Seis décadas sem Oswald

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Miriam Gimenes

Como poucos, ele conheceu as lutas e as tempestades. Como poucos, amou a palavra liberdade e por ela brigou. Oswald de Andrade (1890-1954), o mais rebelde e polêmico dos modernistas, deixou o mundo há exatos 60 anos. Em tempos em que o nacionalismo está latente por conta das eleições, foi um grande defensor da cultura brasileira e precursor de importantes movimentos, como o tropicalismo da década de 1970.

Oswald, que atuou como romancista, jornalista, escritor, poeta, ensaísta e dramaturgo, era dono de uma personalidade peculiar. Com a frase “Carlos Gomes é horrível”, deu o pontapé inicial àquela que seria uma semana histórica para a arte e cultura brasileiras e conseguiu o que queria: polêmica. O auditório do Teatro Municipal de São Paulo veio abaixo, tamanha a quantidade de vaias e insultos. Assim nasceu a Semana de Arte Moderna de 1922.

A presidente da APL (Academia Popular de Letras) de São Caetano, Ana Maria Guimarães Rocha, disse que sua atuação no cenário da época foi um divisor de águas para a sociedade brasileira. “Ele era um provocador, que promoveu muito a nossa cultura, a nossa arte. Gerou não só uma nova linguagem, mas abriu espaço para nossos autores.”

Em 1924, escreveu o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, apresentando as noções estéticas que nortearam o seu trabalho em poesia e o de outros modernistas brasileiros. A intenção era que o País exportasse a cultura – assim como foi feito com a árvore que deu nome à obra – e não apenas copiasse o que vinha de fora.

O escritor questionava, essencialmente, o status quo, ia contra a corrente – costumava criticar os colegas e, posteriormente, chegou a questionar a própria Semana de Arte Moderna –, o que o levava a ser considerado ‘espírito de porco.’

Segundo a escritora e historiadora Marcia Camargos, por essas postura, ele foi ao longo da vida fazendo e desfazendo amizades, principalmente com Mário de Andrade, que, embora tivesse personalidade oposta à dele, era quase sua ‘alma gêmea’. “Poderíamos dizer que Mário foi quase um casamento homossexual, mas sem vias de fato”, analisa Marcia, tamanha cumplicidade dos Andrade. Quando Mário morreu, Oswald lamentou não terem feito as pazes.

O escritor foi casado com a pintora Tarsila do Amaral e, depois, com a escritora Pagu. Ambas tiveram grande influência em suas obras. O quadro Abaporu de Tarsila, por exemplo, foi quem deu a ideia ao escritor para escrever o Manifesto Antropofágico, em 1928. A intenção era deglutir o estrangeiro e transformá-lo em um produto brasileiro, sem negar a influência. Ele antevia o que hoje chamamos de globalização.

Se fosse vivo, segundo Márcia, estaria antenado com as modernidades, já que era um homem à frente de seu tempo. “Ele já escrevia pensamentos soltos. Hoje ele seria, com certeza, um tuiteiro.”

 




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