Força de Jorge

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Andréa Ciaffone

Hoje à noite, quando Jorge Ben Jor entrar no palco do Espaço das Américas, em São Paulo, vai acontecer o fenômeno sísmico-astrológico-religioso musical que só ele é capaz de gerar com sua mistura indefinível e extremamente pessoal de samba, rock ‘n’ roll, swing, black music em canções temperadas pelas batidas das religiões afro-brasileiras. Ben Jor é a síntese do que há de mais brasileiro e de mais internacional já criado na MPB.

A capacidade do músico de criar um som único e pessoal se manteve inalterada ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira. Até a tarde de hoje ele estará em estúdio no Rio de Janeiro, onde grava seu próximo trabalho. A programação é chegar a São Paulo no fim de tarde e já ir para o local do show.

A vitalidade que ele demonstra nas composições e no palco também se reflete na sua agenda, sempre cheia de shows que, na verdade, desafiam o conceito normal das apresentações de músicos consagrados. Ben Jor transforma suas performances em verdadeiras celebrações que, não raro, ultrapassam as duas horas de duração e podem, dependendo da energia da plateia, chegar a três horas.

Um coisa interessante sobre esse artista, que completa 70 anos em 22 de março do ano que vem, é que ele congrega fãs de todas as idades – literalmente. Gente que já era adulta e fã de Bossa Nova ficou de queixo caído quando, em 1963, aquele garoto do subúrbio carioca apareceu com uma variação inovadora de ritmo.

A proposta do long-play ''Samba Esquema Novo'' demonstrava parentesco com o ritmo criado nos apartamentos da Zona Sul do Rio de Janeiro, mas que trazia uma inegável miscigenação. Na outra ponta do espectro musical da época, os jovens fãs do iê-iê-iê que depois formariam a Jovem Guarda, também o reconheciam como um deles. Elis Regina, quando ainda cantava no Rio Grande do Sul, ficou encantada com a proposta musical de Jorge Ben.

Nesse disco, o grande hit foi ''Mas Que Nada'', canção que até hoje está entre as de origem brasileira mais tocadas no planeta. Há quem afirme, inclusive, que até é mais executada que Garota de Ipanema. Isso faz sentido porque já foi regravada por artistas dos mais diversos estilos, como Ella Fitzgerald, Dizzy Gillespie, Al Jarreau, Herb Alpert, José Feliciano e Trini Lopez. Na década passada, voltou a ser hit graças à versão do pianista brasileiro Sérgio Mendes com o grupo de hip hop norte-americano Black Eyed Peas. Em 2011, a banda britânica Coldplay mostrou sua interpretação do clássico no Rock in Rio de 2011.

O fato é que a obra de Ben Jor é suficientemente forte para se renovar continuamente e, com isso, conquistar novas gerações. Poucos artistas sexagenários são tão conhecidos e prestiados pelo público jovem brasileiro (de todas as épocas) quanto Jorge.

Nos anos 1980, o artista investiu na carreira internacional e ganhou ainda mais fãs na Europa e Estados Unidos. O sucesso o obrigou a mudar de nome. “Alguma coisa acontecia e os meus direitos autorais iam parar na conta do George Benson. Aí, para parar a confusão, achei melhor mudar”, conta ele sempre que perguntam.

A mudança ocorreu em 1989 e muitos disseram que era por causa de numerologia. Pode ser que essa arte esotérica tenha tido alguma influência na escolha do novo nome, mas o que fez a lenda que teria sido uma recomendação do ‘astral’ pegou por dois motivos. O primeiro é que Ben Jor é muito religioso. Chegou a fazer um disco inteiro em homenagem a São Jorge, ou Ogum, seu santo na tradição afro-brasileira. O segundo motivo foi a enorme onda de sucesso que experimentou depois da mudança.

No começo dos anos 1990, toda a geração que nasceu depois do estouro de ''Mas Que Nada'', ''País Tropical'' e ''Zazueira'' ganhou um novo Jorge, agora chamado de Ben Jor, que embalou a geração com o hit ''W/Brasil'' e com o disco ''23'', fez a turma se acabar de dançar em bailes e shows em que, muitas vezes, trazia como convidado mais que especial Tim Maia, o amigo de longa data, com quem tinha imensa afinidade. Nas apresentações com Ben Jor, Dom Maia não faltava, não dava vexame e até reclamava menos da falta de retorno no áudio do palco.

Quem viu os dois juntos em situações prosaicas, como em check-in de aeroporto, percebia a capacidade de Jorge de fazer com que Tim mostrasse o seu lado mais amável, brincalhão e bem-humorado. Afinal, não existe ninguém mais Salve Simpatia neste País Tropical do que o líder da Banda do Zé Pretinho. Dessa energia de luz, nem o Síndico escapava.

Jorge Ben Jor Show. Hoje, às 23h. No Espaço das Américas – Rua Tagipuru, 795, São Paulo. Tel.: 2027-0777. Ingressos: R$ 50 a R$ 160 (vendas na bilheteria do local ou por meio do site www.ticket360.com.br)




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