A primeira vez que o brasileiro ouviu falar de Black Bloc foi durante os protestos que começaram a eclodir pelo País em junho de 2013, contra o reajuste de R$ 0,20 nas tarifas do transporte público. Mas os ideais dos mascarados vão além do desconto, obtido graças à resistência e aos gritos de milhares de pessoas que tomaram vias e praças pouco mais de um ano atrás. A opinião é do jornalista e diretor da Geração Editorial, Willian Novaes, que falou com o Diário sobre o livro Mascarados, do qual é coautor. Abaixo, confira os principais trechos da conversa:
Como surgiu a ideia do livro?
A Geração Editorial é uma editora provocativa e sempre tem a proposta de publicar os Instants Books, ou seja, livros com temas atuais. Desde a primeira manifestação e depois com onda que espalhou pelo País, queríamos publicar algo sobre este tema. Não queríamos livros sobre análises, mas sim jornalismo e, se possível, de qualidade. Recusamos algumas propostas e em abril de 2014, fui contatado pelos outros autores. A soma de esforços foi perfeita para a publicação de Mascarados.
Você conversou com os black blocs. Como foi o acesso a esses personagens?
A professora Esther (Solano, coautora) foi fundamental para apresentar essa turma, que tem admiração muito forte pelo trabalho dela. Mesmo assim, as entrevistas começaram tensas e aconteceram nos mais inusitados lugares. Alguns pediam para desligar celulares, existia paranoia de segurança e desconfiança em relação ao trabalho. Afinal, estavam abrindo suas vidas e razões para enfrentar o Estado, com pedras e disposição.
A cobertura da mídia teria sido responsável por marginalizar o movimento Black Bloc. Houve exageros?
É uma tática marginal por essência. Eles souberam aproveitar cada espaço com suas ações diretas. Foi um jogo. Na minha visão, eles venceram ou, pelo menos, não perderam. Faltou sim a imprensa dar espaço a eles, sentar e tentar ouvir essa turma e não apenas dar closes nas ações.
O governador Geral Alckmin e a presidente Dilma Rousseff acabam de ser reeleitos. Foi tudo por causa dos R$ 0,20?
Não foi mesmo. Os dois governantes foram omissos em relação aos black blocs e às próprias manifestações. Não queriam manchar suas campanhas. Principalmente o Alckmin. O governador simplesmente passou o problema à PM. Os soldados e oficiais perceberam que eram utilizados como massa de manobra. Esse talvez tenha sido um motivo para não ter havido uma ou várias mortes entre os black blocs.