Movido pelo desafio

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Maria Cláudia Aravecchia Klein

Foto: Andréa Iseki

 Em um primeiro momento, o jeito tranquilo e ‘descansado’ de falar não demonstra muito a firmeza e a determinação com que o ex-medalhista olímpico Gustavo Borges lida com os negócios. Bastam alguns minutos de conversa, no entanto, para perceber que esse paulista prestes a completar 41 anos, nascido em Ribeirão Preto no dia 2 de dezembro e criado na cidade de Ituverava (SP) – onde, na infância, começou a praticar vários esportes de “gente grande”, como ele mesmo diz, e aprendeu a nadar –, sabe exatamente aonde quer chegar. E os números comprovam isso.
Depois de ganhar reconhecimento internacional, aos 18 anos, com uma participação marcante, que lhe rendeu cinco medalhas, nos Jogos Pan-Americanos de 1991, em Havana (Cuba), Gustavo conquistou sua primeira e heroica prata na final dos 100 m livre da Olimpíada de Barcelona (Espanha), em 1992. Daí por diante, contabilizou quatro medalhas em jogos olímpicos, 19 em Pan-Americanos, bateu recordes sul-americanos em quatro mundiais e subiu 30 vezes ao pódio de Copas do Mundo de Natação. Foram 12 anos dedicados ao esporte aquático. A despedida da carreira como atleta ocorreu sob as bênçãos dos deuses de Atenas, na Grécia, em 2004, quando disputou o revezamento 4 x 100 m livre.

TALENTOS CONVERGENTES

Embora tenha sido previamente planejada, a transição da carreira esportiva para a vida de empresário não foi fácil. “No começo do planejamento, eu sabia que a ‘aposentadoria’ chegaria. E a primeira pergunta para o atleta que vai parar é se existe realmente o desejo de sair de onde se está?” No caso dele, o estudo e o planejamento foram rápidos e executados ao mesmo tempo em que vivenciava o encerramento da carreira de atleta. “E aí, a questão do empreendedorismo veio à tona”, lembra Gustavo.
Filho do economista e empreendedor inato José Jovino Borges e da pedagoga Diva França Borges, Gustavo conta que a valorização dos pais em relação aos estudos e à prática esportiva foram essenciais para a sua formação. “Junto com a minha irmã Valéria, tive a oportunidade, graças ao respaldo intelectual e financeiro dos meus pais, de ser intercambista. Concluí a faculdade de Economia na Universidade de Michigan (Estados Unidos) e passei quatro anos competindo pela instituição, enquanto conciliava treinos e estudo.”
Na época, a atividade na piscina falou mais alto que o diploma, situação que se inverte agora, como empresário. “Nem sei muito bem em quais áreas um economista atua. Em banco? Porém, essa bagagem dá uma visão interessante para os negócios. Sou muito mais empreendedor e administrador do que qualquer outra coisa. Com os meus negócios, em áreas diferentes, obtive um aprendizado essencial para atuar na gestão e na área administrativa. Ao mesmo tempo em que deixava as piscinas, comecei a entrar em alguns empreendimentos diversificados. Fui sócio de bar, restaurante e de duas academias nesse período.”
Em contrapartida, os treinos foram prejudicados durante essa fase de transição. Para ele, foi o preço por abraçar tudo ao mesmo tempo. O grande desafio passou a ser nadar em alto nível sem gastar muito tempo dentro da piscina. Gustavo desenvolveu novas metas, condizentes com as suas escolhas. “Não adiantava almejar uma medalha olímpica treinando daquele jeito. Eu sabia disso, mas poderia ser o melhor do Brasil e terminar uma carreira digna nas Olimpíadas de Atenas”, desabafa.
Com atuação em vários segmentos, Gustavo é um empresário que, não satisfeito com seu desempenho apenas nas piscinas, ampliou o talento para os palcos. Não como ator - embora tenha tido uma participação recente, cuja repercussão foi bem divertida, ao lado da atriz Tatá Werneck, a Valdirene, na novela Amor à Vida -, mas como palestrante motivacional. Apesar de não revelar valores, ele se diz satisfeito com a remuneração por suas palestras, que podem ser ministradas também em inglês ou espanhol, já que é fluente nos dois idiomas.
A estreia em seminários ocorreu precocemente. Foi para um grupo de atletas, esportistas e alunos, em 1993, quando Gustavo bateu o primeiro recorde mundial. Na época, tinha 20 anos. Mas a pouca idade não o inibiu: chegou lá, pegou o microfone e se pôs a falar. Depois de 1996, algumas empresas passaram a procurá-lo em busca de algo mais profissional. “Em um primeiro momento, eu me preocupava muito mais em falar bonito do que em contar a minha história. Por volta de 2000, a palestra já estava mais contextualizada, com o que eu realmente acreditava ser relevante e consistente. A grande evolução veio mesmo com as dicas de um amigo, o palestrante motivacional Augusto Gomes. Como ele vinha do teatro, me ensinou uma série de ferramentas e conceitos novos para a palestra, que ganhou ares de entretenimento, tornando-se mais divertida e próxima da realidade dos participantes”.
Para Gustavo, não é necessário nenhum poder especial para cativar a plateia. “Não é preciso refletir para saber o que leva um cara a conquistar uma medalha ou um recorde. Isso já está inscrito na medalha, que ele precisou trabalhar duro, com muita disciplina, dedicação e comprometimento, para conquistar. O atleta é um modelo de inspiração para qualquer público.”

BRAÇADAS À FRENTE

O único excesso que Gustavo comete é o de dedicação, que demonstra desde os tempos em que treinava por horas e horas ininterruptas até a rotina de atividades diárias que concilia com o principal negócio: o comando de seu escritório, localizado na Vila Nova Conceição, em São Paulo, responsável por implantar a Metodologia Gustavo Borges.
Depois de uma ‘aposentadoria’ bem programada na natação profissional, ele ampliou o número de unidades de sua rede de academias, principalmente no Paraná e em São Paulo. “Quando comecei em 2002 no ramo de academias, junto com um sócio de Curitiba - o Renato Ramalho -, queríamos um ambiente familiar, com foco no ensino de natação para as crianças. Foi a ideia de expandir esse novo direcionamento para as escolas de natação que levou ao nascimento da metodologia.”
Muito mais do que oferecer material pedagógico e serviços que permitem um controle de avaliação do aprendizado dos alunos, o método contribui para a evolução dos clientes também na gestão do próprio negócio. “Nosso sonho



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