Boca de urna

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Miriam Gimenes

A cada dois anos legião de eleitores se posiciona em frente à urna para definir o futuro da cidade, Estado ou País. Como brasileiro costuma procrastinar tudo, inclusive a escolha dos seus candidatos, os políticos ficam em polvorosa até os minutos finais da votação, a fim de conquistar o maior número de seguidores. Neste ano há um agravante: o imprevisto. A morte prematura de Eduardo Campos (PSB), até então terceiro lugar nas pesquisas de intenções de voto, deixou o cenário ainda mais complexo. Com a promessa de renovação no quadro atual – o seu slogan de campanha era ‘coragem para mudar o Brasil’ – ele aparecia como opção daqueles que queriam fugir do duelo entre os partidos PT e PSDB, que revezam a cadeira presidencial há duas décadas.
E esta não é a primeira vez que uma tragédia sacode os rumos da política no País. O suicídio de Getúlio Vargas, que acaba de completar 60 anos, deu uma reviravolta na história nacional, desmontou a conspiração que queria tirá-lo do poder e adiou o golpe militar por uma década. Da noite para o dia, o homem que era considerado ditador e líder de um governo corrupto, virou mártir. Décadas depois, o seu amigo e ministro da Justiça, Tancredo Neves, também foi protagonista de outra guinada: morreu às vésperas de assumir a já conquistada Presidência, cargo para o qual foi eleito por um colégio eleitoral. Assumiu em seu lugar o vice, José Sarney. Tancredo era tido por muitos como a esperança de mudança do País, ainda bem machucado pelo regime autoritário vigente até então.

Pois bem. Passados quase 30 anos, um novo imprevisto modifica o quadro eleitoral. E como fica a cabeça do eleitor neste momento? “Estamos todos perdidos. É um ano completamente atípico: tivemos as manifestações em 2013 que expuseram a insatisfação em relação à classe política, houve a Copa do Mundo, embolada com o princípio de discussão eleitoral. E agora, na reta final, uma tragédia envolvendo o terceiro candidato melhor avaliado e que vinha se posicionando com o discurso da mudança. É um momento de cautela”, avalia Gil Castillo, presidente da Alacop (Associação Latino-Americana de Consultores Políticos). Antes do acidente, Dilma Rousseff (PT) liderava as intenções de voto, em segundo lugar estava Aécio Neves (PSDB) e, Eduardo Campos, em terceiro. Desde que Marina Silva (PSB), sua vice, assumiu a candidatura presidencial, está mantendo no páreo com Dilma Rousseff.

As manifestações pediram, principalmente, a mudança dos que ocupam cargos eletivos, segundo o cientista político e especialista em Direito Eleitoral Roberto Martins. “Houve a manifestação de forma integrada, que mostrou descontentamento com as atitudes dos governantes. Quem entrar, de modo geral, terá de fazer reforma.”
Experiente que é, Gil Castillo diz que um dos mantras do marketing eleitoral é definição da eleição pelos indecisos. “A maioria da população só pensa na questão eleitoral mais próximo da votação. O brasileiro tem a característica de deixar para última hora e várias pesquisas antes e depois do acidente mostraram altos índices de eleitores irresolutos.” A indecisão e a comoção nacional pós-tragédia podem balançar os índices. Pesquisa realizada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), em parceria com o Instituto MDA, aponta que 78% dos entrevistados admitem que a comoção pode influenciar o eleitor.

Vale lembrar que o direito de voto foi conseguido a muito custo – e sangue – e que todos têm de fazer valer o seu. Como disse o dramaturgo Bertold Brecht, o pior tipo de analfabetismo é o político. “Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.” Fica a dica.

ELES QUEREM O SEU VOTO
As campanhas são divididas em quatro fases. Do início do ano eleitoral até o mês de junho há indiferença no ambiente eleitoral. “Após junho, entramos na fase da indefinição. As pessoas passam a conhecer os candidatos e estudar suas propostas. Com a chegada do horário eleitoral gratuito, a campanha ganha novo volume e fica mais fácil analisar melhor as propostas”, diz o consultor político Gilberto Musto.
Os três primeiros colocados, avalia o especialista, não têm um grande tema como bandeira – como fizeram Fernando Henrique com o Plano Real, Fernando Collor com ‘o caçador de Marajás’, Jânio Quadros com ‘Varre, Vassourinha’ e Getúlio Vargas como ‘o pai dos pobres’ – levando a decisão dos eleitores a ficar ainda mais nebulosa.  

Para traçar as estratégias de cada candidato à Presidência, o consultor político Gilberto Musto diz que, normalmente, são utilizadas duas vertentes distintas: de um lado as propostas que alavancam as expectativas do eleitorado e, de outro, a contrapropaganda frente aos adversários. Estas posições, na maioria das vezes, são erguidas na estabilidade econômica e servem de garantia de sustentação financeira de cada família. Confira, a seguir, suas sugestões:

Seri
Aécio Neves (PSDB)


Leitura
Utiliza bem a propriedade da fala, mas o partido precisa de organização e motivação. Embora imbuído de aspirações individuais, quando todos se voltarem para a campanha, o recall do PSDB é significativo. Aposta no cenário de que se a oposição racha, a situação ganha. O segundo turno é nova eleição para ele.

Propostas
Aécio tem o que apresentar e pode explorar o momento de instabilidade na economia. Se propuser segurança econômica (mais do que estabilidade), além de investimentos em gestão de pessoas (visando o funcionalismo), arrebanhará outro segmento da pirâmide socioeconômica, podendo conquistar os indecisos. Sua última cartada: “Se quiser paz e segurança econômica, vote em mim.”



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