A hora da bancada

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Andréa Ciaffone

Dani passou a adolescência no bairro Jardim, em Santo André. Foto: Celso Luiz

Dizem que são necessários 20 anos de trabalho duro para se fazer sucesso de uma hora para outra... E foi precisamente esse o caso da humorista Dani Calabresa, que fez o primeiro curso de teatro aos 8 anos e agora, aos 32, chega aonde nenhuma outra mulher esteve antes: a bancada fixa do CQC – Custe o Que Custar, misto de jornalismo e humor que se tornou campeão de rentabilidade comercial na TV Bandeirantes.

Na noite da estreia da sétima temporada do programa, Marcelo Tas, comandante da nave CQC, que tem sempre ao seu lado o copiloto Marco Luque, anunciou: “Vem aí a novidade mais gostosa: é a palhacinha leque-leque, a Nair Belo do apocalipse... Senhoras e senhores, recebam a deliciosa Dani Calabresa”, anunciou o apresentador com a precisão que lhe é peculiar. Afinal, Dani combina o jeitinho doce de quem já ganhou a vida encantando crianças como monitora infantil com a espontaneidade e as respostas rápidas ditas em um divertido sotaque italianado – típicas de Nair Belo, comediante que deixou este mundo em 2007, aos 76 anos.

Outro fato que une as duas humoristas é a paixão pelas princesas da Disney. Nair Belo, por exemplo, confessou durante um intervalo entre desfiles da São Paulo Fashion Week que tinha eleito uma sandália alta de material 100% transparente como sua favorita – mesmo tendo no closet muitos pares de grifes famosas – porque lhe fazia pensar no sapatinho de cristal da Cinderela.

Dani certamente ficaria tão fascinada pela sandália quanto Nair, mas daí a usar... O item empacaria em uma das suas limitações. “Não sei andar de salto. Se eu pudesse, só andaria de sapatilha, All Star e rasteirinha”, confessa enquanto caminhamos para fotografar no jardim da Band. O salto alto que aparece nas fotos desta reportagem foi usado só para os cliques. “Sou incapaz de pilotar essas sandálias espetaculares. Admiro quem consegue. A Sabrina Sato, com saltão, samba aqui nas pedras. Eu não consigo”, diz Dani em suas sapatilhas pretas – aliás, bem parecidas com as da Gata Borralheira de Walt Disney antes do encontro com a Fada Madrinha.

Esse despojamento quase infantil é um dos traços mais marcantes da pessoa física Daniela Maria Giusti Adnet, que ganhou o apelido Calabresa da criançada do Club Med, onde trabalhava como monitora dos baixinhos. “Adoro criança. E, talvez porque eu estivesse morando longe de casa, eu me apegava à criançada. Quando a semana acabava e eles iam embora, eu me via chorando na despedida! (risos).” Isso aconteceu em 2004, logo que saiu da faculdade de Publicidade e Propaganda, na prestigiada Belas Artes, em São Paulo. Mas sua história no brilhante mundo do entretenimento começou muito antes disso.

ORIGEM
“Comecei a fazer teatro muito cedo. Participei de peças com minha irmã quando eu tinha 5 anos. Com 8, fiz um curso livre de teatro no Stocco, colégio onde eu estudava, em Santo André, com o professor Wilson Alves. Essa experiência foi muito importante para mim. Eu era muito tímida. Mas amava interpretar e fazia shows de imitação, cantava... Minha mãe (Marlene, dona de casa), meu pai (Cláudio, engenheiro) e minha irmã Fabiana (advogada) são muito engraçados. Minha mãe fazia show. Ia na reunião de condomínio e voltava imitando os vizinhos. Quando trocava o porteiro, ela já pegava os trejeitos e imitava para a gente... Mas é muito tímida. Isso eu peguei dela. E o teatro me libertou”, conta Dani no seu ritmo rápido e entusiasmado de falar, que fica ainda mais intenso quando o assunto é a ribalta.

“No teatro, você aprende a jogar junto, ganha uma noção de grupo. Na escola, tudo é muito individual. Muito cruel isso. Se você não se encaixa em nenhuma turma, fica sozinho. Na aula de teatro, não. De cara, o professor manda tirar o sapato e fazer roda. Obriga a dar mão, rolar no chão... Quando você vê, já abraçou todo mundo – estou até arrepiada! – e é uma troca de energia muito legal. Você se aceita e aceita os outros, porque na aula tem de tudo: gordo, magro, feio, bonito, fedido, e essa diversidade é legal, estimula muito a criatividade. Teatro vicia”, conclui.

Embora goste muito de trabalhar com TV, Dani considera o teatro algo mágico. “Você tem a resposta do público na hora. Escolhi fazer comédia porque fico feliz em ouvir o som da gargalhada da plateia. É o melhor som do mundo! Muito melhor que um aplauso! Me sinto feliz. Parece que estou fazendo o bem para alguém”, revela a andreense, que passou a infância e a adolescência entre a sala de aula e as coxias.

“Fiz muita peça na escola. Sempre gostei de fazer papel cômico. Não tinha o problema de vaidade, conseguia rir de mim mesma. Por isso, pedia para ser o mendigo, o velho, o pirata. Não queria ser a princesa, achava um desafio ser engraçada. Sempre vi graça nos personagens estranhos. Ser linda é ser estática. É um papel difícil. E o comediante vai roubar a cena.”

Depois do Stocco, a humorista cursou o Ensino Médio no Colégio Singular, e ainda é lembrada pelos professores. “A Dani era uma menina na dela. De forma geral, era uma boa aluna. Não era do tipo que tentava chamar atenção”, recorda-se a professora Marilda Padovanni. De fato, era depois que deixava a sala de aula que Dani revelava seu brilho.
“No Singular, fiz um curso de teatro com o Marcelo Gianini. Não era profissionalizante, mas era mais profissional. A gente participou de vários workshops, festivais, ganhei prêmio de melhor atriz e viajava com a peça. Isso foi dos 15 aos 18 anos. Eu sabia que ia fazer teatro pelo resto da minha vida. Mas não pensava em trabalhar só como atriz. Queria ser desenhista da Disney – o Walt Disney é meu maior ídolo – e gosto de desenhar desde criança”, conta.

O desejo de atuar na mesma empresa que Mickey, Minnie e Pateta direcionou a escolha na hora do vestibular, levando Dani a cursar Publicidade e Propaganda na Belas Artes, em São Paulo. “Na faculdade fiz parte de outros grupos de teatro. Quando me formei, pensei ‘Preciso ir para a Disney’. E era uma coisa possível. Quando fui para a Disneyworld no ano 2000 e encontrei um amigo meu trabalhando no caixa, pirei. Então, como tinha acabado a faculdade, fui tentar um intercâmbio pela STB. Fiz as entrevistas, falei que era meu sonho, enfim. Mas justo naquele ano que eu podia ir e passei não teve embarque de brasileiros para a Disney. O visto não saiu por causa de alguma picaretagem”, conta, revelando a decepção na voz para logo em seguida retomar toda animada.

“Só que aí é



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