sabe, porém, é que sua caminhada artística começou antes de Admirável Chip Novo. Um dos grupos que teve quando ainda não era conhecida do grande público foi o Inkoma, nos anos 1990. Mesmo com pouca idade, Pitty já era visionária, sabia o que queria e, para ela, aquilo não estava nem perto do suficiente. “Não me contentava em ter uma banda por hobby, queria ter um trabalho autoral e que fosse o meu meio de vida. Desde lá, venho batalhando para isso ser possível.”
Hoje é mulher feita (daquelas que deixam qualquer marmanjo de queixo caído) e adorada por seus fãs. Destemida, é conhecida no Brasil e fora dele. Vai ser presença VIP no palco do festival Lollapalooza, que será realizado em março de 2015, no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Até lá, sua agenda segue abarrotada. A cantora, inclusive, dará as caras pela região em show marcado para o dia 13 na Estância Alto da Serra, ao lado dos colegas da CPM22.
Além de Admirável Chip Novo, a discografia de Pitty é ilustrada por Anacrônico, Chiaroscuro, A Trupe Delirante no Circo Voador e, o mais recente de estúdio: SETEVIDAS. O álbum foi lançado após hiato de cinco anos e é o preferido da cantora. Para ela, é o mais diferente de todos os ou tros. Pitty enxerga  o CD como um caminho que foi trilhado, um passo para chegar musicalmente onde está. “Isso vem sendo construído com aprendizado, experiência, erros e acertos. Acho que, com este disco, cheguei num lugar sonoro que desejava há muito tempo, mas ainda não sabia como.”
SETEVIDAS rendeu a ela dois clipes, um da canção que leva o nome do álbum e outro para a música Serpente. Além disso, são inegáveis o salto que Pitty deu como compositora e a qualidade de arranjos que suas canções ganharam. Não que não houvesse antes, mas o amadurecimento agora é escancarado. Tanto que está feliz com o resultado da sonoridade, recepção dos vídeos e shows da turnê. “Estamos numa fase muito bacana, plena e revigorada”.
Pitty é firme em apontar o favorito de sua autoria, mas fica em dúvida em relação aos trabalhos de seus artistas queridos. “Para falar de coisas recentes tem o Like Clockwork, do QOTSA, o AM, do Arctic Monkeys, e o último do Tame Impala”. Além do mais, a cantora não é do CD, gosta mesmo é do som do bom e velho disco de vinil, tanto que SETEVIDAS também ganhou versão em LP. Mas novas tecnologias não ficam de fora da sua vida. Quando está na rua,  opta pelo streaming (forma de distribuição de dados). Pitty também tem o hábito de buscar novas bandas. Ela diz gostar de saber o que está rolando por aí. “Me interesso tanto por discos gringos quanto por nacionais. É forma de estar conectada ao futuro e não me prender ao passado. Procuro sempre rejuvenescer musicalmente e ideologicamente”, explica a artista.

Foto: Divulgação

ENTRE LINHAS
Entre o tempo que dedica às composições, Pitty adora ler. Ela diz que a leitura é algo que a inspira e a alimenta muito. A artista também não consegue escolher um livro predileto, mas está amando a biografia da artista mexicana Frida Kahlo. Falando em biografia, a cantora também tem a sua. Na verdade, trata-se de uma cronografia (cronologia em fotografias), em que – mesmo discreta e não muito fã de comentar sobre a vida pessoal – abriu o baú da família para ilustrar sua trajetória na Terra. As fotos estão em Pitty – Cronografia: Uma Trajetória em Fotos (Edições Ideal, 160 páginas, R$ 64,90, em média). É narrada em primeira pessoa e recheada por imagens que mostram desde sua infância em Salvador aos shows lotados de hoje. Ela aproveita o espaço das páginas para contar também das fitas K7 e de quando conheceu o som do Pink Floyd e AC/DC. Pitty também deixa aflorar seu sex appel – tão natural e incontestável – e aposta em poucas fotos mais sensuais.
Ela conta que a repercussão da obra tem sido muito boa e que as pessoas comentam bastante. “Os amigos que participaram desta história ficaram felizes com o resultado. Era uma ideia que queria realizar há um tempão em formato diferente que gostaria de experimentar. É para quem gosta do meu trabalho entender de onde vim, o que aconteceu até chegar aqui e como isso ajuda a definir como sou hoje”. Pitty é categórica ao falar das coisas mais importantes que a música lhe oferece: “Dignidade e meio de expressão. Me dá voz e



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