'Não Se Brinca Com o Amor' oscila entre conflitos

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Andréa Ciaffone <BR> do Diário do Grande ABC

A temática da peça Não Se Brinca Com o Amor é atemporal: as pessoas tendem a se complicar ao administrar os assuntos do coração. Ouvem quem não devem ouvir, fazem o que não devem fazer, envolvem terceiros, enfim, cometem as maiores atrocidades contra os próprios sentimentos. O texto do parisiense Alfred de Musset, que viveu entre 1810 e 1847, fala exatamente disso.
A clássica trama – em cartaz no Teatro Aliança Francesa (Rua General Jardim, 182, São Paulo, tel.: 3017 5699) até 26 de outubro – foi traduzida e montada pela atriz e produtora franco-brasileira Janaína Suaudeau, com direção de Anne Kessler, da Comédie Française.
A peça tem as virtudes das comédias românticas, como os bons momentos de alívio cômico proporcionados pelo ator Fabio Espósito, que faz o Mestre Blazius, e se destaca no elenco. Mas tem o problema de trazer conflitos de época, como ir para o convento ou casar, numa montagem em que a maior parte dos atores veste roupas contemporâneas.
Essa licença poética na concepção do espetáculo gera uma dissonância cognitiva que obriga o espectador – mesmo os que compreendem a proposta da produção – a passar o tempo todo se corrigindo mentalmente e se lembrando de que aquelas falas e temática pertencem a 200 anos atrás. O choque fica ainda maior porque, além do figurinho, a concepção cênica está alinhada com o estilo minimalista que caracteriza as produções do século 21.
A sensação que fica é que, para permitir que o espectador se entregue sem reservas ao espetáculo, seria preciso ou atualizar o conflito central fazendo um versão baseada no texto clássico, o que sempre representa um risco, ou jogar a estética e o visual da produção para a época em que se passa o texto, proporcionando a sensação de viagem no tempo.  




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