Pequenos detalhes

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Miriam Gimenes

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“O maior estímulo que a criança pode receber é o vínculo afetivo-amoroso”

O pensador suíço Jean Piaget (1896-1980) estudou a fundo o desenvolvimento cognitivo humano. Como legado, deixou a Teoria Cognitiva, em que divide esta evolução – que vai desde o nascimento até os 12 anos de idade – em quatro períodos (sensório-motor, pré-operacional, operacional-concreto e operacional-formal). Em seus trabalhos, observou que o cérebro se desenvolve de forma gradual, que nada acontece antes de sua etapa específica e que o potencial dos pequenos deve ser estimulado desde sempre. E sentencia: “A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano.” Sintético e sugestivo. Isso porque os primeiros cinco anos de vida são os mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento cerebral – especialmente os 12 meses iniciais. Até os 2 anos, as sinapses – conexões entre os neurônios, responsáveis pela capacidade de aprendizagem, discernimento e comunicação – registram o seu apogeu. A primeira infância, portanto, é importantíssima para formar o que chamamos de inteligência. E é aí que entra a essencial função dos pais: cuidar, incentivar e estimular.

A consultora e fonoaudióloga especialista em desenvolvimento infantil Katya Cabrera Rodrigues, responsável pelo site estimulando.com, destaca que uma criança incitada adequadamente terá mais capacidade de aprendizagem e maior facilidade em adaptar-se ao seu meio e se relacionar com outras pessoas. Em resumo, estará mais preparada para a vida. “Quando bem estimulada, a criança passa a ter mais capacidade de amar a si mesma e ao seu próximo, além de facilitar a execução da formação de critérios e a tomada de decisões de forma segura. Também auxilia na formação do seu caráter, gerando assim indivíduos muito mais otimistas e confiantes.”

É importante ter ciência de quais são as vertentes a serem potencializadas e focá-las. “O estímulo é realizado através de brincadeiras, jogos, exercícios e várias outras técnicas que beneficiam o potencial cerebral da criança, desenvolvendo assim os seus lados físico, emocional e intelectual”, diz Katya. Tudo isso respeitando, é claro, as etapas dos pequenos – lembre-se da teoria de Piaget – e o fato de serem ainda crianças. “Caso contrário, os filhos virarão uma agenda de executivo correndo atrás de horários”, alerta o neuropediatra Abram Topczewski, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Mas não é necessário desespero. Os pais também não podem esquecer de um item essencial: o amor. “O maior estímulo que a criança pode receber é o vínculo afetivo-amoroso”, diz a pediatra e assistente do Departamento de Pediatria do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) Filumena Gomes. Tudo, é claro, além do bom relacionamento dentro de casa. “O melhor presente que os pais podem dar a seus filhos é o amor que eles mostram um pelo outro”, completa o autor do livro Além do Nana Nenê, o norte-americano Gary Ezzo.

Pesquisa realizada com 727 crianças, na faixa etária de 2 meses a 2 anos, que frequentaram as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de áreas que sediaram atividades do Programa Educação pelo Trabalho em Saúde da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) entre 2009 e 2012, comprova o conselho do neuropediatra. O estudo aponta que complicações durante a gestação e convivência com pessoas agressivas expõem 48% dos pequenos ao risco de atraso no desenvolvimento. Portanto, estrutura, dedicação e paciência são detalhes que farão toda diferença.

UM SOPRO DE VIDA
Desde que o exame de Beta HCG – hormônio que acusa a gravidez – dá positivo, os pais passam a ter preocupação constante e crescente. De início, o choque é para a mãe, que se vê responsável em cuidar do próprio corpo para abrigar o pequeno que cresce célula a célula em seu ventre. Por isso, alimentação e hábitos não tão saudáveis devem ser banidos. Pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, por exemplo, indica que o consumo de álcool durante a gestação pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo das crianças quando estas estiverem em idade escolar.

As gestantes devem também controlar o peso; evitar estresse, exposição à poluição e ingestão excessiva de cafeína. E devem consumir mais proteína (base da fabricação dos neurotransmissores), ingerir vitamina D com recomendação médica (pesquisa canadense aponta que mães que tiveram suplementação deste composto geraram crianças com QI maior) e aumentar o consumo de Omega-3 (rico em moléculas de DHA, que garantem a eficácia da comunicação dos neurônios), presente no salmão e na sardinha.

Assim que a criança nasce, a amamentação – para as mães que conseguem viabilizá-la – é essencial. A prática aproxima o contato visual entre mãe e filho, item fundamental para a cognição. “Quando se trata de valor nutritivo, nada se iguala ao leite materno para recém-nascidos. É o alimento perfeito: tem fácil digestão, proporciona uma excelente nutrição, contém o equilíbrio de proteínas e gorduras, e ainda fornece anticorpos adicionais para construir o sistema imunológico do bebê”, acrescenta Gary Ezzo. Rico em ácidos graxos, o leite materno é amigo do cérebro.

A preocupação deve ser constante. A nutricionista Alessandra Nunes garante que criança bem alimentada tem maior rendimento cognitivo. “É importante, no entanto, impor algumas regras de horário e de número de refeições. Café da manhã, almoço e jantar não devem faltar em hipótese alguma. Entre uma refeição e outra, é sempre importante oferecer algum alimento saudável, evitando queda nos rendimentos físico e mental. Entre os alimentos importantes, o destaque vai para o peixe, essencial ao cérebro porque melhora a memória, a concentração e possui ação anti-inflamatória. “Ele protege os neurônios contra os radicais livres e preserva suas membranas, colaborando para a troca de informações entre eles”, acrescenta a especialista.

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