Gargalhada com comício, só com Rodrigo Sant´Anna

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Andréa Ciaffone <br> Do Diário do Grande ABC

 “Com licença, com licença, com licença...” Com sua voz esganiçada e irritante, a pedinte Adelaide entra pelo corredor do Teatro Gazeta e, antes mesmo de começar a pedir os “R$ 0,50 ou R$ 0,10 centavos”, os ocupantes dos 700 lugares do Teatro Gazeta já soltam o riso. É o poder da convivência do público com a personagem que foi ganhando cada vez mais espaço no humorístico Zorra Total, da Rede Globo, que desafia o cansaço natural de quem trabalhou a semana inteira e, às 23h de uma sexta-feira, foi ao teatro ver o espetáculo de Rodrigo Sant’Anna.

Comício Gargalhada, em que os personagens criados pelo ator pedem votos, como os políticos. No fim do esquete de Adelaide, um sujeito de meia-idade vestido de prisioneiro entra no palco com um carrinho para ajudar o ator a tirar os adereços da personagem. Sant’Anna apresenta o seu contrarregra: é seu próprio pai que, sem falar palavra, arranca risos e deixa claro que o ator teve a quem puxar.

Entre um personagem e outro, o humorista conta um pouco da sua história pessoal, sempre com um toque de galhofa. “Quando eu disse para minha mãe que ia virar ator, ela disse: ‘Pardo e pobre, você só vai fazer papel de bandido, policial ou porteiro’. Minhas duas primeiras participações foram no programa Linha Direta (que só tinha polícia ou bandido), depois fui fazer novela. Eu era o porteiro da Helena.” Riso geral na plateia, seguido pela compreensão de que, de fato, vivemos num País coalhado de preconceitos.

A grande qualidade da comédia feita por Sant’Anna é ser popular, despretensiosa,acessível. O exagero, o ridículo, a comédia física são a tônica de um texto de fácil compreensão. Não é preciso ter repertório refinado para entender os personagens.

Fazem parte do show, Vanderley das Almas (sensitivo), Sara Menininha (cantora de axé), Juarez (frango de padaria), Homossexual Obeso, São Jorge, Adimilson e, para o gran finale, a transexual exagerada Valéria Vasques, que se tornou um dos personagens mais populares da TV com seu bordão “Aí, como estou bandida!”.

Só que quando a Valéria chega, as intervenções de cara limpa do ator já fizeram com que o público preferisse ele a qualquer dos seus personagens. Nos momentos em que é ele mesmo, é inteligente, faz crítica social e de costumes, tem elegância.

Isso gera um contraste imenso com seus personagens toscos (exceto pelo frango, que é uma graça!), mas que representam com cores exageradas tipos da vida real que muita gente de classe média alta acha que são ficção, quando, quem frequenta as linhas de ônibus que vão para a periferia afirma que são verdadeiros, embora menos coloridos.

Comício Gargalhada – Comédia. Até 17 de outubro. Sextas, às 23h. No Teatro Gazeta – Avenida Paulista, 900, em São Paulo. tel.: 11 4003-1527. Ingr.: R$ 50.




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