Nem tão tarde assim

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Raija Camargo

“Não gostaria que tivesse acontecido isso. Mas foi uma estrada tortuosa que me trouxe até aqui”

A maioria dos telespectadores conhece Rafinha Bastos por suas piadas polêmicas ou por ter sido afastado do programa CQC, líder de audiência da TV Bandeirantes, por proferir ao vivo, na bancada, o inconveniente comentário de que transaria com a cantora Wanessa Camargo – à época grávida de cinco meses – e seu bebê. “Não gostaria que tivesse acontecido isso. Mas foi uma estrada tortuosa que me trouxe até aqui”, reflete o humorista. Apesar de ter sido considerado pelo jornal The New York Times como personalidade mais influente do Twitter, o ano de 2011 não havia sido nada favorável para o comediante. Outra de suas piadas causou desconforto e ele acabou acusado de apologia ao estupro por grupos feministas, além de ser investigado pelo Ministério Público Federal por dizer em seu show de stand-up comedy que mulheres feias deveriam agradecer caso fossem estupradas. Mas, apesar do nome do talk show que passou a comandar em março na mesma emissora que outrora o retaliou, ainda não é tarde demais para a redenção perante o público.

Com postura mais comedida e o lema de que quem é visita sempre tem razão, o apresentador promete cativar a audiência dos notívagos revelando uma faceta gentil diante dos entrevistados e com tiradas de humor bem menos ácidas. Uma transformação proporcional ao tamanho do desafio de disputar a preferência dos insones com ninguém menos que Jô Soares e o andreense Danilo Gentili – que lhe deixou o Agora É Tarde de herança para comandar o gêmeo The Noite no SBT.

Para renovar o formato idealizado pela equipe de Gentili em 2011, a produção da Band apostou em cenário e quadros novos, incluindo o elenco, que passou a contar com a originalidade e irreverência de André Abujamra à frente da banda e com os divertidos ensejos do humorista Gustavo Mendes, nacionalmente conhecido por imitar a presidente Dilma Rousseff. “A expectativa é grande por se tratar de um programa diário. Fazia muito tempo que eu não me sentia tão criativo”, disse Rafinha dias antes da estreia da nova temporada do Agora é Tarde.

O programa conta também com Marcelo Mansfield, único integrante do elenco antigo. “Mansfield, desde o início, tem sido meu padrinho. Em 2004, ele falou que estava estreando um show e me convidou para fazer um número. Pediu para eu pensar em alguma coisa. Lembrei que, quando morei nos Estados Unidos, tinha um canal só de stand-up comedy. Então, começamos a fazer shows para umas dez pessoas. Às vezes, cancelávamos porque não tinha público”, lembra Rafinha.

Além das novidades, o humorista aposta em entrevistados inéditos e no seu próprio potencial como apresentador para vencer a concorrência e – quem sabe? – estender o contrato de apenas seis meses firmado com a emissora. “Sou jornalista, comecei fazendo entrevistas antes de fazer comédia. Agora, consegui juntar as duas coisas no mesmo lugar.”
Apesar do turbilhão de processos aos quais responde na Justiça, Rafinha garante que sua presença não afugentou os patrocinadores do talk show. “O programa é gravado. Se eu me exceder, podemos editar”, brincou o apresentador durante a coletiva de imprensa.

O programa de estreia contou com a presença estrelada do cantor Luan Santana e, de acordo com dados do Ibope, registrou 4 pontos de audiência, média superior à da abertura da temporada de 2013, quando Danilo Gentili alcançou 3,4 pontos.

Lobão foi o segundo entrevistado da semana, mas a versão comportada de Rafinha não o convenceu. Sem papas na língua, o músico escreveu no Twitter que sua passagem pelo programa “foi uma perda de tempo”. Também criticou os cortes na edição e a condução da entrevista: “As perguntas foram muito bobas. Eu me senti um idiota no programa todo. Quando terminou, não acreditei”.
   
O REI DA INTERNET
Polêmicas à parte, ainda é cedo para saber se a nova versão do Agora É Tarde cairá ou não no gosto popular. Algo bem diferente do já consolidado sucesso que o apresentador, humorista, jornalista e empresário Rafael Bastos Hocsman ostenta em território on-line. No alto de seus 2 metros de estatura e aos 37 anos – com 17 de carreira –, ele acumula as invejáveis marcas de 6 milhões de seguidores no Twitter, 3 milhões no Facebook e 2 milhões de inscritos em sua conta no YouTube. Números indiscutivelmente expressivos para quem explorou este canal midiático de forma pioneira e sem grandes pretensões. “Em 1999, fui morar nos Estados Unidos para jogar basquete. Lá, comecei a produzir conteúdo de humor e isso foi se popularizando. Logo aprendi a fazer vídeos. Na época, fazia videoclipes. As câmeras eram precárias, não tinham som e davam muito trabalho. Mas comecei a ter fãs do mundo inteiro, do Brasil todo.”

Isso ocorreu seis anos antes do nascimento do YouTube, e Rafinha, na época, não encontrava local para postar os vídeos. “Eu colocava os arquivos em zip e os disponibilizava no meu site. O tráfego era imenso, tanto que tive de pagar uma multa de R$ 3.000. Mas as pessoas se ofereciam para me ajudar. Um amigo disse: ‘Rafa, eu tenho um servidor na Suécia, lá não se paga multa pela intensidade de tráfego. Você só coloca o link e a pessoa faz o download. Aí, caía o servidor do cara e eu pulava para um servidor da Croácia. Isso aconteceu até, em 2005, surgir o YouTube, onde as pessoas podiam acessar a qualquer momento. Hoje meu canal me proporciona um ganho financeiro.”
Rafinha produziu conteúdo em vídeo para internet antes de grandes portais, como UOL e Terra. “Umas das coisas que me ajudam muito é o fato de meu humor ser muito rápido, curto e novo. Você nunca vai me ver contando piada velha. O Twitter tem o tamanho de uma piada minha, e não o de uma piada do Ary Toledo. Eu acabei fazendo a comédia dessa geração que não tem tempo a perder.” Assim, o apresentador justifica seu sucesso.

Comunicadores gabaritados, como José Luiz Datena, reconhecem e elogiam a performance de Rafinha. “O humor é maneira muito sedutora de comunicar. O comediante se conecta com a realidade de uma maneira muito única, é um atalho. Certa vez, eu cruzei com o Datena e ele me disse: ‘O que eu fico me esforçando aqui para comunicar, você fala em três ou quatro piadas’. Foi ali que eu senti que tinh



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