A tarde é dela

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Isadora Almeida

Sônia Abrão se formou em jornalismo e sonhava em ser correspondente internacional. Foto: Tiago Silva

Simpática, moderna e ousada. Assim é a apresentadora do programa A Tarde É Sua, da Rede TV!, Sônia Abrão. Da mesma maneira que descreve a programação como factual, polêmica e eclética, a jornalista não poupou palavras para falar de sua vida, tanto profissional como pessoal, à equipe da Dia-a-Dia. Só não consegue explicar o que a levou a seguir a profissão, mas sabe que desde pequena era o que almejava ser. Em sua época de faculdade, sonhava em virar mochileira e correspondente internacional para cobrir guerras, mas o destino não reservou reportagens bélicas para ela. Pelo menos, não no fiel sentido da palavra.
Paulistana, Sônia começou em jornais e hoje permanece na televisão. Também atuou por dez anos na Rádio Capital, dando voz a um programa com cinco horas de duração. De lá, ia direto gravar mais quatro horas para o A Tarde É Sua, mas a maternidade falou mais alto. “Tive de optar porque, na época, meu filho era pequeno. Escolhi a TV, que era uma hora a menos. Foi o que pesou na decisão.”
Antes de se consagrar na telinha, participou como convidada nos programas de Hebe e Silvio Santos, foi júri do Cassino do Chacrinha (1982-1988) e desfilou para o Faustão no Perdidos na Noite (1984-1989). Apesar de continuar nas telinhas, confessa que prefere escrever: “Gosto de coisas diárias, escrever me faz muita falta. Aí, faço livros ou vou para a internet. Não gosto desse lance de imagem na TV, da mentalidade de se colocar em um pedestal e se achar a melhor coisa do mundo”. O que a cativa na TV é a repercussão de nível nacional, que rádio e jornal não conseguem atingir.
Por muitas vezes, a programação de Sônia foi criticada por abordar futilidades, mas a apresentadora defende a grade com o mesmo ímpeto de seus comentários televisivos. “Meu programa é absolutamente factual, discute a realidade, cobre acontecimentos, está nas ruas e ouve vários segmentos da sociedade. Se isso não for jornalismo, não sei o que é”.
É bem verdade que fofocas sobre artistas também lhe elevam a audiência, mas considera que as novelas levantam a discussão sobre retratos de comportamento e chega a convidar psicólogos para analisar personagens e explicar de onde vem a empatia do público. “Acaba sendo um jornal ou revista. Assim como eles têm cadernos e editorias, nosso programa também tem no dia a dia”, defende Sônia, lembrando que o formato tem suas fases.
O telespectador provavelmente lembra-se bem do período em que o A Tarde É Sua passou a pautar inúmeros crimes, levando a apresentadora a acumular o apelido de Coveira. “Do caso Isabella Nardoni para cá, fiquei uns cinco anos tratando desse tipo de matéria. Por isso que falo: o programa é muito factual; sempre discutimos o que está nas manchetes”, explica.
Com o caso da andreense Eloá Pimentel – considerado o mais longo sequestro em cárcere privado registrado no Estado de São Paulo –, não foi diferente. Sônia conseguiu falar por telefone com o assassino Lindemberg Alves ao vivo, por cerca de 20 minutos. A polêmica foi tanta que chegaram a comparar o crime com um reality show, uma vez que o cárcere teve o período de três dias e quase todas as mídias acompanharam o caso ao vivo. Mas a apresentadora acredita que não interferiu na circunstância: “Ele fez uma coisa muito importante, que foi passar informações do que estava acontecendo dentro daquele apartamento e ninguém sabia”, destaca, lembrando que foi Lindemberg quem quis falar com o programa. “Foi engraçado, porque todo mundo se serviu da nossa entrevista, mas depois meteram o pau, motivados por figurões que levaram o furo de reportagem.”
Ainda sobre Eloá, a jornalista afirma que consta nos autos do processo que o único momento em que Lindemberg pensou em se entregar foi o dia no qual conversou com ela. “E eu fui a última pessoa a falar com Eloá.”
A apresentadora faz questão de destacar também a recente reportagem sobre o caso Hopi Hari, quando uma adolescente de 14 anos morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel. Ao entrevistar os pais da vítima, descobriram uma câmera fotográfica com imagens do dia no parque. “As fotos mostravam claramente que ela não estava no assento que disseram; que havia um monitor falando e que ela não estava com o cinto. O Jornal Nacional conseguiu duas fotos. A gente tinha sete!”, recorda com entusiasmo.

 

A apresentadora revela a última conversa de família que teve com o cantor Chorão. Foto: Tiago Silva

LUTO

Embora esteja acostumada a abordar fatalidades com desenvoltura, Sônia foi abalada recentemente por dois momentos difíceis. No dia de seu aniversário, no ano passado, seu pai, Benedito Abrão, morreu de gripe suína, aos 84 anos. Emocionada, ela reconhece que nunca conseguirá encarar a morte de maneira natural. “Não tenho mais aniversário, né? Algumas pessoas colocaram notas dizendo que eu estava comemorando. Onde? No crematório? Eu não superei nem um pouco.”
Sobre o falecimento de Alexandre Abrão, o Chorão da banda Charlie Brown Jr., em março deste ano, a jornalista revela a conversa que tivera com o primo: “No dia do velório do meu pai, ele começou a falar da vida, que não aguentava mais. Cantava para uma multidão, mas se sentia muito sozinho (o vocalista havia se separado da mulher). Falou para a gente se ver mais, combinar de almoçar, ligar... E ele ligou mesmo, mas era difícil nos encontrarmos; a vida dele era uma correria”.
Logo depois, Chorão gravou o disco La Família 013 e tirou férias, ficando mais solitário ainda. “Ele ficou sozinho de verdade, porque não estava fazendo shows. Deu sinais naquele dia de que estava com depressão. Tinha a metade da idade de meu pai.”
Com olhos marejados, Sônia recorda que foi ela quem escolheu a alcunha de Alê. Também foi madrinha do primeiro casamento de Chorão, que chegou a morar em sua residência. Criados juntos, eram mesmo uma família. “Achei q



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