Riga, a cidade cantante

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Miriam Gimenes

Livros da Biblioteca nacional foram transferidos de uma margem à outra do Rio Daugava  

Sábado, 18 de janeiro de 2014. Indiferentes ao frio de -12°C, cerca de 14 mil pessoas tomaram as ruas de Riga, na Letônia, para mostrar que a união também move montanhas – no caso, 2.000 livros da antiga Biblioteca Nacional, nas adjacências do Centro Histórico, que foram transferidos de mão em mão até o imponente prédio da Nova Biblioteca, na outra margem do Rio Daugava. Mais do que promover uma mudança, os dois quilômetros de cordão humano serviram para mostrar que a população está entusiasmada para vivenciar as metamorfoses que virão e pronta para receber os turistas fraternalmente neste ano em que Riga divide com Umea, na Suécia, o título de Capital Europeia da Cultura. O novo edifício, adornado por painéis de vidro e placas de aço inoxidável, lembra uma montanha, com coroa no topo, destacando-se em meio à arquitetura art nouveau das fachadas e sua variante germânica, o jugendstil.

Apesar do modesto orçamento de 24 milhões de euros em cinco anos de preparativos – o que impediu investimentos em infraestrutura – os letões provaram que podem fazer a diferença para tornar 2014 um ano inesquecível aos amantes da arte. Afinal, estamos falando da cidade natal de dois nomes que revolucionaram o meio artístico: o bailarino Mikhail Baryshnikov, que estudou na Escola Nacional de Coreografia, e o brilhante diretor de cinema Serguei Eisenstein (1898-1948).

A largada para a maratona de 200 eventos e projetos culturais ocorreu no dia 17 de janeiro, com a estreia da montagem multimídia de Rienzi, de Richard Wagner, na Ópera Nacional da Letônia. O compositor germânico iniciou a obra no período em que, para fugir de credores espalhados por toda a Alemanha, atuou como mestre de capela e regente do teatro em Riga, entre 1837 e 1839.

E o espetáculo será apenas o pontapé para uma série de concertos que se estenderá durante todo o ano embalada por filhos ilustres da cidade, a exemplo do maestro Mariss Jansons e do violinista Gidon Kremer. Além deles, o festival Nascidos em Riga, em julho, reunirá as cantoras de ópera Maija Kovaleska, Inese Galante e o tenor Aleksandrs Antonenko.

Mas nenhum evento promete ecoar pelo país com tanta força quanto a competição de corais World Choir Games, que deverá juntar, no mesmo mês, 20 mil participantes de quase 90 nações em uma espécie de revival da chamada Revolução Cantante, que fortaleceu a identidade nacional e inspirou a libertação da vizinha Estônia do jugo soviético em 1988.

O Museu Nacional de Arte da Letônia também inaugurou em janeiro a mostra 1914, que lembra o início da Primeira Guerra Mundial e conta as histórias de 11 países fundados após o conflito internacional – entre eles, a própria Letônia – na visão de artistas ativos na época. Já a Rota do Âmbar resgata os significados da primeira moeda na região e aborda o futuro das relações comerciais agora que a Letônia adotou oficialmente o euro.

Outro evento aguardado será a abertura ao público, em maio, do prédio que serviu de quartel-general do exército nazista durante a Segunda Guerra e de sede da KGB (Comitê de Segurança do Estado) no período de domínio soviético, quando muita gente foi interrogada e torturada pelos comunistas. O serviço de inteligência funcionou de 1954 a 1991, exercendo papel decisivo para o poderio vermelho diante dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. A mostra, com fotos e relatos de moradores, poderá ser visitada até setembro. E a programação ainda prevê uma exposição de arte contemporânea da letã Vija Celmina, entre abril e junho.

De acordo com o prefeito de Riga, Nils Usakovs, o extenso calendário de eventos deverá alavancar em 25% a quantidade de visitantes, fazendo a capital báltica atingir a marca de 2,1 milhões de turistas em 2014. Mas esse número pode ser ainda maior, já que a modéstia faz parte das virtudes letãs, como bem exemplifica Baryshnikov em uma de suas mais célebres citações: “Não tento dançar melhor do que ninguém. Tento apenas dançar melhor do que eu mesmo”. 




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