Aberto para análises

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Gustavo Cipriano <br> Do Diário do Grande ABC

Quem for assistir a Relatos Selvagens, de Damián Szifron, na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pode ter duas impressões. Ou sairá da sala achando que perdeu 122 minutos da sua vida com série de contos violentos completamente malucos e sem pé nem cabeça ou achará uma excelente produção, por justamente chamar a atenção de até que ponto chega o ser humano na depressão e na perda do seu controle emocional.

A verdade é que o filme argentino, que abriu o tradicional festival e estreará no circuito de maneira oficial na quinta-feira, permite as duas análises. A série de seis relatos passeia na linha tênue entre o exagero e a criatividade. Logo no início, o primeiro conto não impressiona. É a velha história de várias pessoas dentro de um avião que conhecem um mesmo rapaz. O personagem se transforma no centro das atenções até a chegada do clímax final.

O que se sucede são duas histórias que até tentam transmitir uma mensagem, mas ela se perde na apelação dos atos violentos apresentados. A cozinheira que esfaqueia até a morte um de seus clientes e o rapaz rico que briga no meio da estrada encobrem qualquer que tenha sido a intenção do diretor. “Eu, na verdade, não comecei a fazer as histórias já pensando em passar uma mensagem ou algo assim. Conforme o conflito ia avançando, eu ia avançando junto e me surpreendendo”, diz o diretor, que está na Capital para a mostra cinematográfica.

Porém, Damián têm seu êxito na segunda metade do filme. Os três últimos relatos selvagens presam mais pelo drama do que pela violência. Destaque para os desfechos surpreendentes. A história de um engenheiro (Ricardo Darín) que começa a ficar cada vez mais nervoso com o sistema de guincho corrupto da cidade traz intrínseca uma crítica contra o Estado e suas instituições. As expressões faciais do personagem e a trilha dão o tom de um suspense que parace muar de estilo até o fim da história.

O último conto, porém, é o que provavelmente mais fará com que as pessoas se lembrem desse longa. Ele traz Erica Rivas interpretando uma noiva em plena festa de seu casamento. No meio dos festejos, ela começa a desconfiar que seu marido a está traindo. Os mais diferentes sentimentos são muito bem interpretados por Erica em sua personagem, que transforma a festa em uma verdadeira balbúrdia. Ela empurra a moça que desconfia de estar com seu marido por uma janela de vidro, faz escândalo no meio de todos e ainda precisa de paramédicos após uma briga.

“Era tudo que eu queria fazer nesse momento. Sempre penso muito no que comunico quando atuo. É uma personagem cheia de emoções, em que depois de tudo aquilo, tem que se encontrar mais uma vez com si mesma, assim como o marido. Foi um presente de Damián”, diz a atriz, também participantes da comitiva argentina no Brasil.

Enfim, a produção, que representará a Argentina na tentativa de uma vaga entre os indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar do ano que vem, irá dividir opiniões, mas a bilheteria promete ser boa, já que chama a atenção tanto de quem gosta de ver sangue quanto de quem gosta de assistir um bom roteiro em prática.




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