Derrotados do golpe de 1964 dão a volta por cima

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Evaldo Novelini <br> Do Diário do Grande ABC

Daqui a 13 dias, dois dos ‘subversivos’ derrotados pelos coturnos do regime militar (1964-1985) vão disputar a eleição para a Presidência da República. Dilma Rousseff (PT), que concorre a mais quatro anos de governo, e Aloysio Nunes Ferreira Filho, vice na chapa encabeçada por Aécio Neves (PSDB), são personagens de Os Vencedores, catatau de 856 páginas, lançado pela Geração Editorial, que traz o subtítulo A Volta por Cima da Geração Esmagada pela Ditadura de 1964.

“É incrível notar que o passar do tempo transformou os derrotados em vencedores. Hoje, no período democrático, são as vítimas da ditadura que dão as cartas”, explica o jornalista gaúcho Ayrton Centeno, 65 anos, autor do livro. “Alguns morreram nas mãos do Estado, mas os vivos falam pelos mortos”, completa.

Nos tempos do regime de de exceção, Aloysio Nunes, 69, era filiado à ALN (Ação Libertadora Nacional) e servia de motorista ao líder Carlos Marighella (1911-1969) e em algumas das ações da guerrilha, como o assalto ao trem pagador, em agosto de 1968. Foi perseguido e precisou se exilar na França. Já Dilma, 66, também integrava grupos de esquerda e, por isso, passou três anos presa, entre 1970 e 1972. Na cadeia, foi torturada.

Luiz Fernando Emediato, editor da Geração, conta que Dilma e Aloysio não são exceções. “Meio século depois, com a lenta decantação dos fatos, o panorama é outro. Por engenho e arte da história, os vitoriosos de ontem sofrem a irrelevância, amargam o ostracismo e sonegam seu passado de supostas glórias. Ao contrário, os derrotados de então são os vencedores de hoje.”

Exilados, presos, torturados e proibidos durante a ditadura, prossegue Emediato, hoje eles se tornaram presidentes, ministros, governadores, intelectuais, artistas, cineastas, músicos e jornalistas. Mesmo José Dirceu e José Genoino, presos por participação em esquema de corrupção, podem ser considerados vencedores? “Digo que sim. Não em relação ao momento atual, mas eles foram reintegrados após a ditadura. Um virou ministro e o outro foi uma das cabeças pensantes mais atuantes do Congresso Nacional”, sustenta Centeno.

GRANDE ABC

O Grande ABC se torna personagem do livro quando vê, no fim dos anos 1970, Luiz Inácio Lula da Silva encher o Estádio 1º de Maio, em São Bernardo, com trabalhadores em busca de melhores condições. Ainda eram derrotados, mas a situação começaria a se inverter. A virada daria passo decisivo em 1º de janeiro de 2003, quando o ex-sindicalista subiria a rampa do Planalto como presidente eleito.




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