A força do brilho

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Andrea Ciaffone

 

No princípio tudo era escuridão... e não tinha graça nenhuma. Foi só quando surgiu a luz que a história da criação ganhou vida. Talvez seja um determinismo bíblico, ou uma fascinação quase pueril, mas o fato é que é muito difícil resistir ao brilho. Os físicos explicam o processo com frieza: é o resultado do fracionamento da luz quando ela toca uma superfície cristalina e lapidada. Mas pergunte para qualquer mulher e a definição será outra: tudo o que reluz provoca uma sensação mágica. Por ser imaterial – uma simples ilusão de ótica –, o seu fascínio transforma-se rapidamente em desejo de possuir qualquer objeto que funcione como veículo para que o processo ocorra.
Graças à sua capacidade de sedução, o brilho é um negócio bilionário. Presente em 170 países, a empresa foi criada pelo tcheco Daniel Swarovski, que inventou, aos 30 anos, uma máquina capaz de lapidar cristais com muito mais precisão que os métodos manuais que existiam até então. A invenção foi tão bem recebida que, em 1895, ele fundaria sua fábrica em Wattens, no Tirol. Prestes a completar 120 anos, a marca continua a fulgurar em escala planetária tanto em prestígio quanto em sucesso financeiro. Em 2012 – dado mais recente disponibilizado –, seu faturamento atingiu R$ 7,31 bilhões. E esse valor corresponde apenas à divisão de cristais. No total, há mais de 2.200 lojas espalhadas pelo mundo comercializando a combinação de brilho com design. A boa notícia é que esses espaços brilhantes estão se multiplicando rapidamente pelo Brasil – inclusive na região, que acaba de receber a primeira loja no Shopping ABC, em Santo André.
Para garantir aproximação ainda maior com o mercado brasileiro, a empresa terá coleções especialmente desenvolvidas para atender às preferências estéticas, às tendências de moda e ao gosto da consumidora tupiniquim. “Esse tipo de exclusividade é um privilégio raro no mundo Swarovski, concedido apenas a mercados de grande potencial”, diz a diretora da divisão de produtos acabados e varejo da companhia austríaca no Brasil, Carla Assumpção. “Será uma excelente oportunidade de colocar a alma brasileira nas peças fabricadas pela empresa. A princípio, vivemos o capítulo de colocar a Swarovski dentro do Brasil, agora estamos colocando o Brasil dentro da Swarovski”, celebra a executiva, que está na empresa há 14 anos. O primeiro passo nesse sentido foi dado em 2013, quando o estilista Pedro Lourenço foi convidado pela diretora mundial de estilo da marca, Nathalie Colin, para criar uma coleção assinada que foi distribuída internacionalmente.
Quando a fabricante austríaca começou a atuar no País, o foco primordial era a venda de cristais dos mais diversos formatos, tamanhos, cores e lapidações que entrariam como componentes de produtos fabricados por outras empresas. O exemplo mais clássico são os cristais utilizados em lustres, por exemplo. Além disso, a empresa trabalhou para ganhar mercado com seus produtos feitos para a indústria de confecção. Nesse front, Carla foi uma das figuras centrais na criação e implementação de estratégias de aproximação com os mais badalados designers de moda e decoração do País. Sob a mentoria de Henning Dauch – executivo que iniciou a operação da companhia no Brasil e que apostou no processo de divulgação da qualidade do seu produto junto aos formadores de opinião –, Carla forjou alianças com os principais criadores de moda e coordenou ações promocionais que marcaram o mundo das passarelas, como a exposição Chica Chica Boom Chic, em homenagem a Carmen Miranda, que foi um dos destaques da primeira edição da São Paulo Fashion Week, em 2001.
No mesmo ano, o Centro de Estilo Swarovski foi inaugurado no bairro dos Jardins, na Capital. Com projeto de decoração do arquiteto Léo Shehtman, o novo local gerou frisson positivo entre os estilistas. Afinal, era uma líder mundial apostando em um mercado que estava apenas começando a se organizar em torno de uma semana de lançamentos de coleções.
Essa proximidade com os criadores de moda é uma tradição da empresa – que, por exemplo, em 1956, desenvolveu em parceria com Christian Dior o efeito Aurora Borealis para seus cristais. Vale notar que, décadas antes da Pequena Notável conquistar o mundo com seus figurinos originais, os cristais fabricados nas instalações de Wattens brilhavam sobre os corpos das dançarinas do Moulin Rouge na Belle Époque. Para a realização do filme homônimo, dirigido por Baz Lurmann e estrelado por Nicole Kidmann e Ewan McGreggor, a empresa reeditou os cristais nas cores existentes na virada do século 19 para o 20 a fim de serem usados nas criações da designer Catherine Martin, que ganhou o Oscar por seu trabalho no filme. Os componentes das roupas desenhadas para o musical Chicago, estrelado por Renee Zellweger e Catherine Zeta-Jones em 2002, também são assinados pela marca austríaca, que provou ser pé-quente na conquista de Oscars, já que a figurinista do filme, Colleen Atwood, levou uma estatueta para casa.
Enquanto o negócio de componentes crescia exponencialmente, comprar um produto pronto com a assinatura Swarovski ainda era privilégio de quem podia viajar para o Exterior, tanto pela falta de lojas da marca como também pelos preços que eram praticados aqui, proibitivos na comparação com os de fora.
A primeira butique foi aberta no Shopping Morumbi, em São Paulo, no ano 2000. Depois veio a do Shopping Iguatemi, também na Capital. “Quase uma década depois, tínhamos apenas quatro lojas. Em 2008, a divisão de componentes era quatro vezes maior (em faturamento) do que a de varejo. E entre 2009 e 2012, o número de unidades saltou para 12. Ou seja, em três anos, abrimos o dobro de lojas que nos primeiros nove anos”, destaca Carla. “Essa evolução só foi possível porque a empresa concordou em mudar a sua estratégia de comercialização no varejo para o Brasil.”
Empresas de atuação mundial tendem a alinhar os valores dos seus produtos, mantendo as mesmas margens de lucro em todos os mercados. “Como a diferença de preço era muito grande – praticamente o dobro do que custava fora do Brasil por causa das taxas de importação –, os clientes acabavam frustrados ou esperavam para comprar quando fossem viajar. Por isso, a operação brasileira argumentou junt



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