Viva o poetinha!

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Miriam Gimenes

Vinicius completaria 100 anos dia 19 de outubro

“Um carioca que se preza nunca vai abdicar de sua cidadania. Ninguém é carioca em vão. Um carioca é um carioca!” Quem melhor que Vinicius de Moraes (1913-1980) para definir o que significa nascer na Cidade Maravilhosa? Aquela, cantada em verso e prosa por ele e descrita de forma peculiar no texto Estado da Guanabara, de sua autoria. Neste mês, em que se comemora o seu centenário de nascimento, não há como esquecer os encantos desta maravilha da natureza que atrai não apenas brasileiros como turistas do mundo inteiro. Mas, é claro, sob o ponto de vista do Poetinha.

Boêmio inveterado, apaixonado por amigos, bares, uísque e mulheres – casou-se nove vezes – Vinicius não era ligado a pontos turísticos. Seu negócio mesmo era comer bem, degustar sua bebida preferida e ser paparicado. É o que diz sua filha Georgiana de Moraes. “Em geral, sabiam do que ele gostava, serviam o que ele queria. Meu pai adorava isso”, lembra. Alguns locais que o poeta costumava frequentar não existem mais, mas outros tantos ainda fazem parte do roteiro tradicional carioca.

Nascido no Jardim Botânico, o letrista de Tom Jobim tinha grande afeto pelo bairro, onde voltou a morar quando adulto. Outro lugar de apreço era a Ilha do Governador, onde costumava passar suas férias, morou por um tempo e desfrutou de seus primeiros e inesquecíveis amores. Também mantinha ligação forte com a Gávea, bairro em que sua mãe passou a vida toda e aonde ele, entre um relacionamento e outro, voltava sempre. Foi lá, também, que o escritor morreu. Mas chega de saudade!

Conheça a seguir alguns dos lugares mais importantes da vida deste ilustre brasileiro, sinta sua presença imortal – posto que não era chama – e apaixone-se, assim como ele, pelo seu singular Rio de Janeiro, “pois ser carioca, mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa em meio à sua adorável desorganização”.

Gávea
“Todo mundo, como eu, devia ter uma cobertura na Gávea com um belo terraço, de onde se descortina ao Norte o Pão de Açúcar; ao Sul o Hipódromo; a Leste a réstia luminosa de Ipanema e a Oeste o Corcovado – o Cristo de costas, discreto, inatento.”
Cobertura na Gávea

O Hipódromo da Gávea, destacado por Vinicius, fica na Praça Santos Dumont, 31. Localizado entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Jardim Botânico, foi inaugurado em 1926. É permitido o acesso do público apenas em dias de corrida de cavalos (sexta, sábado e domingo), com entrada gratuita. O acesso ao Jockey Club, no entanto, é restrito a sócios. Bem próximo está a Praça Santos Dumont, conhecida como Praça do Jóquei, espaço com parquinho e chafariz. Ela é cercada por restaurantes e botequins, como o tradicional bar Hipódromo, que serve petiscos, pizza, o galeto que leva o nome da casa e o famoso Filé à Oswaldo Aranha (com alho frito, batatas portuguesas, arroz branco e farofa de ovos). Aos domingos, o passeio público cede espaço a uma feira de antiguidades e artesanato tradicional, das 9h às 17h.

Jardim Botânico
“Tudo era força ali, tudo era força ascensional da natureza.”
A Floresta

A casa onde Vinicius veio ao mundo no dia 19 de outubro, há exatos 100 anos, não existe mais: ficava no número 114 da Rua Lopes Quintas. Já adulto, em 1965, ele morou na Rua Diamantina, 20. Os dois locais são bem próximos àquele que nomeia o bairro e começou a ser cultivado por Dom João VI em 1808. Mesmo não saindo de casa, do alto de sua cobertura, o Poetinha certamente apreciava o oásis de plantas tropicais. Lá está um Jardim Japonês e sensorial, em meio a bromélias, rosas, orquídeas e a aleia de palmeiras, símbolo do Jardim Botânico. O parque funciona todos os dias, das 8h às 17h, e o ingresso custa R$ 6, sendo que crianças de até 7 anos e pessoas com mais de 60 não pagam.

Café
“Para fazer um bom café, meu bem/ Como se faz lá no Brasil/ Precisa pôr tudo a ferver, meu bem/ Como se põe lá no Brasil”
Samba do Café

O Café Lamas é o restaurante mais antigo e tradicional do Rio de Janeiro – tem 139 anos – e um dos locais onde Vinicius costumava tomar seu cafezinho com os amigos. O estabelecimento, que antes ficava no Largo do Machado, mudou-se há quase 40 anos para a Rua Marquês de Abrantes, 18, no bairro do Flamengo. Um dos sócios, Milton Brito, não chegou a conhecer o Poetinha, mas sabe de sua visita frequente e conta que ele costumava varar a noite por lá, inclusive na companhia de Chico Buarque. Além de bebidas variadas, o restaurante também serve café da manhã, almoço, lanche, petiscos e jantar.

O antigo Bar do Veloso foi o cenário para a composição de Garota de Ipanema

Bar e Restaurante
“Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela menina/ Que vem e que passa/ Num doce balanço/ A caminho do mar”
Garota de Ipanema

A sua música mais famosa, escrita com o parceiro e amigo Tom Jobim, foi pensada no antigo Bar do Veloso, ao ver a jovem e bela Helô Pinheiro passar. Hoje, o local chama-se Garota de Ipanema – é claro – e fica na Rua Vinicius de Moraes, 49. Considerado ponto turístico da cidade, até hoje o estabelecimento ostenta a mesa usada pelo poeta e inscrições na parede com a letra da música. Entre as iguarias mais pedidas estão bolinho de bacalhau, patinhas de caranguejo e picanha. No andar de cima é possível deleitar-se com a bossa nova do Vinicius Piano Bar. No número 129 da mesma via funciona a livraria Toca do Vinicius.
Outro lugar que guarda a mesa cativa do poeta, mais precisamente a 15, é o restaurante Antiquários, especializado em comida internacional, na Rua Aristides Espínola, 19, Leblon. O proprietário, o português Carlos Perico, atendia Vinicius pessoalmente e o define como um gentleman. “Ele sempre vinha com as filhas e os amigos e gostava de comer tudo, principalmente leitão e bacalhau com queijo da serra”, lembra o lusitano, que não consegue elencar sua música preferida. “Gosto de toda



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados