'Perdi meus braços e pernas aos 18 anos'

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Pedro Pimenta

De um dia para o outro, a vida e a história de Pedro Pimenta, hoje com 23 anos, tomaram rumo completamente diferente do que qualquer um poderia imaginar. Aos 18 anos, o paulistano comum de classe média e muitos sonhos, passou mal quando almoçava com os amigos. Acordou no hospital com a notícia de que seria obrigado a amputador os membros inferiores e superiores por causa de infecção generalizada causada por meningite meningocócica. “Dei entrada no hospital com chances ínfimas de sobrevivência. Conclui que para voltar a levar uma vida normal dependeria principalmente da minha força de vontade.” Determinação não faltou para Pedro, que dá palestras e registrou a sua história no livro Superar é Viver – Enxergar os Seus Limites é Diferente de Aceitá-los (Leya, 288 páginas, R$ 36,90). Confira seu depoimento.

 

“Se, quando fiz 18 anos, alguém me dissesse que em poucos meses eu perderia meus braços e pernas, responderia que era melhor morrer. Não podia imaginar como viver e ser feliz sendo tetra-amputado. Assim como não acreditaria que, menos de cinco anos mais tarde, estaria em cima de um palco dando palestras, trabalhando como mentor, orientando e servindo de inspiração para outras pessoas.

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Pedro cumpre as tarefas diárias

Quando você está em uma situação de conforto e sabe que terá grandes dificuldades pela frente, sua primeira reação é dizer para si mesmo ‘não tenho como aguentar’. Porém, quando, de uma hora para outra, você se encontra em situação adversa da qual não há escapatória, você tem duas opções: entregar-se ao desânimo e à tristeza, ou enfrentar os obstáculos. Sempre escolho a segunda, pois aprendi que as soluções só aparecem quando você encara os problemas.

Sou um garoto paulista de classe média que, como tantos outros, ainda não tinha definido que carreira seguir. Alguém que sofreu terrível fatalidade, aprendeu a encarar as consequências e se tornou um homem que supera suas dificuldades com determinação e trabalho duro. Mas não se engane: apesar do curto espaço de tempo – pouco mais de quatro anos – esse foi um processo árduo repleto de momentos de medo, insegurança e muita dor.

Olhando para trás, a maior lição que aprendi foi o quão importante é a cabeça estar bem. No período que vai até pouco depois das amputações, eu chorava o dia inteiro, com um medo que me impedia de pensar em qualquer outra coisa. Foi o momento mais sombrio da minha vida. Mas, aos poucos, ainda no hospital, a ficha da minha nova situação foi caindo. Encaro meus braços e pernas como ferramentas que perdi. Elas foram substituídas por outras que não funcionam tão bem, mas que me possibilitam fazer quase tudo que fazia antes. De modo diferente, mas que de forma alguma condicionam a minha felicidade. A felicidade não deve estar relacionada à condição física.

Quando era adolescente, tinha mentalidade muito mediana, sem grandes ambições: queria cursar uma boa faculdade, arrumar um emprego, ter sucesso financeiro e profissional. Sei que dificilmente teria alcançado meu atual grau de desenvolvimento psicológico, social e intelectual sem ter passado por tantas adversidades. Acho que o Pedro de antes precisava ter planos mais grandiosos para o futuro dele, e não apenas seguir com a boiada. ‘Seja mais ousado e pense maior’, seria o meu conselho para o Pedro Pimenta de 18 anos. Aquele Pedro com certeza teria enorme admiração pelo Pedro de hoje.

A transformação de um rapaz fraco, que começava a ganhar peso e dependia de alguém empurrando sua cadeira de rodas, no cara que sou hoje, independente e que mora sozinho, foi marcado pela ajuda de algumas pessoas que me levaram a atingir limites além do imaginável, como minha namorada Alisson, a equipe da Hanger, companhia norte-americana que produz próteses, outros amputados e, claro, minha família e amigos, que estiveram e continuam por perto.

Minha vida é uma luta diária, acompanhada sempre pela dor. Não mato um leão, mas um zoológico por dia. Enquanto escrevo, estou com uma ferida no braço causada pelo atrito da prótese contra o osso. Todos os dias preciso acordar mais cedo para colocar minhas próteses. É uma provação cotidiana; não é um trabalho de reabilitação que, depois de finalizado, traz sua vida de volta ao normal. Esse é meu estado normal.

Não posso me dar ao luxo de deixar minhas amputações se colocarem no caminho da minha realização pessoal. Por isso, quando estou para baixo, coloco o pé no acelerador. Em vez de me encolher, eu me jogo no mundo. Meu único temor é não conseguir progredir e me desenvolver no relacionamento com outras pessoas.

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O garoto curte muito se movimentar

Penso no longo prazo: focalizo um objetivo, divido-o em pequenas metas e começo a trabalhá-las, uma a uma. Mantenho o foco no futuro enquanto trabalho no presente. Isso vale para minha produção musical, minha faculdade, meu trabalho, meus exercícios de fortalecimento da academia. Para não se deixar abalar pelas adversidades, é preciso ter foco.

Quando acordei pela primeira vez após as amputações, olhei para baixo e percebi que não havia mais volta: nunca mais teria meus braços e pernas. Senti um medo do futuro e do que ele guardava para mim. ‘Como vou viver mais 60, 70 anos assim?’, perguntei-me. Muitos entram em depressão por conta da a ausência de esperança que a situação traz. Eu passei por isso. Mas, agora, sinto-me diferente. Depois de mais de quatro anos como tetra-amputado, essa ‘nova’ condição deixou de ser novidade. Nos primeiros dois anos eu so



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