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Miriam Gimenes

Fernandes
Fernandes

Fevereiro de 1987. Ainda sem uniforme, visto minha camiseta vermelha da Branca de Neve e sigo ansiosa para o primeiro dia de aula. Entro na sala do Jardim I e meus novos colegas já estão em seus lugares, aqueles que me acompanharam pelos cinco anos subsequentes. Ficamos, de pronto, amigos. Com eles aprendi a ler, escrever, moldar bichinhos com massinhas brancas e a fazer piquenique no jardim da escola. Corta a cena. Vinte e três anos depois do último dia que pisei lá, eis que estou de volta com a missão de fazer esta reportagem. Embora o cheiro do ambiente ainda seja o mesmo – o que até me emocionou – a entrada principal mudou. Bastou pisar na escola para sentir que nem eu nem a instituição ficamos incólumes ao passar do tempo.

No curto espaço de duas décadas, não só nós como toda a sociedade sofremos alterações. Como disse o filósofo Heráclito, nada é permanente, exceto a mudança. E as crianças, inclusive as da geração Z – nascidas entre a década de 1990 e 2010 – são o fiel retrato dessa realidade. Nasceram sob o domínio da tecnologia e possuem aptidão e rapidez para manusear objetos eletrônicos como DVDs, celulares e computadores. O que isso quer dizer? Que prender a atenção delas não é uma tarefa muito fácil. E o que é pior: nem toda escola está preparada para lidar com elas, inclusive no ensino público. “Poucas estão voltadas para as necessidades da criança e esquecem a principal delas: brincar”, diz a professora de Pedagogia da Unifesp, Marineide de Oliveira Gomes, que fez um estudo da formação de professores da rede pública infantil em Santo André.
Na contramão dessa tendência e visando a necessidade apontada pela pedagoga, há um movimento chamado slow pareting, ou pais sem pressa, criado em 2012 pela Academia Americana de Pediatria, que recomendou – até por conta da rapidez e quantidade de informações que os pequenos têm acesso – que as crianças tivessem agenda menos lotada de compromissos e mais tempo livre para brincar e ficar em família. Para os norte-americanos, deixar os filhos em contato com a natureza, desenvolvendo habilidades, os tornará satisfeitos e criativos e, consecutivamente, menos consumistas.

Pois bem. Em meio a esse turbilhão estão os pais, que têm o dever de traçar a linha tênue entre essas duas vertentes para guiar o caminho seguido pelos filhos, principalmente na educação. E opções não faltam. Mapeamento feito pela Reevo (Rede de Educação Viva) contabilizou, no mundo todo, que quase 500 escolas têm métodos alternativos de ensino, algumas delas estão no Brasil. Segundo uma das voluntárias do projeto, a educadora Greta Souza, trata-se de plataforma on-line, nos moldes de rede social, que difunde experiências de educação alternativa e que podem ser consultadas, a qualquer hora, por quem se interessar. “No site, os pais podem conhecer escolas e saber sobre suas propostas libertárias”.

No momento da escolha, é importante buscar informações sobre a metodologia de ensino das instituições e optar por aquela que tem mais a ver com o estilo de vida da família. Porque não adianta a criança ter um aprendizado na escola e não conseguir colocá-lo em prática em casa. E é na primeira infância que os pequenos fazem a descoberta da importância da leitura e da escrita, aprendem valores, a se relacionar, além de regras e atitudes essenciais que serão usados e lembrados por toda vida.
Por passar rápido, esse período tem de ser aproveitado em cada segundo porque, como disse genialmente Toquinho nos versos de Aquarela, ‘o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.’ E quanto mais eles sorrirem, melhor.

TECNOLOGIA COMO ALIADA
A escola mencionada no início da reportagem é o Colégio Piaget, de São Bernardo, que atualmente tem sistema de ensino multimídia. A educadora Leila Sueli de Carvalho Castro Corazza, que está há 25 anos na instituição, dá aula para os alunos no 1º ano do Ensino Fundamental e diz que a tecnologia entrou na escola como aliada. “A educação não pode esquecer o mundo. Quando o aluno começa a perceber que o que ele vê na escola é o que está fora também, faz essa relação e a aprendizagem fica mais prazerosa. E a informática veio para ajudar o professor, não substitui nada.”

O método multimídia – que não existia à época em que estudei lá – foi incorporado no sistema J. Piaget a partir de 1995 e está em desenvolvimento constante. Segundo Leila, o processo de aprendizado do aluno é dividido em três etapas: primeiro a criança vivencia o conteúdo (com encenações lúdicas), depois ela o exercita no computador com jogos desenvolvidos para cada lição e, só em um terceiro momento, aplica nas apostilas o que aprendeu nas primeiras etapas. “Assim, temos o feedback se o aluno assimilou ou não o que vivenciamos até então.” Na sala, há um computador ao lado da lousa e uma televisão e, cada vez que um aluno vai ao exercício no PC, os outros visualizam, participam e o ajudam na empreitada.

Para cada faixa etária, personagens que sejam comuns ao universo são usados para exemplificar situações do cotidiano – na classe dela, como é a fase da sociabilização, as lições são repassadas por um grupo de amigos – e com eles vivenciam todas as situações na sala. “Antigamente, aprendíamos as coisas e não sabíamos como ia usar. Hoje temos a vivência de tudo.” A educadora cita como exemplo o personagem Ita, índio que mora no Mato Grosso e vem visitar os amigos em São Paulo. Quando retorna, de barco, descobre que o Tietê está poluído. E como ele deveria voltar, então? “Fomos na terra, riscamos o chão, jogamos água e mostramos como formam os afluentes. Assim, mostramos o significado dos nomes e o aprendizado ficou mais perto dos alunos. Nada substitui o lúdico.”

E Leila finaliza a explicação mostrando alguns aquários em cima do armário, com lagartas que estão no processo de transformação em borboletas. “Pego no jardim da minha casa e, em cada avanço no desenvolvimento, eles ficam alucinados. A aproximação com a realidade os encanta e ajuda na assimilação do conhecimento.”

INDEPENDÊNCI



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