São Pedro é conhecido como ‘o porteiro’ do céu graças a uma passagem bíblica, na qual Jesus se volta para ele e diz: ‘Te darei as chaves do reino e o que ligares na Terra será ligado nos céus’. Crenças do cristianismo à parte, São Pedro previu as emoções afloradas que McCartney provocaria em suas quase três horas de show e mandou muita chuva para lavar a alma do público. Bastava olhar para os lados e facilmente via-se lágrimas, que se confundiam com as gotas que caiam do céu.

A segunda e última apresentação da turnê Out There no Brasil, anteontem em São Paulo, começou com atraso de 45 minutos. No meio da apresentação, a chuva deu uma trégua, mas depois voltou mais intensa, até o último bis. No começo, o que parecia ser incômodo virou atração extra e deu ar dramático a Let it Be, Live and Let Die e Hey Jude, os hits que mais comoveram a plateia. Outro ápice do show foi em Blackbird, quando citou a inspiração no movimento negro norte-americano e em Here Today, dedicada a John Lennon.

Aos 72 anos, o artista literalmente arregaçou as mangas já no início do show e ostentou uma pulseirinha artesanal verde-limão em seu punho esquerdo, que destoava do figurino tradicional usado pelo ex-Beatle. O acessório tinha um significado especial: foi presente de um garoto de 10 anos, Matheus Bustamante Bettiato, que usou as redes sociais para vender as pulseiras que ele mesmo confecciona com o objetivo de comprar um par de ingressos para o show. Sua tia Danila Bustamante o ajudou em todo o processo, e comentou o encontro com o ídolo em sua rede social. “Paul escreveu: ‘Matheus, you are the bracelet boy! (...você é o garoto da pulseira)’ e para mim: ‘Ah, the super aunt (...a supertia)’, conversamos por uns cinco minutos e ele usou nossa pulseirinha no show todo”, vibrou.

Entre os grandes sucessos dos Beatles e músicas de sua carreira solo, McCartney intercalava interações com os fãs. Esbanjando simpatia, arriscou ‘é nóis’, ‘valeu’, ‘obrigada paulistanos’ e muitas outras gracinhas que tornaram a empatia entre a plateia e astro um show à parte. Outro ponto alto foram as canções dedicadas aos dois grandes amores de sua vida. Valentine, para sua atual mulher, Nancy Shevell; e Maybe I’m Amazed, para sua ex-mulher Linda McCartney, que faleceu em 2008 em decorrência de um câncer.

A plateia se comoveu em ambas as faixas. Valentine emocionou também pelo vídeo que passava no telão, o clipe oficial protagonizado por Natalie Portman traz a atriz interpretando a letra da música na linguagem de sinais. Todos saíram em estado de êxtase, dos mais velhos aos adolescentes. O que se escutava era um grande coral de ‘que show inesquecível’.