As novas vozes do Brasil

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Andréa Ciaffone e Raija Camargo

Quando a gente vê um toquinho de gente pegando uma escova de cabelo e soltando a voz como se estivesse no palco de um festival, é bom prestar atenção. Pode ser que a brincadeira seja o começo de carreira gloriosa. O fato de terem decidido cantar para o resto da vida antes dos 10 anos é algo que Ellen Oléria, 31, Sam Alves, 25, e o vocalista da banda Malta, Bruno Boncini, 25 – respectivamente os vencedores da primeira e segunda edições do The Voice Brasil e da primeira do Superstar –, contaram para a Dia-a-Dia. Ao vencerem programas de grande audiência e repercussão, esses jovens provam que sonhar grande vale a pena, mas que ter talento natural não exime ninguém de trabalhar muito.

O Doce Rebelde
Domingo à noite e uma voz rouca invade o lar dos brasileiros. O verso ‘Hoje eu vejo que não consigo entender o que houve entre nós, eu ainda consigo ouvir sua voz...’ é da primeira banda a entrar no palco de um programa de talentos que acabava de estrear. Formada por Adriano Daga, Bruno Boncini, Diego Lopes e Thor Moraes, a Malta se tornou sucesso imediato. Na semana seguinte, Memórias estourou no iTunes. Dalí em diante, foram três meses de apresentações com músicas autorais. Após vencer o Superstar, a banda foi para o estúdio, gravou CD e partiu para a primeira grande turnê. Leia entrevista com o vocalista Bruno Boncini:

DIA-A-DIA – Conte a história da banda e como o programa Superstar fez parte dela.
BRUNO BONCINI – Tudo começou pela ideia de fazer um trabalho autoral. Só que, no começo, é difícil tocar na noite e se sustentar com isso. No início, a gente mais gasta do que ganha. Tem que investir em gravação, fotos e sem o apoio de ninguém. Sempre fui músico e me sustentava tocando na noite. E os caras também, cada um tinha emprego. Aí a gente começou a gravar em estúdio o nosso material no meio do ano passado. E tudo evoluiu rápido. É aquela coisa do estouro. E aí apareceu o Superstar. Muita gente acha que a gente se juntou para o programa. Não, a banda já existia, apesar de ser recente. Quando vimos, o canal estava abrindo espaço para músicas autorais e enxergamos a possibilidade de pular as etapas sofridas do começo e aproveitar a potência da Globo. Poderia ter dado errado, principalmente por tocar músicas que ninguém nunca tinha ouvido.

DIA-A-DIA – Há quase 30 anos existe um buraco na produção de rock nacional. Tem os grandes festivais, para onde só vai quem já estourou. Não tem mais espaços onde o público possa descobrir artistas novos. O que acha disso?

BRUNO – A gente sabe como é difícil conseguir espaço. Por isso, fomos ao Superstar decididos a tocar nossas músicas. No final das contas, a verdade é o que emociona. As pessoas percebem a diferença do que é genuíno e do que é atuação. Falar de amor e das coisas da vida de uma forma direta também é bacana. Quem ouve usa a música e a letra para expressar as suas próprias emoções. E eu componho de maneira peculiar. Embora não tenha nada a ver com a parte espiritual, as minhas composições vêm quase que mediunicamente, intuitivamente. Tenho teoria pessoal de que a arte não pode ser feita pelo lado racional. Se a gente começa a pensar, não emociona. Tem de falar com o coração.

DIA-A-DIA – O que acontece então no day after?
BRUNO
– Está sendo engraçado porque estamos conhecidos, ganhando mais fãs agora do que no Superstar. Agora (que o programa acabou) ficou quem realmente gostou das nossas músicas. Acho que é a força da obra. Às vezes, a pessoa tem um baita talento, canta e toca muito, mas sua obra não atingiu grande número de pessoas. Então, acaba caindo no esquecimento. Tivemos a alegria de fazer o grande público se identificar. É a coisa mais bacana do mundo!

Divulgação
Bruno Boncini, da banda Malta

DIA-A-DIA – Quais são seus próximos objetivos? E como está a relação da banda?
BRUNO – Agora é cair na estrada e fazer shows. A banda vira família. Tem que existir o respeito mútuo, a sensibilidade de perceber quando o companheiro está num dia ruim. É como casamento. Tem de ter respeito e sensibilidade para dar certo. Só não pode brigar. Dá medo de desentendimentos, mas nunca tivemos problema. Sempre foi tudo muito bacana, tranquilo.

DIA-A-DIA – Sexo, drogas e rock. Qual é relação de vocês com esse estereótipo?
BRUNO – Nem gostamos de nos rotular como banda de rock. Fazemos nossa música e tentamos tocar o coração das pessoas. Tem algumas sonoridades que chamam mais atenção para o nosso som por causa das influências. A gente sempre ouviu mais o rock, então é natural que brilhe mais nas nossas composições. Eu gosto muito de Alan Jackson, Garth Brooks. Fica no subconsciente e emerge naturalmente quando você compõe. Também não tenho nenhum esquema para cuidar da voz não. Sou bem relaxado, bem rock. Fumo, bebo e não tô nem aí... cantar com o coração protege as cordas vocais.

DIA-A-DIA – Como foi a pressão do programa?
BRUNO – Ao longo das 14 semanas, crescemos com a pressão. Já tive a chance de viver grandes experiências na música, mas alí passei pela maior provação. Estar ao vivo na Globo, sendo julgado, tocando músicas inéditas. Não tem nada que possa ser mais desafiador. O que vier agora vamos encarar com a maior naturalidade. Por outro lado, o clima de ‘já ganhou’ era ruim, gerava expectativa. Mas conseguimos bater um recorde impressionante: batemos as dez músicas mais vendidas no iTunes. O top 10 inteiro era nosso. Então, puxa vida, isso foi um fato inédito.

DIA-A-DIA – Quando você começou na carreira?
BRUNO – Na noite, profissionalmente, aos 18 anos. Mas a cantar mesmo, quando tinha 9, no colégio, tocando guitarra. A primeira banda que eu tive era cover do Black Sabbath. Como era difícil arrumar cantor, falei para um menininho lá “faz o seguinte, cara, a gente arruma alguém para tocar guitarra e eu canto para a banda não acabar&



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