Fora do normal

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Miriam Gimenes

Foto: Alex Santana

Bruno Gagliasso é ‘treze’ e isso em nada tem a ver com sua escolha eleitoral. É que, além de ostentar o número tatuado no braço esquerdo por ser o dia de seu nascimento, tem ‘o maior medo desse negócio de ser normal’. A frase do ex-beatle John Lennon, compartilhada no Instagram do ator e curtida por quase 13 mil seguidores – olha o número aí novamente –, traduz verbalmente o que Bruno preza, principalmente em sua profissão. Tem horror ao trivial. Não fosse isso, ficaria restrito ao papel de galã, até por conta de sua beleza incontestável, e não teria no seu currículo uma lista eclética de personagens, entre eles um homossexual, um esquizofrênico, um psicopata e o mais recente, o serial killer Edu, da série Dupla Identidade, da Rede Globo. Seja nas telas ou na vida real, Bruno é, de fato, uma pessoa fora do comum.

O rapaz, que começou a carreira fazendo figuração em novelas da sua atual emissora e despontou como o Rodrigo, de Chiquititas (em 2000), do SBT, hoje tem o poder de escolher o papel que quer interpretar. Disse ‘não’ a duas novelas para se dedicar, de corpo e alma – não necessariamente nessa mesma ordem –, a um dos papéis mais provocativos de sua carreira. “Gosto de personagens que me desafiam como ser humano e me façam crescer profissionalmente. Os serial killers são seres asquerosos, que não têm nenhum tipo de compaixão e, ao mesmo tempo, são muito fascinantes por isso, nunca vamos entendê-los”, analisa.

Na trama escrita por Glória Perez, o jovem sedutor é um advogado bem-sucedido que persegue suas vítimas e planeja, meticulosamente, como será a morte de cada uma delas. A imagem final do primeiro capítulo – um close em Bruno, que aparece com os braços abertos com vista para o Rio de Janeiro – dá exatamente a ideia de como Edu se sente perante às vítimas e à sociedade: um Deus. “Para este trabalho me preparei vendo a realidade, psicopatas que a gente se depara ou ouve histórias por aí. Tive muita ajuda da polícia, de psicólogos, assisti a palestras e encontrei histórias muito chocantes.” Além de colar, literalmente, algumas delas pela casa, Bruno também fez questão de preparar um caderno, com imagens e anotações de casos fortes para usar os elementos na construção do seu Edu. Se depender de sua dedicação, a série, com previsão para terminar no início de dezembro, tem tudo para ser um sucesso.

Na mesma toada de histórias tensas, Bruno estreou há pouco também, só que no cinema, o filme Isolados, ainda em cartaz. Nele, o ator vive o psiquiatra Lauro, que se apaixona pela ex-paciente Renata (a andreense Regiane Alves) e os dois decidem descansar em uma casa na montanha. Só que vão no pior momento: na cidade onde está o casarão – bem sinistro, por sinal – está acontecendo série de assassinatos de mulheres, até então não desvendados. “É um filme que veio para somar, contribuir. Vai inspirar muita gente a começar a fazer obras assim (de suspense). Vai ser bom para mostrar que a gente sabe fazer e também gosta deste formato, temos público para isso”, acredita. Antes do lançamento, o trailer já havia sido visto por 1,5 milhão de pessoas na internet.

Com o longa, Bruno fez a estreia da sua produtora, a Escambo, e atuou na coprodução. “Sempre fui fã de cinema (este é seu segundo filme) e meus investimentos são nas coisas que creio. Como amo isso e acredito em cinema, estreei a produtora com esse filme.” A equipe, que se encontrou em todos os 30 dias que antecederam as filmagens – feitas há dois anos – fala em sincronicidade.

Tomas Portella, diretor de Isolados, disse ter sido um presente trabalhar com o ator e ressalta sua dedicação. “Bruno é muito talentoso, visceral e, ao mesmo tempo, cerebral. Ele fez uma preparação profunda. Mergulhou no papel. Emagreceu oito quilos, deixou a barba crescer. Tomou mesmo posse deste personagem. É um privilégio ter feito seu primeiro filme (com a produtora). Ele ainda vai crescer muito dentro do cinema, pois é versátil, tem talento e muito a contribuir.” Regiane Alves diz ter descoberto em Bruno um parceiro, um irmão. “A gente nunca tinha trabalhado juntos, mas sempre admirei o trabalho dele e tive vontade de atuar ao seu lado. E deu certo. Tenho certeza de que vamos repetir a dose. Bruno me ajudou muito, vivemos o processo intensamente. Saíamos das filmagens e continuávamos conversando sobre o que tinha acontecido, sobre os planos para o dia seguinte. Foi muito positivo.”

Bruno diz que foi fisgado pela sétima arte e, em breve, deve começar a filmar Jogos Clandestinos, com coprodução da Escambo, e A Vida Sexual da Mulher Feia, de Otávio Muller. Além destes trabalhos engatilhados, o ator já foi escalado para ser o vilão da próxima novela das 21h, Babilônia, de Gilberto Braga, quando interpretará um traficante cafetão. É mais um personagem para a sua grande coleção. O amor à arte, assim como tatuado em sua panturrilha direita com a inscrição ‘premma arte’, é a força motriz que sustenta o rapaz, no alto dos seus 32 anos, como um dos principais atores de sua geração.

UM DEGRAU DE CADA VEZ
Bruno realmente mostrou a que veio na novela Celebridade, de Gilberto Braga, em 2003. À época, viveu Inácio, um garoto que sofria com problemas de rejeição de sua mãe Beatriz (Deborah Evelyn) e era defendido pelo pai Fernando (Marcos Palmeira). Apesar dos olhos azuis, que não condiziam com as características dos pais na trama, convenceu e ganhou a simpatia da crítica. Já em 2005, interpretou Roberto Silva, o homossexual da novela América, de Glória Perez. O personagem, que se apaixonou pelo funcionário da fazenda da mãe, chegou a gravar o tão falado beijo gay que, até o fim da trama, não foi veiculado.

Outro personagem que ganhou destaque na trajetória de Bruno foi Tarso, de Caminho das Índias (2009), também de Glória Perez. Esquizofrênico, ele fez o ator ir a fundo no estudo desta patologia. Na época, disse que Tarso o ajudou a ‘olhar o ser humano com outros olhos.’ Já em 2010, foi a vez de dar vida ao italiano Berillo Rondelli, na novela Passione, de Silvio de Abreu. Casado com duas mulheres e um pouquinho acima do peso, Bruno fez deste personagem um bonachão. Em 2011, encarou o coronel Timóteo, antagonista de Cordel Encantado e, em 2013, foi o protagonista Franz Hauser de Joia Rara.

Pelo que é fácil notar, Bruno emenda um trabalho no outro. Seu tempo ocioso é raro



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