Encontro da música popular com arranjos orquestrados

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Vinícius Castelli <BR>do Diário do Grande ABC

Se alguém perguntasse há algum tempo ao Alceu Valença se um dia pensaria em ter um disco com seu repertório gravado ao vivo ao lado de uma orquestra, ele diria que nunca imaginaria a cena. Mas o fato é que ele realizou tal proeza. O resultado pode ser conferido no álbum Valencianas – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto (Deck, R$ 31,90 em média), que acaba de chegar às lojas, com opção em DVD (R$ 43,90 em média).
Gravada no Teatro do Palácio, em Belo Horizonte, em novembro de 2012, a apresentação teve seu primeiro esboço imaginário feito por Paulo Rogério Lage, companheiro de Alceu e ex-diretor do Grupo Corpo e do Palácio das Artes, na capital mineira. “Paulão sempre sonhou em transportar parte da minha obra para a música de concerto e o projeto começou a criar corpo quando me apresentou ao maestro Rodrigo Toffolo e ao arranjador Mateus Freire, no festival de inverno de Ouro Preto, em 2010. Meses depois eles foram a Olinda e me mostraram os primeiros arranjos. Fiquei encantado”, contou o cantor durante entrevista ao Diário.
Guitarra, violão, contrabaixo elétrico, bateria e percussão com instrumentos da cultura nordestina como sanfona, zabumba, tampa de panela, rabeca e marimbau. Tudo isso passeia ao lado da sonoridade de uma orquestra de cordas. Alceu explica que o diálogo entre a música de concerto e as sonoridades nordestinas é algo que existe há muito tempo.
“Compositores como Villa-Lobos e Guerra-Peixe beberam bastante nesta fonte. Guerra-Peixe morou em Recife e foi professor de Capiba. Villa-Lobos adaptou temas folclóricos, como a Cantiga do Caicó, que posteriormente se tornou um sucesso também como canção popular com a letra de Teca Calazans”, diz.
Ele lembra ainda que Luiz Gonzaga, Capiba, Dominguinhos e Sivuca são alguns nomes importantes da música de concerto que possuem recorrentes adaptações de suas obras para orquestras. “Isso sem falar na Orquestra Armorial, dirigida por Cussy de Almeida, talvez o mais contundente dentre todos estes trabalhos.”
Temas que se tornaram clássicos do cancioneiro brasileiro, como Cavalo de Pau, ganham no concerto arranjos delicados ordenados pelas batutas do maestro Rodrigo Toffolo. “Fizemos alguns ensaios em Belo Horizonte, pouco antes da estreia no Palácio das Artes, mais alguns antes da gravação do DVD. Tudo fluiu muito naturalmente, desde o princípio”, explica Alceu.
La Belle Du Jour, Coração Bobo, Tropicana, Anunciação e Sino de Ouro também fazem parte da obra e ganham arranjos orquestrados. “O repertório foi basicamente escolhido por Rodrigo e Mateus. Eles iam selecionando, arranjavam e me mostravam”, diz. Paulo Rogério sugeriu Porto da Saudade, que é uma música menos conhecida. “Acabou entrando numa versão orquestral, sem voz. Eu sugeri canções como Sino de Ouro e Ladeiras, esta sobretudo, por fazer a ponte entre as ladeiras de Olinda e as de Ouro Preto”, compara o artista pernambucano. A apresentação conta ainda com a peça Suíte Valenciana, composta por referenciais sonoros que revelam o imaginário poético e musical do artista.
Diante de resultado tão primoroso, Alceu diz que o que mais lhe chama a atenção no projeto é o fato de, além de serem grandes músicos, “os integrantes da orquestra são jovens e possuem muito respeito pela música popular.” 




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