Os colecionadores

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Isadora Almeida

Salomon Katz tem acervo com mais de 2.000 conchas catalogadas em oito famílias. Foto: Andréa Iseki

 A paixão por colecionar objetos não tem idade. É exercício que pode ser iniciado na infância e proporcionar grandes recordações quando se atinge idade avançada. Quem vivenciou as décadas de 1970, 1980 ou 1990 pôde sentir o gostinho da prática, fosse colecionando figurinhas de jogadores de futebol, fosse juntando papéis de carta, adesivos da febre Amar É ou minicraques de campanha de refrigerante. Havia uma vontade de fazer parte desse mundo e completar a coleção, disputando com os colegas quem possuía o maior número.
Mas ser colecionador de fato é, sobretudo, ter o espírito de guardar, organizar e expor itens por categoria, muitas vezes raros e que não necessariamente têm fim. São os casos do ginecologista Salomon Katz, 78 anos, e do comerciante Jean Gantinis, 53, que possuem acervos numerosos em suas residências, cada um com seu item de preferência. A pedido da Dia-a-Dia, ambos abriram seus ‘baús’ para compartilhar suas relíquias com os leitores.

REI DOS MARES

Embora tenha nascido em São Paulo, o ginecologista e obstetra Salomon Katz, que integra há 30 anos o corpo clínico do Hospital e Maternidade Dr. Cristóvão da Gama, mantém em Santo André um acervo com mais de 2.000 conchas catalogadas em oito famílias, com o país, ano e valor que pagou. Para ele, o ato de colecionar ajuda a agregar cultura, além de ampliar seus conhecimentos sobre história, geografia e biologia.
Sua primeira aquisição foi durante uma visita ao Museu de História Natural de Washington, nos Estados Unidos. Aficionado pelo universo marítimo, Katz gosta de saber a procedência de cada concha e encara o hobby como forma de aliviar o estresse do dia a dia. “Uno o útil ao agradável. Gosto de divulgar esse meu interesse para estimular as pessoas a terem mais amor pela natureza e cuidarem do planeta”, justifica.
Já são 30 anos de histórias e conchas a contar. O médico garante que sua coleção não tem preço: é herança que jamais permitirá que coloquem à venda. “Vou doar para algum museu, em uma sala reservada em meu nome, para que deem continuação a isso”, acrescenta.
O valor mais alto que chegou a pagar por uma concha foi US$ 150 (cerca de R$ 350), no próprio Brasil. Trata-se da Cyprea, que tem origem na Flórida e justifica seu valor pela característica de cor uniforme, sem emenda ou cicatriz. Segundo o médico, a negociação normalmente é feita em dólar e varia conforme o tempo. Uma delas, comprada em 2012 nas Filipinas pelo valor de R$ 200, pode valer atualmente o dobro ou até o triplo do preço.
A afeição por colecionar vem desde criança. Aos 8 anos, Katz mudou-se para Santo André (onde residiu até os 22) e aos 9 começou a juntar selos. A filatelia ampliou os horizontes do seu conhecimento, pois sempre procurava pesquisar o local de origem e a história das personalidades que figuravam em cada selo. Um exemplo foi a aquisição da imagem de Hitler, que lhe instigou a desvendar toda a trajetória do líder nazista.
Também conseguiu acumular vistos do Brasil datados de 1900 até os anos atuais, um de cada mês. Determinado, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba, e liderou movimento estudantil para fazer com que as faculdades se tornassem federais. Eram os anos de presidência de Juscelino Kubitschek (1902-1976).
Por conta de sua profissão, Katz participou de congressos médicos em diversos países e, naturalmente, retornava ao Brasil com moedas e notas estrangeiras. Resolveu, então, criar uma coleção de cédulas para seu filho, que a conserva até hoje. Também montou acervo de pedras preciosas e fósseis, mas percebeu que estava acumulando objetos demais. Por isso, decidiu prosseguir apenas com as conchas.
Após percorrer lugares como Singapura, Filipinas, Tóquio, Sicília, Canadá e Israel, o ginecologista elege como concha preferida a Heliotis, espécie rara, adquirida há dez anos no Brasil. Ela foi descoberta em 1814, na Austrália, e pertence à família Haliotidae.
Integrante da Sociedade Brasileira de Conquiologistas, Katz é considerado um dos maiores colecionadores do País, e assume que suas viagens são norteadas pela paixão por conchas. “Não consigo viver sem elas.”

Jean Gantinis guarda 5.000 discos de vinil na estante de sua casa. Foto: Orlando Silva

VIVA O ROCK´N´ROLL!

Enquanto Katz se dedica às conchas, o comerciante andreense Jean Lazare Gantinis, 53 anos, é aficionado por discos de vinil. Casado com Isabel, 54, e pai de dois filhos – Lian, 24, e Jimi, 21 –, ele comprou o primeiro LP em 1972. Lembra que, na época, existiam dois tipos de discos: o Single e o LP, sendo que o primeiro era uma prévia com apenas quatro canções (portanto, mais em conta). Por isso, adquiriu apenas singles no primeiro ano de experiência, mas não demorou muito para adquirir LPs.
Fã de rock, aprendeu com os vizinhos a ouvir Jimi Hendrix, Black Sabbath e Led Zeppelin – não à toa, seu filho chama-se Jimi. Hoje, possui mais de 5.000 exemplares guardados na estante de sua casa, em ordem alfabética, e acredita que 95% deles são discos de rock. Os outros 5% misturam gêneros como MPB e jazz. Seus preferidos? Bandas underground, a exemplo de Dust, Captain Beyond e Cactus.
O comerciante pertenceu a um grupo de amigos que também colecionavam vinis, e chegou a viajar com eles em busca de novos álbuns. Frequentavam o Museu do Disco nos anos 1970 e 1980, em São Paulo, e chegaram a percorrer Rio de Janeiro e Argentina à caça.
Aos 24 anos, Gantinis abriu uma loja de LPs, onde hoje também vende CDs e instrumentos musicais. O valor médio do disco de vinil é de R$ 35, mas ele explica que os importados, até mesmo de sua coleção, podem valer de R$ 100 a R$ 1.000. “O mais caro que eu tive custava US$ 700 (cerca de R$ 1.600), do Elias Hulk, mas eu vendi. Depois, descolei um relançado por R$ 180, do mesmo cantor.”
A música faz parte da vida de Gantinis. Frequentemente, visita feiras



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