Dos cinemas para a vida real

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Renato Cunha <br> Especial para o Diário

Quem nunca imaginou que o comunicador sem fio usado pelo Capitão James T. Kirk, da Enterprise, para conversar com seus tripulantes em missões avançadas estaria, um dia, sendo vendidos nas lojas? Pois aconteceu e é por essas e outras que o gênero ficção científica é um dos mais prestigiados na literatura e no cinema. Foi criado em meados do século 19, justamente, para lidar com os impactos da ciência no mundo. Um dos pioneiros no gênero é o francês Júlio Verne, autor dos clássicos Viagem ao Centro da Terra e Vinte Mil Léguas Submarinas. Uma das vantagens da ficção é que os autores têm liberdade para imaginar coisas novas e valorizam o papel dos cientistas nas tramas, como em O Médico e o Monstro e Frankstein.

Fábio Barreto, autor premiado de ficção científica e cineasta em Hollywood, comenta sobre as virtudes do gênero. “A ficção científica é importante, pois permite a experimentação e o sonho. Ela não tem limites. Tudo é possível, contanto que aja conhecimento e bravura”, aponta. Ele comenta também sobre a mais nova obra da ficção científica, Interestelar de Christopher Nolan, em cartaz nos cinemas da região. “Acredito estarmos diante de um novo mergulho ao desconhecido e a nós mesmos.”

Sobre as invenções da ficção que se tornaram realidade, a série Jornada nas Estrelas sempre é lembrada. “O telefone celular, inspirado nos comunicadores de Jornada nas Estrelas, sem dúvida, foi o mais relevante atualmente”, lembra. Já o professor e físico Pierluigi Piazzi, destaca os computadores da série. “No seriado vemos o Sr. Spock transferir os dados de um computador para outro usando um quadradinho de plástico que seria o precursor do disquete (hoje já superado pelo cartão de memória)”, completa.

Piazzi declara-se muito fã do gênero e explica o motivo de achá-lo tão fascinante. “É a forma de ficção que mais desperta a imaginação das pessoas. A liberdade de escolha do personagem é virtualmente infinita”, explica. Para o educador, o gênero deveria ser usado nas escolas, para ajudar na evolução da educação. “Se em vez de encher a cabeça dos alunos com autores chatos as escolas escolhessem Isaac Asimov, Arthur Clarke, Julio Verne, Úrsula le Guinn e tantos outros, teríamos estudantes mais inteligentes e deixaríamos de ser um País atrasadíssimo do ponto de vista científico e tecnológico”, propõe Piazzi, que completa: “No fundo, ao contrário do que muitos pensam, a ficção científica não prevê o futuro, ela cria o futuro.”

Algumas ideias da ficção científica que se tornaram realidade

Celulares e Tablets – O seriado estadunidense Star Trek (Jornada nas Estrelas), criado por Gene Roddenberry, em 1966, foi inovador em muitos aspectos, entre eles o das invenções. Segundo dados preliminares da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) – do fim de setembro - são 278,1 milhões de celulares no mundo, o que significa mais de um aparelho por habitante. Nada disso estaria acontecendo se o Capitão James T. Kirk, da Enterprise (nave espacial do seriado) não usasse um comunicador sem fio para conversar com seus tripulantes em missões avançadas. Inspirado pelas aventuras de Kirk, Spock e McCoy, Martin Cooper inventou, em 1973, o primeiro aparelho móvel do mundo. A empresa Motorola tem em sua logomarca um traço da série. O ''M'' é formado por dois símbolos da Frota Estelar. Já o tablet, apareceu pela primeira vez na continuação da franquia, intitulada Star Trek: The Next Generation (Jornada nas Estrelas: A Nova Geração). O dispositivo se chamava PADD (Personal Access Display Device) e permitia que os tripulantes acessassem bases de dados remotamente, apenas com o toque do dedo na tela. O inventor do iPad, Steve Jobs, usou a readaptação de Star Trek para divulgar o novo produto da Apple, em 2009.

Internet – Essencial na vida de mais de 100 milhões de brasileiros, foi criada na década 1970 para fins militares na Guerra Fria e também para comunicação acadêmica das universidades estadunidenses, se popularizou com a criação da World Wide Web (www), no início da décdada de 1990. Um dos responsáveis foi Tim Berners-Lee, fã de um autor de ficção científica, chamado Arthur C. Clarke. A inspiração para a criação da internet veio da obra Dial F for Frankestein (Disque F para Frankestein), escrita em 1964. As contribuições de Clarke não param somente na internet. Você poderia não estar assistindo seu programa favorito em uma TV por satélite se não fosse o autor. Isso porque, em 1945, ele publicou um artigo em uma revista chamada Wireless World, em que descrevia como um satélite poderia ser colocado em órbita estacionária ao redor da Terra. Na época, não foi levado a sério. Mas, vinte anos mais tarde, foi lançado o primeiro satélite comercial nesse formato. Então, a órbita geoestacionária passou a se chamar Clarke Orbit (Órbita de Clarke) ou Clarke Belt (Cinturão de Clarke).

Livros eletrônicos – O Kindle foi inventado em 2007 e é uma facilidade para os amantes de tecnologia que gostam também de ler um bom livro. Contudo, na mente de Douglas Adams, autor do livro de ficção científica Guia do Mochileiro das Galáxias esse aparelho já existia. Outra invenção da obra é um tradutor computadorizado que, no livro, era um peixe colocado no ouvido da pessoa que traduzia qualquer língua para o entendimento do usuário da tecnologia. O tradutor inventado, chama-se Babel Fish, mesmo nome do livro e é um dos maiores tradutores online da atualidade.

Outras invenções importantes – O exoesqueleto foi retirado da história Waldo, de 1942, que é sobre um mecânico, que nasceu sem força para mexer os membros e acaba criando próteses robóticas para auxilia-lo nos movimentos. A tecnologia existe e é usada, entre outras coisas, para práticas nucleares. A calçada dos Jetsons (animação futurística dos anos 1960) faz com que as pessoas não precisem andar para se locomover. Hoje em dia, as esteiras de supermercados fazem basicamente a mesma coisa, para que você suba andares com o carrinho.




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