Deus do humor

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Miriam Gimenes

O stand-up For a do Normal ficará em cartaz até 30 de novembro

Trechos do Livro Sagrado usam três palavras para definir o poder de Deus: onipotência, onisciência e onipresença. Apenas o Todo-Poderoso faz de tudo, tem conhecimento ilimitado e pode estar em diversos lugares ao mesmo tempo. Somente Ele? Heresia. Está aí Fábio Porchat que não nos deixa mentir. O humorista, roteirista e ator é capaz de aparecer no cinema, nos palcos, na televisão, na internet e em comerciais – tudo ao mesmo tempo –, atuando com primor em qualquer uma das posições para as quais é escalado. Um ‘deus’ do humor, porque só mesmo com dons divinos é possível dar conta de tantos compromissos. Carioca que cresceu em São Paulo e voltou para a Cidade Maravilhosa há 11 anos, Porchat, 30, vive na ponte aérea. Além de fazer parte do elenco fixo de A Grande Família, ele apresenta aos fins de semana o stand-up Fora do Normal, no Teatro Frei Caneca, em São Paulo – com dupla sessão na sexta e no sábado –; viaja com o espetáculo no domingo para outros Estados; faz cinema – o próximo filme, Meu Passado me Condena, estreia dia 25 –; participa do quadro Medida Certa, do Fantástico; estrela comerciais e ainda arruma tempo para fomentar o rol de esquetes do Porta dos Fundos, que em um ano tornou-se o maior canal de humor do mundo, do qual é um dos sócios. Como consegue? “Não faço a menor ideia. Quando souber essa resposta, vou largar tudo, lançar um livro e ficar bilionário”, diz, sorrindo.

O portal de vídeos na internet, em especial, tornou seu rosto conhecido mundialmente da noite para o dia. Foi por causa do canal de humor – com quase 150 esquetes – que ele chegou a ser abordado em outros países. E Porchat, assim como determinou o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), usa bastante do humor para falar de coisas sérias. Tanto que seu vídeo preferido – cuja imagem virou até camiseta – é o esquete chamado Programa Político, em que satiriza a falta de iniciativa da categoria diante das necessidades principais da população, como Educação e Saúde. “Ele é simples, tem poucas frases, mas diz tudo”, justifica.

E é com este seu amor rápido – ora debochado, ora com toques de seriedade – que Porchat conquistou uma legião de fãs. Não à toa, seu stand-up, em cartaz até 30 de novembro, já está com ingressos esgotados até o fim de outubro. Para medir o ‘efeito Porchat’ – termo usado pelos colegas do Porta para definir seu dom de encenar textos –, é só ir a uma apresentação sua ao vivo. Basta ele pisar no teatro que a plateia fica em polvorosa e ri, sem exageros, do começo ao fim, durante uma hora de apresentação.

O humorista não fala em cifras, mas é fato que o sucesso tem refletido na sua conta bancária. Tanto que virou um dos garotos-propaganda preferidos dos últimos tempos e, até agosto deste ano, havia protagonizado sete comerciais de TV. Já criaram até comunidades em redes sociais satirizando sua onipresença, como a intitulada O Mundo é Fábio Porchat, em que seu rosto aparece até dentro de um pacote de Doritos. Mas, diferentemente de outros artistas, ele não tem medo de cansar sua imagem. “Eu me preocuparia com isso se as matérias que saíssem fossem falando que eu estou namorando uma ex-BBB que traiu um ex-Fazenda, ou que eu apareci no Carnaval pegando um travesti. Mas é só trabalho. Se pensarem ‘puxa, o Fábio está trabalhando muito!’, que ótimo, porque é isso o que eu faço.”

REPOUSO DA ALMA
São Tomás de Aquino (1225-1274) disse que o humor é necessário para a vida humana porque permite o repouso da alma. E foi durante uma apresentação, em 2002, no Programa do Jô, na Rede Globo, que o então estudante de Administração percebeu isso e descobriu sua vocação. Acostumado a encenar para os colegas de faculdade, pediu para o próprio Jô Soares, por meio de um bilhetinho, para interpretar um texto de Os Normais, de quem era fã. O apresentador não só o chamou como disse: ‘O palco é seu’. Porchat não fez feio e, após ouvir os risos e aplausos da plateia, chamou o humor de seu.

Depois desse episódio, voltou para o Rio e decidiu estudar na CAL (Casa de Artes das Laranjeiras) – da mesma turma do humorista Paulo Gustavo, do Minha Mãe é Uma Peça. De lá para cá, trabalhou como roteirista e ator nos programas globais Zorra Total, Junto & Misturado, Os Caras de Pau e na série De Perto Ninguém é Normal, da GNT. Fez parte do primeiro grupo de stand-up do Brasil, o Comédia em Pé, escreveu peças e participou de filmes (só neste ano, estrelou em Vai Que Dá Certo e O Concurso).

Porchat não vê diferença entre o seu tipo de humor e o das gerações passadas. “O que sei é que esta geração é muito autoral. Gosta de falar daquilo que ela quer falar. Nós somos atores autores também.” No seu stand-up, por exemplo, inspira-se no cotidiano. E por ser comediante inato, faz piada de si comemorando, em um comercial de TV, o momento em que finalmente o levam a sério. Mas não vê isso como problema na vida real? “Acho engraçado... As pessoas falam: ‘Eu olho para a sua cara e tenho vontade de rir’. E eu respondo: ‘Graças a Deus! Que bom que você não tem vontade de chorar, eu ia ficar muito triste’. Gosto disso. Acho legal olharem para mim e darem risada. Enquanto as mulheres não derem risada, está bom.”

Divulgação/Jorge Bispo
Os sócios da Porta dos Fundos: João Vicente de Castro (esq.), Porchat, Ian SBF, Gregório Duvivier e Antonio Tabet

PORTA DOS FUNDOS
Quando Porchat, Ian SBF, Antonio Tabet, Gregório Duvivier e João Vicente de Castro tiveram a ideia de criar um canal de humor na internet, ninguém botou fé. Só eles. “Acreditamos que ia dar certo, apostamos muito nisso, mas não achamos que ia dar tão certo em tão pouco tempo.” Hoje, o portal já soma 5 milhões de inscritos e milhares de visualizações diárias. “Ficamos muito felizes, principalmente porque foi um tipo de humor no qual a gente a



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