Talentos que vêm do berço

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Isadora Almeida

Raquel quer se profissionalizar em sapateado e também pensa em ser atriz no futuro. Foto: Andréa Iseki

Apesar de jovens, tanto a menina Raquel Carlotti, de Santo André, quanto o garoto Felipe Amorim, de Mauá, começaram desde pequenos a exercer atividades que hoje consideram importantes e que podem virar profissão no futuro. Pelos padrões estabelecidos, as garotas geralmente brincam de boneca e sonham com carreiras de atriz ou cantora. Já os meninos gostam de carrinhos, videogames e alimentam o desejo de seguir no esporte, especialmente como jogadores de futebol. Com esses dois pequenos moradores do Grande ABC não foi diferente. O contraste reside no fato de levarem o sonho adiante e, com poucos anos de vida, já alcançarem alguns de seus ideais, servindo de exemplo para pessoas de todas as idades.

MENINA PRODÍGIO

Aos 10 anos, Raquel Carlotti acumula em seu currículo trabalhos realizados desde os 5 de idade. Moradora de Santo André, a pequena atua em novelas, minisséries, musicais, casamentos e outras atrações que exigem boa voz e talento para as artes cênicas.
Raquel começou cantando o Hino Nacional em sua escola. Quando sua mãe, Iara, percebeu o talento que a cria possuía, começou a correr atrás de possíveis trabalhos na internet. Uma vizinha do prédio onde mora trabalhava no meio artístico e ajudou a garota a dar os primeiros passos na carreira. Começou como figurante, em 2008, no curta-metragem O Menino de Seis Dedos. No ano seguinte, participou dos programas Raul Gil e Eliana, além de cantar um jingle de Natal com a dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Frequentadora de aulas de canto, recebeu indicação da professora para dublar as músicas de A Princesa Sofia, um desenho do canal Disney. Também já dublou a série Dance Moms, o desenho animado Oligoquê e participou da terceira temporada de QST – Qual é o Seu Talento?, no SBT.
A menina prodígio possui uma agenda apertada. Além de frequentar o 5º ano do Ensino Fundamental, pratica aulas de canto, dança, inglês, teatro e sapateado – o preferido do momento. Também destaca que já fez aulas de balé. Quando crescer, pretende continuar cantando e dublando filmes, mas também pensa em ser atriz. Um dos momentos marcantes de sua pequena trajetória foi a entrevista que fez para o programa Eliana com a cantora Ivete Sangalo.
Tantas participações já lhe renderam algum dinheiro. “Minha mãe fez uma poupança para mim. Ela que cuida”, explica.
Para Iara Carlotti, ver Raquel trabalhando é gratificante. “Ela está aprendendo, fala muito bem em apresentações na escola, tornou-se uma pessoa desinibida, já cantou para 1.500 pessoas. Acho que qualquer profissão que ela venha a ter no futuro vai ser ótima, e servir de aprendizado.”
Raquel conta que seus amigos gostam do que ela faz. O objetivo agora é se profissionalizar no sapateado. O conselho que ela dá para as crianças que também têm vontade de cantar, dublar ou dançar é não desistir: “Se quiser realmente, nunca desista. Se não der uma vez, tente de novo, siga em frente”.

Felipe consegue escrever, comer, usar o computador e jogar videogame sem dificuldades. Foto: Andréa Iseki

SUPERAÇÃO PELO ESPORTE

Diferentemente de Raquel, Felipe Amorim nasceu com limitações. Devido a uma má formação congênita, o garoto de 12 anos não possui os braços nem as pernas, mas isso nunca foi problema para ele, que frequenta a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) desde bebê. Com 11 meses, já fazia natação para ficar mais independente. Aos 6 anos, jogava capoeira e atualmente é apaixonado por skate.
Residente em Mauá, Felipe já participou de campeonatos de natação nas modalidades livre, peito e costas. Em novembro, vai disputar o paulista. Possui três medalhas: duas de bronze e uma de ouro. Além dos esportes, cursa inglês e espanhol. “Fui o único que tirou nota 10 na minha sala em uma prova de inglês”, lembra.
A reabilitação que a AACD oferece começou com terapias, mas o esporte sempre esteve presente. Segundo a mãe de Felipe, Daniela Amorim, foi na capoeira que o filho se desenvolveu bastante. “Ele era tímido, agora já não é mais”, comenta. Mas a modalidade favorita no momento é mesmo o skate. “Ganhei meu primeiro skate aos 3 anos, mas com 7 eu dei para meu colega porque não andava muito. No começo do ano, vi um e fiquei com saudade, ganhei de aniversário e a paixão foi crescendo. Estou praticando algumas manobras, e penso em competir”, diz Felipe.
Quando ficar mais velho, o garoto pretende tornar-se skatista profissional. Mas é ponderado em suas expectativas. Caso o esporte não dê certo, quer trabalhar com Direito. Um de seus sonhos é viajar para o Exterior, coisa que nunca fez.
Segundo o futuro atleta, as únicas dificuldades são para ir ao banheiro e se vestir. No mais, Felipe escreve, come, joga videogame e usa o computador sozinho.
Desde 2003 participa do Teleton. Em 2011, subiu ao palco para contar sua história e foi lá que conheceu Bob Burnquist, um de seus ídolos skatistas. “Perguntei quando ele ia me levar na megarrampa e ele foi simpático, disse que eu estava convidado”, lembra.
Dinâmico, o garoto já fez diversas campanhas e saiu em revistas por conta da AACD. Também foi pela associação que conseguiu próteses para as pernas, sempre por meio de doações. “Uma prótese hoje está em torno de R$ 10 mil”, comenta a mãe. Para o filho, é um pouco difícil se adaptar quando as pernas artificiais são diferentes, mas acostuma-se rapidamente, em torno de cinco dias.
Sua rotina é frequentar as aulas do 6o ano do Ensino Fundamental e visitar a AACD três vezes por semana. Às segundas, faz terapia ocupacional, natação e academia; às quartas, pratica capoeira, natação, academia e estuda inglês; às sextas, natação e academia.
Com o quarto repleto de itens do Corinthians, ele garante ser torcedor, mas não dá muita bola porque o foco é o skate.



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