Relação movida a glamour

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Andrea Ciaffone

Aos 50 anos, Mustang ganha sua primeira coleção de camisetas criadas por estilistas badalados. Foto:divulgação

 Varinha de condão na mão, a Fada Madrinha não pensou duas vezes quando chegou o momento de ajudar Cinderela: deu a ela um vestido lindo e uma carruagem luxuosa para levá-la ao baile. Além da recomendação de que o encanto se desfaria à meia-noite, a aparição não perdeu tempo com bobagens. Nada de conselhos extraordinários, nenhuma estratégia mirabolante para conquistar o príncipe, nem filosofias sobre amor, relacionamentos e destino. A boa fada foi direto ao ponto: vestimenta e transporte. Afinal, esses dois itens eram a base fundamental para que sua afilhada borralheira pudesse estrear com estilo e ser aceita nos salões da realeza.
Na vida real, a magia é a mesma. A dupla motor e moda continua firme e forte como líder no interesse dos consumidores endinheirados que querem fazer bonito na sociedade.
Pesquisa realizada com internautas pelo Digital Luxury Group em parceria com a MCF Consultoria mostra que os carros representam 49% do mercado de luxo brasileiro. E o segundo maior grupo, que corresponde a 40%, é justamente formado pelos vários segmentos da moda, que incluem roupas, joias e cosméticos. Os 11% restantes ficam com a hotelaria.
Enquanto o setor de produtos de massa celebra a chegada de 35 milhões de brasileiros à classe média nos últimos dez anos, o segmento de luxo estoura champanhe para o crescimento da fatia mais rica da população. De acordo com estudo da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas), o mercado das classes mais altas crescerá ainda mais do que o da classe média. Especialistas apontam que, até o fim deste ano, as classes A e B deverão chegar a 29 milhões de pessoas no País. Esse volume equivale ao triplo da população de Portugal. E a projeção é de que o mercado de produtos premium aumente 25% até 2017.
Montadoras como Ford estão bem atentas ao processo de sofisticação crescente dos consumidores. “Houve um tempo no Brasil em que as pessoas só conseguiam comprar carros que eram o básico do básico e orientavam suas escolhas de cores e acabamento em função do valor de revenda. Hoje, a situação mudou e o brasileiro está começando a aprender a ousar um pouco mais nas suas escolhas e a se permitir ter um carro com detalhes mais personalizados”, analisa Luciana Bullentini, designer com formação em moda da equipe de cor e acabamento da Ford brasileira.
“Na Europa e nos Estados Unidos, a empresa lança muitas séries especiais com cores e acabamento diferenciados e estes mercados absorvem bem. Aqui, no Brasil, o consumidor ainda tende ao conservadorismo, mas já dá para sentir uma evolução”, corrobora Letícia Bongiorno, designer de produto na mesma divisão da montadora.
Um exemplo bem atual deste tipo de ação da Ford envolve a celebração dos 50 anos de fabricação ininterrupta do Mustang, ícone mundial da indústria automobilística. Além dos detalhes da edição especial do modelo, a marca chamou um time de estilistas de renome mundial para criar a primeira coleção de roupas e acessórios com inspiração no veículo. O projeto foi lançado em um evento badalado no Empire State Building, em Nova York, onde um Mustang conversível ficou exposto no deck de observação do 86º andar. Para fazer jus ao espírito ‘indomável’ do carro, a Ford chamou estilistas famosos por sua capacidade de criar tendências: Anna Sui, Paula Cadermatori, Pamela Love, Tomaso Anfossi e Francesco Ferrari, da CO|TE, e Rogan Gregory e Scott Mackinlay-Hahn, da Rogan. Cada um deles vai criar três camisetas únicas inspiradas na essência e personalidade do Mustang, resultando em uma coleção de 15 peças que serão produzidas pela Loomstate, uma confecção líder em roupas e acessórios feitos com materiais orgânicos e sustentáveis. As camisetas estarão disponíveis para o mundo todo ainda nesta estação.
“As pessoas nem imaginam, mas utilizamos os mesmos estudos de tendências de moda e comportamento que as pessoas que trabalham no setor de vestuário. Na verdade, dedicamos uma boa parte do nosso tempo a pesquisas e atualização”, destaca Luciana. “Absorvemos todo esse material e depois filtramos para escolher o que vai perdurar por mais tempo, porque o ciclo da indústria automobilística é bem maior que o da moda”, explica Letícia.

As designers Letícia e Luciana, da Ford, filtram tendências dos bureaus de estilo internacionais. Foto:Andréa Iseki 

Apesar do tradicional conservadorismo do consumidor tupiniquim, a Ford brasileira tem conseguido emplacar suas ousadias, como o tom de laranja que marcou o lançamento do novo EcoSport, que foi comercializado em escala mundial. “Quando Henry Ford disse que o consumidor poderia ter carro de qualquer cor desde que fosse preto, ele estava falando sobre o contexto específico daquela época, que era o momento de transformar os automóveis em produto de massa. Para garantir que a produção fosse grande, os veículos tinham de ser pretos porque era a tinta que secava mais rápido”, justifica Luciana. “Hoje, a aquisição de um carro tem a ver com outras coisas. Além de necessidade, as pessoas querem se expressar por meio do modelo, mostrar um pouco do que são e das suas preferências estéticas. E é obrigação da montadora oferecer alternativas”, completa.
O fato é que a relação das pessoas com seus carros anda cada vez mais íntima e sofisticada, e esse contexto permite que o diálogo entre automóvel e moda se intensifique. Na montadora francesa Citroën, esse papo é antigo. “O catálogo do DS original de 1956 já destacava uma linha de bagagem exclusiva da Hermès. Mais recentemente, a Lacoste associou o nome dela a um dos nossos carros conceito. Os times de design de ambas as marcas trabalharam em conjunto para desenvolver esse modelo totalmente fora do comum”, destaca Fabien Darche, gerente de estilo de cores e materiais da PSA Peugeot Citroën América Latina.
“O design da Citroën sempre se nutriu das criações vindas de outros universos



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